31 Agosto 2024
A organização não governamental Mediterranea Saving Humans está no mar para uma nova missão com o navio Mare Jonio, acompanhado por três dias pelo veleiro da Fundação Migrantes, órgão pastoral da Conferência Episcopal Italiana. Navegando desde sexta-feira, ontem a ONG atracou em Pozzallo após o terceiro resgate de migrantes. No Mare Jonio está o capelão de bordo, o padre Mattia Ferrari.
A entrevista é de Federica Rossi, publicada por Il manifesto, 27-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pode nos falar sobre a missão atual, a de número 18?
Houve três resgates. No primeiro, nossa equipe estabilizou o barco em perigo distribuindo coletes salva-vidas e, em seguida, a Guarda Costeira levou as pessoas a bordo. No segundo, levamos as pessoas a bordo, a Guarda Costeira italiana se juntou a nós e as transportou para Lampedusa. No terceiro, nós os interceptamos, resgatamos e desembarcamos no porto de Pozzallo, que nos foi designado pelas autoridades italianas. Resgatamos um total de 182 pessoas.
Quais foram as figuras ativas nas operações?
A grande novidade dessa missão é o veleiro de apoio. Não é uma novidade em si, porque sempre o tivemos, mas o fato de que foi equipado pela Fundação Migrantes para fins de observação, monitoramento e informação. O resgate é uma atividade técnica que é realizada de acordo com procedimentos precisos e é de competência da nossa equipe de resgate, saúde e acolhimento. O acréscimo do veleiro de apoio serve como suporte.
Também estará envolvido no futuro?
O barco montado com a Migrantes é apenas uma etapa em um caminho entre a ONG Mediterranea e a Igreja, um caminho que existe há tempo. Ser uma plataforma que une mundos faz parte da identidade mais profunda e estrutural da Mediterranea. Mundos até muito distantes, desde a Igreja aos centros sociais e ao associativismo. A relação da Mediterrânea com a Igreja faz parte do empenho de ambas de não se resignar com a desumanidade, de trabalhar pela justiça e pela fraternidade. A Mediterranea também optou por caminhar com a Igreja desde o início, desde o início tem um capelão, um serviço que eu presto há cinco anos. Houve encontros nas paróquias, com o associativismo escoteiro, iniciativas de todo tipo.
Você recebeu do Pontífice uma mensagem de bons votos para a missão, mas vários grupos fizeram duras críticas à relação ONG/Igreja.
Não existe escândalo, pois a Igreja está cumprindo sua função e é o Evangelho que a guia. A Igreja responde somente a Jesus. Reitero, também, que o barco Migrantes foi equipado com o propósito de monitorar e informar. É importante não confundir suas funções.
Sair com o Migrantes é uma resposta aos ataques sofridos pela Mediterrânea em relação ao financiamento recebido pelas dioceses?
Não, em vez disso, é uma resposta ao Evangelho. É uma etapa em um caminho de compartilhamento e colaboração entre a ONG e a Igreja, que começou há anos e que está crescendo e se expandindo progressivamente. Quanto aos ataques, a única resposta são os comunicados e as ações judiciais por difamação agravada, para que aqueles que conduziram aquela operação respondam por ela perante as instituições competentes. Como foram escritas coisas que consideramos injuriosas, é bom que um juiz restabeleça a verdade.
Também foram feitas críticas ao envolvimento do avião civil de observação Colibri da Pilotes Volontaires (ONG francesa envolvida em operações SAR que sobrevoa o Mediterrâneo).
A Mediterranea no mar não está sozinha, somos uma grande família: a frota civil. Mais de vinte realidades autônomas que se coordenam para monitorar e socorrer.
Quais são os valores que o levam ao mar com a frota civil?
Na Mediterranea, todos nós temos ideias e culturas diferentes, mas estamos unidos pelo amor em querer ajudar as pessoas, para dar corpo ao valor político da fraternidade. Há aqueles que nos criticam, mas não somos contra ninguém. Se há irmãos e irmãs que correm o risco de serem capturados no mar e enviados de volta a lugares de tortura, decidimos agir. Se você tiver amor em seu coração, não pode ficar parado. Trabalhamos para garantir que o amor não seja um sentimento abstrato, mas que se torne uma força que fecunde a civilidade.
Você teve a oportunidade de ouvir as pessoas resgatadas?
Elas estão muito debilitadas. Na segunda intervenção, os náufragos estavam no mar há três dias. Todas vinham da Líbia com sinais claros de tortura. Mas em seus olhos eu vi ainda muita esperança de poder ter uma vida digna.
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A bordo com o padre Mattia, o capelão da ONG 'Mediterranea Saving Humans' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU