19 Setembro 2024
Ministra afirma que, além do trabalho para o controle das queimadas, governo investiga mandantes.
A reportagem é de Gilson Camargo, publicada por ExtraClasse, 17-09-2024.
Além das ações de combate aos incêndios que atingem diversos estados brasileiros, o governo federal atua para investigar e punir os mandantes das queimadas, afirmou na manhã desta terça-feira, 17, a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva.
A ministra estaria no Rio Grande do Sul para participar de uma plenária do Plano Clima Participativo sobre o Bioma Pampa, na Faculdade de Educação da Ufrgs, mas a agenda na noite de segunda-feira, 16, foi cancelada. O encontro reuniu representantes do Ministério, lideranças e entidades ligadas ao clima no estado para debater as estratégias de enfrentamento ao aquecimento global que irão nortear a política climática do país até 2035.
Marina, que já estava no aeroporto de Guarulhos rumo à Base Aérea de Canoas, foi convocada às pressas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido ao agravamento das queimadas que se generalizaram pelo país. Em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) nesta manhã, ela subiu o tom contra os incêndios criminosos.
Segundo a ministra, diante da pior estiagem em 75 anos, todos os estados e o Distrito Federal possuem decretos proibindo o uso controlado do fogo para manejo e limpeza de áreas e, por isso, qualquer incêndio provocado por ação humana é considerado criminoso. “Neste momento qualquer incêndio se caracteriza como incêndio criminoso. Há uma proibição do uso do fogo em todo território nacional”, enfatizou.
Marina lembrou que os últimos estados que fizeram decretos de proibição do fogo foram Rondônia e o Pará. O Ministério do Meio Ambiente, desde meados de abril havia estabelecido o alerta para que os estados decretassem a proibição do fogo. “Nós estamos vivendo uma seca severa, praticamente em todo o território nacional, e essa proibição caracteriza qualquer incêndio que está sendo feito contraria à lei, isso caracteriza crime”, afirmou.
De acordo com Marina Silva, das 27 unidades da federação, apenas dois estados não estão em situação de seca: Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A ministra destacou o trabalho dos órgãos para o combate aos incêndios e as ações de inteligência para identificar os mandantes das queimadas.
“Para além do trabalho que vem sendo feito de enfrentamento do fogo pelo Ibama, pelo ICMBio, pelo Corpo de Bombeiro dos estados, o apoio de todas as forças que estão sendo mobilizadas, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, nós temos um esforço que precisa ser feito na direção da investigação. Neste momento, a Polícia Federal tem 52 inquéritos abertos”, completou. Marina afirmou que o presidente Lula ligou para o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, solicitando suporte legal “para que essa investigação possa acontecer com mais velocidade”, acrescentou.
“E temos aí toda uma articulação que vem sendo feita pelo ministro (da Justiça e da Segurança Pública) Ricardo Levandowski. Uma coisa importante é o trabalho de inteligência. Com o trabalho de inteligência, a gente consegue pegar inclusive quem são os articuladores, quem são os mandantes para além daquele que você viu ou por alguma razão tem um registro dele ateando fogo”, explicou a ministra
Na coletiva com radialistas de várias regiões, Marina Silva afirmou que uma área equivalente a 60% do território do país corre o risco de pegar fogo. Citou que o governo federal tem disponibilizado mais recursos extraordinários, que superam os R$ 230 milhões, aumento de quase 20% no número de brigadistas e monitoramento constante em sala de situação, para dar mais suporte às ações.
“Desde o começo, a nossa orientação foi de trabalhar em articulação, e o governo federal jamais passando a responsabilidade. O tempo todo nós atuamos, trabalhamos de forma preventiva. Agora tem uma coisa que é fundamental. Num contexto como esse, se as pessoas não pararem de atear fogo, nós estamos diante de uma situação, só para você ter uma ideia, de uma área de quase 5 milhões de quilômetros quadrados com matéria orgânica muito seca em processo de combustão muito fácil em função da baixa umidade, da alta temperatura, da velocidade dos ventos. Ou seja, é como se tivéssemos ali uma situação de risco em todo território nacional”, explicou.
“É preciso que haja ação coordenada o mais rápido possível e nós estamos trabalhando nesta direção. As medidas têm sido suficientes? Ainda não têm sido suficientes, mas estão sendo ajustadas o tempo todo, mobilizando equipes o tempo todo, aumentando a quantidade de recursos o tempo todo”, defendeu Marina. Ela lembrou que o orçamento para combater incêndios florestais foi recomposto. Saltou de R$ 60 milhões em 2022 para R$ 111,3 milhões em 2024. O número de brigadistas florestais do Ibama foi ampliado de 1.788 para 2.255. O efetivo das Forças Armadas utilizado no combate a incêndios saiu de 37 em 2022 para 1.195 em 2024.
Ao citar que a seca e as queimadas também estão ocorrendo em países do continente, como Bolívia, Peru e Paraguai, além de outras partes do mundo, a ministra afirmou que a situação no Brasil é agravada pela junção de ideologias politicas que querem negar a questão da mudança do cima, e o crime que vem sendo cometido de forma frequente em várias regiões.
“A diferença é que aqui no Brasil tem essa aliança criminosa, de uma espécie de terrorismo climático, onde as pessoas estão usando a mudança do clima para agravar mais ainda o problema. Isso é um crime contra o interesse público, contra a finança pública. É um crime que, com certeza, deve ter uma pena agravada”, afirmou Marina.
A ministra defendeu ainda que a pena para quem provoca queimadas seja ampliada e citou a possibilidade de tornar o incêndio florestal um crime hediondo.
“Obviamente que as penas hoje são inadequadas para combater àqueles que desrespeitam a lei e usam o fogo criando essa situação dramática no nosso país, porque a pena é de dois a quatro anos de prisão. Quando a pena é leve, às vezes ela é transformada em algum tipo de pena alternativa. E ainda você tem uma atitude como de alguns juízes, que relaxam completamente a pena. Ou seja, tem um crime contra o meio ambiente, um crime contra a saúde pública, um crime que está sendo praticado contra o patrimônio e a economia brasileira, e temos uma pena que é muito leve”.
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Todo incêndio será considerado criminoso, alerta Marina Silva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU