11 Outubro 2024
Um estudo publicado nesta quarta-feira (9) concluiu que furacões tão intensos quanto o Helene, que causou a morte de mais de 230 pessoas nos Estados Unidos, são hoje cerca de 2,5 vezes mais prováveis na região devido às mudanças climáticas. As temperaturas elevadas do oceano, que alimentaram o furacão, tornaram-se de 200 a 500 vezes mais prováveis. O estudo também indica que, devido ao desequilíbrio do clima, a velocidade dos ventos do Helene na costa da Flórida foi aproximadamente 11% mais intensa, enquanto as chuvas aumentaram ao menos 10%.
A reportagem é de Priscila Pacheco, publicada por Observatório do Clima, 09-10-2024.
“Como resultado do aquecimento causado pelo [uso] de combustíveis fósseis, o furacão despejou cerca de 10% mais chuva, criando cenas apocalípticas no sudeste dos EUA. Se a humanidade continuar queimando combustíveis fósseis, os Estados Unidos enfrentarão furacões ainda mais destrutivos”, afirma Ben Clarke, coautor do estudo e pesquisador no Imperial College London, na Inglaterra.
A pesquisa, realizada pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês), combinou três métodos distintos para a atribuição de eventos climáticos extremos e uma análise de vulnerabilidade e exposição.
Helene começou a se formar no Mar do Caribe por volta de 22 de setembro. Ao atravessar o Golfo do México, onde a temperatura da superfície do mar está cerca de 2°C acima da média, transformou-se em furacão no dia 25. Em poucas horas, passou da categoria 2 (com ventos de 154 a 177 km/h) para a categoria 4 (com ventos de 209 a 251 km/h). No dia seguinte, atingiu a costa da Flórida com ventos de 225 km/h. A força de Helene gerou uma maré de tempestade recorde de até 4,5 metros, inundando áreas costeiras. O furacão seguiu por terra, provocando chuvas torrenciais que inundaram a Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Tennessee e Virgínia.
“Helene é um lembrete trágico de que não são apenas as áreas costeiras que são vulneráveis aos impactos de ciclones tropicais e furacões. Tempestades mais úmidas e mais fortes representam uma ameaça crescente em regiões mais distantes da costa”, alerta Gabriel Vecchi, coautor do estudo e professor na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. “É essencial que a sociedade não apenas se adapte, mas também reconheça que o aquecimento futuro e os impactos climáticos dependerão das decisões que tomarmos agora. Se reduzirmos significativamente as emissões de gases de efeito estufa, facilitaremos para as gerações futuras”, completa.
O furacão Helene danificou centenas de estradas, complicando a atuação dos serviços de emergência. Além de interromper o fornecimento de água, deixou mais de dois milhões de usuários sem energia elétrica. No domingo (6), a Agência Federal de Gestão de Emergências dos Estados Unidos (Fema, na sigla em inglês) divulgou que mais de 10% da interrupção de energia ainda precisava ser resolvida, e quase 20% das redes de celular permaneciam inativas. A agência também informou que a assistência federal para os sobreviventes já havia ultrapassado US$ 137 milhões.
Em maio, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa) alertou que havia uma chance de 85% de a temporada de furacões no Atlântico, de 1º de junho a 30 de novembro, ser acima da média. De oito a 13 tempestades poderiam se transformar em furacões, quando a velocidade dos ventos é de pelo menos 119 km/h. Até agora, nove já foram registrados: Beryl, Debby, Ernesto, Francine, Helene, Isaac, Kirk, Leslie e Milton. Este último foi a segunda tormenta de categoria 5 (a maior na escala Saffir-Simpson, que mede a força de furacões) da temporada. Ele segue ativo e deve atingir a Flórida entre o fim da noite desta quarta-feira (9) e o início da manhã de quinta-feira (10). Segundo a Noaa, Milton tem o potencial de ser um dos furacões mais destrutivos já registrados no centro-oeste da Flórida, e na segunda-feira levou às lágrimas um apresentador do tempo de uma TV do sul do estado que mostrava imagens de satélite de sua trajetória.
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