08 Outubro 2024
Quando os leigos dão sua opinião sobre a liturgia, eles dizem sobretudo que a homilia da missa os deixa indiferentes. É um tipo de discurso particularmente difícil. Mas a impressão é de que muitos padres muitas vezes não se preparam.
O comentário é de Alberto Carrara, presbítero da Diocese de Bérgamo, na Itália. O artigo foi publicado em La Barca e il Mare, 28-09-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A homilia “não diz nada”. É um lamento que se ouve com frequência. Dizem-me também que, nos documentos nascidos nas primeiras fases do Sínodo, na Diocese de Bérgamo, é um dos refrões mais insistentes.
O problema com um lamento desses é mais significativo do que parece. A homilia não diz nada, mas é a própria missa que não diz nada. Na verdade, existe uma espécie de identificação de fato entre a missa e a homilia. Não total, é claro: todos sabem que a homilia não é a missa. Mas uma “boa homilia” acaba por “salvar” até mesmo uma missa mais ou menos. Haveria muito a ser dito sobre isso. Mas, é claro, o público moderno, acostumado a uma invasão cotidiana de palavras, julga a liturgia sobretudo pelas palavras.
As pessoas acostumadas com muitas palavras custam a apreciar as palavras pobres da pregação.
O rito, aquele que vem antes e depois da homilia, mesmo que não seja perfeito, é aceito porque, afinal, é a “minha missa”: o rito, mesmo que não bonito, ainda é o rito mais próximo. Além disso, o rito é “dado”, é o que é. O padre não pode fazer muita coisa (também sobre isso haveria muito a ser dito, e muito já foi dito: não é indiferente o modo “como” as palavras fixas do rito são ditas e, sobretudo, não é indiferente o modo como são feitos os gestos que o rito prevê…).
Mas a homilia é o evento litúrgico de palavras mais evidente e o mais exposto. E, principalmente por isso, é um problema. Mas, como acontece com todos os outros problemas que dizem respeito à Igreja, não se fala sobre isso ou se fala pouco. Ou, melhor, tem-se a sensação de que, quanto mais grave é o problema, menos se fala dele.
A homilia é o momento em que a liturgia se abre à vida, é o evento de ligação: que relação existe entre a Palavra ouvida – o Antigo Testamento, o Novo Testamento, o Evangelho – e a nossa vida pessoal, familiar, profissional, a política, a economia... Enquanto celebramos, pensamos em como devemos viver. A homilia é uma pretensiosa palavra sobre o fazer, necessária e arriscada.
É necessária porque a liturgia não pode permanecer fechada dentro dos muros reconfortantes da Igreja, mas é arriscada porque é um evento em equilíbrio. De fato, ela corre o risco de permanecer apenas uma palavra, prisioneira de si mesma. Ao invés disso, deve se tornar palavra sobre a Palavra, mas, ao menos tempo, dar-nos o impulso para se tornar vida, Palavra vivida.
Pode-se dizer a mesma verdade observando que a homilia é difícil porque é o aspecto mais evangélico da liturgia. De fato, o Evangelho também não é apenas uma palavra vazia, mas uma palavra plena, que diz o sentido da vida do ser humano, narrando a vida maravilhosa, os ditos e os feitos de Jesus de Nazaré, Palavra que se faz carne. A homilia é o prolongamento do Evangelho. Mas o Evangelho, precisamente por isso, é difícil. E a homilia é tão difícil quanto o Evangelho.
Neste ponto, haveria algo a ser dito – e muito – sobre o papel dos padres nisso, que contribui fortemente para distorcer a homilia. “Os padres” não, desculpem: alguns padres. Muitos (?) não se preparam, dizem coisas aproximadas, muitas vezes mais coisas deles mesmos do que do Evangelho, fazem muito moralismo e não conseguem dar o sentido maravilhoso da novidade evangélica. É uma palavra sem maravilha.
E o problema final e sintético é que muitas vezes os padres não “ouvem” e, não ouvindo, não fazem ouvir. Neste ponto, todos se dão conta de que a homilia é um fenômeno humano e, como todos os fenômenos humanos, denuncia fortemente suas próprias fragilidades, ainda mais evidentes porque é uma palavra humana que tem a pretensão de anunciar uma Palavra muito elevada e exigente.
É sempre muito difícil fazer o céu descer à terra. Ou, o que não é muito diferente, relatar uma narrativa que conta como o céu já desceu à terra, há muito tempo, em um ser humano da nossa humanidade.