17 Setembro 2024
O jornal israelense Haaretz revelou que o Exército do país está recrutando alguns dos 30 mil refugiados africanos que buscam asilo em seu território para lutar em Gaza e, assim, obter residência permanente em Israel. As autoridades israelenses afirmam que o projeto está sendo realizado de forma organizada com os consultores jurídicos do Ministério da Defesa. "Mas sem qualquer base ética”, critica o jornal.
A reportagem é de Sami Boukhelifa, publicada por RFI, 16-09-2024.
Tudo começou em 07-10-2023, com o massacre do Hamas na fronteira de Israel. Cerca de 1.200 pessoas morreram naquele dia, incluindo três refugiados solicitantes de asilo. O país mergulhou no caos e lançou uma guerra devastadora contra o Hamas e o povo de Gaza.
Quase um ano depois, mais de 41 mil palestinos foram mortos, a maioria deles mulheres e crianças. Do lado israelense, a vida civil foi interrompida. Grande parte da população foi enviada para o Exército.
Essa mobilização geral fez com que a atividade econômica fosse também brutalmente suspensa. Os trabalhadores estrangeiros deixaram o país em massa, pois continuar em Israel se tornou muito perigoso.
Duas semanas de treinamento
Os refugiados africanos se ofereceram como voluntários para suprir a falta de mão de obra durante os combates. Alguns até expressaram o desejo de atuar diretamente na guerra. Assim, nasceu a ideia de recrutá-los e enviá-los para Gaza, conta o jornal. Após duas semanas de treinamento, o grupo foi enviado para o front.
Com isso nasceu o contingente de mercenários, que receberam a promessa de obter residência permanente em Israel. “Até hoje, nem um único solicitante de asilo africano recebeu residência permanente”, escreve o diário israelense Haaretz.
Essa não é a primeira vez que a imprensa local denuncia abusos de poder na guerra declarada contra o Hamas. Em agosto, o jornal revelou o uso de civis palestinos como escudos humanos pelo Exército israelense.
Durante muito tempo, Israel acusou o Hamas de usar civis como escudos humanos, principalmente em escolas e hospitais. Dessa vez, no entanto, os palestinos teriam sido enviados para casas e entradas de túneis danificados, com as mãos amarradas com laços de plástico, mas por soldados e oficiais israelenses, segundo a investigação conduzida pelo Haaretz.
De acordo com várias fontes, situações como essa vêm ocorrendo em toda a Faixa de Gaza. Os oficiais mais graduados, incluindo o Estado-maior do Exército israelense, estão cientes dos abusos.
Segundo o jornal, civis usados como escudos humanos foram detidos arbitrariamente, sem serem acusados de qualquer ação contra Israel. De acordo com relatos de testemunhas oculares, os soldados israelenses disseram aos civis que sua própria sobrevivência era mais importante do que a dos escudos humanos.
Em pelo menos um caso, relatado pelo Haaretz, um desses civis foi morto a tiros por homens do Hamas enquanto explorava uma estrutura subterrânea. Uma prática que parece estar se tornando cada vez mais comum. No mês passado, vídeos mostraram palestinos amarrados às capotas dos veículos israelenses durante patrulhas em cidades palestinas na Cisjordânia.
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