29 Agosto 2024
"Com uma cultura impressionante, além de seus estudos na Grécia, Alemanha e França, Yannaras recebeu inúmeros prêmios de várias instituições acadêmicas em todo o mundo. Foi o mais pensador ortodoxo mais presente em congressos ecumênicos das últimas décadas", escreve Michelina Tenace, teóloga italiana, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 26-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Christos Yannaras morreu em 24 de agosto. Tinha nascido em Atenas em 10-04-1935. Casado e com dois filhos, escrevia e recebia amigos em seu apartamento ensolarado no bairro ateniense de Nea Smyrne. Yannaras foi um pensador ortodoxo sempre em busca da “palavra” certa, à altura para falar da beleza do tropos cristão, ou seja, à altura daquele modo de existência que está de acordo com a “natureza”, aquela natureza criada por Deus para ser parte Dele.
Com uma cultura impressionante, além de seus estudos na Grécia, Alemanha e França, Yannaras recebeu inúmeros prêmios de várias instituições acadêmicas em todo o mundo. Foi o mais pensador ortodoxo mais presente em congressos ecumênicos das últimas décadas. Estimado e contestado, Yannaras é considerado “uma das mentes mais brilhantes da teologia neogrega” (Spiteris, p. 298). Sua linguagem “rompe com os esquemas tradicionais”, tanto que ele nunca pôde ensinar teologia na faculdade de teologia de Atenas (cf. Spiteris, p. 320). No entanto, é membro da Sociedade Grega de Autores. Ele publicou mais de 50 livros, traduzidos para vários idiomas. Como muitos pensadores ortodoxos (Berdjaev, que o fascinou em sua juventude), Yannaras é um teólogo filosófico que escreve para um público “leigo” que não poupa ao esforço de uma leitura exigente.
Uma das censuras feitas a ele é sua crítica ao Ocidente. Na verdade, ele defendia que queria indicar os limites de um cristianismo que se afirmou no mundo como cultura do conceito, como religião moral, como espiritualidade desencarnada. Sua atitude crítica em relação ao Ocidente manifesta, portanto, mais “a convicção de que a verdade e a vida da Igreja indivisa dos primeiros oito séculos podem ser um fermento de salvação para a massa morta do mundo” (Yannaras, La libertà dell'ethos, Magnano, 2014, p. 6).
Sua crítica como convite para redescobrir as fontes comuns do primeiro milênio esteve paradoxalmente a serviço do caminho de unidade das Igrejas. Yannaras indica a necessidade da reforma de todas as comunidades, “para além dos eventos históricos e das classificações de fidelidade”, porque católicos e ortodoxos, como cristãos, são chamados a ser “manifestação na história do modo de ser de Deus, experiência infinita de liberdade em uma inesgotável comunhão de amor” (Petra, p. 15). No prefácio do livro de Yannaras Ignoranza e conoscenza di Dio, Olivier Clément escreve que a obra de Yannaras apresenta uma “teologia grega criativa de alcance universal” (Milão, 1973, p. 9). Convencido de que o conhecimento de Deus é comunal porque ocorre de acordo com a liberdade do amor, Yannaras tornava os encontros com ele verdadeiros “eventos de amizade”, como ele gostava de dizer. Na amizade, o diálogo autêntico é possível quando, na diferença entre os pensamentos, acontece a comunhão entre as pessoas.
Yannaras foi amigo e contemporâneo de Ioannis Zizioulas (bispo teólogo, 1931-2023) e de Basílio de Iviron (Vassilius Gondikakis, nascido em 1936), monge de Athos, por muito tempo hegúmeno do mosteiro Stavronikitas. O leigo, o monge, o bispo - três amigos que transmitiram a vida e uma visão da Igreja para os tempos vindouros. “A relação é a maneira pela qual conhecemos a verdade, é a maneira pela qual participamos da comunhão do que cada um de nós constata, e é a maneira pela qual a existência se realiza e se manifesta” (Yannaras, última frase da contribuição para a sinodalidade).
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Uma das mais brilhantes mentes da teologia neogrega. Artigo de Michelina Tenace - Instituto Humanitas Unisinos - IHU