04 Outubro 2024
"Nós não queríamos mais algumas iniciativas, queríamos uma Igreja diferente. Mas, em vez disso, permaneceu a mesma: aliás, um pouco mais triste, um pouco mais desorientada, cada vez mais distante", escreve Paola Bignardi, pedagoga, ex-presidente da Ação Católica, em carta publicada por Avvenire, 02-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
As expectativas das novas gerações em relação à Igreja, a decepção que leva a sair. Mas há um afeto que permanece.
Caros padres sinodais, hoje começa o Sínodo. Cabe se perguntar quantos entre os jovens que estão passando por suas primeiras semanas de escola ou universidade nos dias de hoje se darão conta. E menos ainda se darão conta aqueles que estão às voltas com o trabalho – seja que o tenham seja que não o tenham - ou com os vários problemas e questionamentos da vida. Vivem, vivemos, em outro mundo. A maioria de nossos amigos acha que a Igreja é velha: velha é sua linguagem, seu estilo de relações, sua visão da vida. Não pensem que isso é desprezo: é a nossa maneira de amar a Igreja, da qual muitos de nós se afastaram quase que por um amor traído. A maioria de nossa geração frequentou escolas dominicais e paróquia; foram anos lindos em que desfrutamos de um estar com os amigos sereno e leve, exceto o peso daquela hora de catequese ou da missa dominical, em que a despreocupação por estarmos juntos era substituída pelo tédio de uma experiência que não nos tocava. Somos gratos por aqueles anos, mas hoje nos parecem uma promessa não cumprida.
Quando crescemos, vocês não conseguiram mais conversar conosco, ouvir nossas perguntas, acolher nossas inquietudes. Foi suficiente para vocês nos acompanhar até os primeiros sacramentos? Não pensaram que ainda havia mais por vir? Deixaram-nos sozinhos para enfrentar uma vida com a qual seus ensinamentos não conseguiam entrar em diálogo. Sabemos que vocês teriam gostado que continuássemos a frequentar a comunidade cristã, mas vocês se tornaram estranhos. Sua maneira de pensar a vida era a de nossos avós! Não nos sentimos em casa nessa Igreja. Por outro lado, vocês também nos excluíram. Quantos jovens participam de sua assembleia? Podemos imaginar sua resposta: o Sínodo é aos bispos, as questões em pauta dizem respeito à organização interna da Igreja... Vocês acham que não teríamos algo a dizer? Nós, que experimentamos na comunidade cristã relações pouco envolventes, em nada corresponsáveis, pouco dialógicas e pouco inclusivas; que vimos com que facilidade a autoridade se transforma em poder que humilha. O Papa Francisco exorta a Igreja a sair. Nós saímos, mas ninguém veio nos procurar, nem nos perguntar por que saímos. Se continuarem a construir uma Igreja sem a gente, será na medida de sua sensibilidade de adultos, ou de idosos, será cada vez menos nossa também, e nós nos sentiremos cada vez mais alheios e, a longo prazo, estrangeiros.
O Sínodo sobre a juventude havia despertado muitas esperanças em nós, o Papa Francisco queria nos ouvir.
Mas então houve um mal-entendido: nós não queríamos mais algumas iniciativas, queríamos uma Igreja diferente. Mas, em vez disso, permaneceu a mesma: aliás, um pouco mais triste, um pouco mais desorientada, cada vez mais distante. Continuamos a ver uma Igreja voltada para si mesma e para seus problemas, enquanto dentro de nós e ao nosso redor urge uma demanda de vida, de sentido e de futuro.
No início desta carta, dissemos que nossa saída tinha sido um ato de amor. Inexplicável? Esperamos que o nosso distanciamento seja uma forma, talvez rude e decisiva demais, de sinalizar uma situação de crise que não pode mais ser adiada, como o Papa Francisco também declarou em sua viagem à Bélgica. E que essa consciência lhes dê a audácia e a criatividade de decisões capazes de rejuvenescer essa Igreja que nós também amamos.
Por isso, oramos ao Espírito, em quem continuamos a crer; e desejamos a vocês um bom trabalho!
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Uma promessa não cumprida. Cartas dos jovens ao Sínodo. Artigo de Paola Bignardi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU