11 Setembro 2024
Dos 5.132 focos de incêndio registrados no país em apenas 24 horas, quase metade ocorreu no Cerrado, que ultrapassou a Amazônia nas frentes de fogo.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 11-09-2024.
Em 11 de setembro celebra-se o Dia do Cerrado. Mas está difícil comemorar. Ao contrário do que ocorre na Amazônia desde o início do governo Lula, o bioma viu o desmatamento aumentar desde janeiro de 2023. Agora também se torna foco de atenção diante dos incêndios registrados em todo o Brasil.
Em apenas 24 horas, entre 2ª e 3ª feiras (9 e 10/9), o BDQueimadas, do INPE, registrou 5.132 focos de incêndio no país. Desse número, 2.498 focos – 48,5% do total – foram registrados no Cerrado, informa o Poder 360. A Amazônia teve o 2º maior número, com 2.024 focos, ou 40% do total.
Vários pontos turísticos famosos do bioma estão sofrendo com seca extrema e fogo, mostra o Estadão. A Floresta Nacional de Brasília (DF) teve 40% de sua área queimada. No Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, próximo a Cuiabá (MT), os principais atrativos estão fechados por causa dos incêndios.
Outro atrativo do Cerrado atingido pelas chamas é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). Considerado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, a maior Unidade de Conservação do Cerrado registrou 10.000 hectares queimados até 2ª feira, relata o Correio Braziliense.
Em Goiás, desde sábado (7/9) o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar atuam em diversos incêndios florestais e prisões relacionadas às queimadas criminosas no estado, segundo a CNN. Um deles ocorreu às margens da BR-364, no município de Portelândia. A fumaça dificultou a visibilidade na rodovia, que foi interditada por quase 2 horas até que o fogo fosse controlado.
A cidade de Jataí, no sudoeste goiano, amanheceu com o céu laranja anteontem, um fenômeno relacionado à poluição do ar, de acordo com o g1. Assim como o restante do estado, Jataí vem registrando vários focos de incêndio. Devido à fumaça tóxica, muitos moradores saíram nas ruas usando máscaras e as aulas foram suspensas na rede municipal e em universidades.
Diversos incêndios têm atingido as fazendas de Rio Verde, município a 230 km de Goiânia que é considerado a “capital brasileira do agronegócio”. Vídeos nas redes sociais mostram o gado em pânico tentando escapar das chamas, mostra a CNN. E se o estado de Goiás registrou 754 focos de incêndio, Rio Verde foi a cidade mais afetada, contabilizando 115 focos, o que representa 15% do total.
Seja em florestas nativas, seja em fazendas, os incêndios recordes que assolam o país chamam atenção para as práticas criminosas de parte do setor agropecuário brasileiro. O “ogronegócio” que nega as mudanças climáticas e quer flexibilizar regras ambientais é o mesmo que põe fogo.
“Para evitar que novas tragédias como essas aconteçam, o agropecuarista precisa olhar para o passado e aprender com nossos ancestrais que sempre é possível fazer melhor. Podemos compartilhar e aprimorar conhecimentos e experiências sobre técnicas de manejo sustentável e controle de queimadas. Mas é preciso também separar o joio do trigo. Separar os agricultores que se utilizam de boas práticas dos que fazem uso criminoso do fogo fingindo-se de produtores. O uso inadequado do fogo por gente sem escrúpulos tem tido consequências devastadoras, afetando não só a produção agrícola, mas também a imagem e a viabilidade do setor como um todo”, destaca o Gigante 163.
Um só planeta e InfoMoney também trataram dos incêndios no país.
Falando em agronegócio, na semana passada, 13 membros daquilo que se convenciona chamar “agro moderno” nacional enviaram uma carta ao Ministério do Meio Ambiente propondo que o Brasil deveria abrir mão de metas mais estritas de redução de emissões de carbono. Mas, longe de ser uma pobre vítima da crise do clima, como tenta se vender, o agronegócio brasileiro é responsável por 75% das emissões de gases de efeito estufa do país, lembram em artigo na Folha Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental; Caetano Scannavino, do Projeto Saúde e Alegria; Carolina Pasquali, do Greenpeace Brasil; Délcio Rodrigues, do Instituto ClimaInfo; e Marcio Astrini, do Observatório do Clima. Assim, em vez de gastar energia para reduzir metas, o agronegócio deveria propor a retirada de pauta de todos os 25 projetos de lei e três PECs do “pacote da destruição” no Congresso e apoiar o endurecimento de penas para quem comete crimes ambientais, destacam os articulistas.
Apesar do incremento orçamentário e estrutural em relação à gestão anterior, que promoveu um desmonte no setor, as ações do governo Lula necessitam de priorização e organização mais robusta para fazer frente à atual crise de queimadas, além da mobilização de estados, municípios e Congresso, dizem especialistas ouvidos pela Folha. Já o Congresso, com forte atuação da bancada ruralista, historicamente oponente da defensora das bandeiras ambientais, reduziu a principal verba do IBAMA para prevenção e combate às queimadas de R$ 318 milhões para R$ 298 milhões. O Congresso também barrou a criação, prometida por Lula, de uma autoridade climática, o que mantém a gestão ambiental federal descentralizada e muitas vezes atropelada por prioridades de outras pastas.
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Dia do Cerrado: bioma rivaliza com Amazônia em número de incêndios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU