Por que a ofensiva da Ucrânia na Rússia alarmou o Vaticano?

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22 Agosto 2024

  • São acontecimentos muito preocupantes, porque significam a abertura de novas frentes. Nesse sentido, as possibilidades de paz se afastam cada vez mais.

  • A novidade é que a preocupação de Parolin com a incursão ucraniana na Rússia e seus efeitos sobre o processo de paz ainda não foi respondida por Kiev.

  • Isso continua deixando aberta a possibilidade de que a diplomacia vaticana possa continuar tecendo o que outros desmancham, e é um sinal de que Zelensky também não descarta que essa opção seja necessária.

A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 20-08-2024.

“Atualmente, nossas forças controlam mais de 1.250 quilômetros quadrados do território de Kursk e 92 assentamentos”. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mostrava-se satisfeito nesta segunda-feira, 19 de agosto, com os resultados da incursão surpresa iniciada pelas tropas ucranianas em território russo no dia 6 de agosto, uma jogada estratégica que desconcertou o líder russo Vladimir Putin e alarmou o Vaticano.

“São acontecimentos muito preocupantes, porque significam a abertura de novas frentes. Nesse sentido, as possibilidades de paz se afastam cada vez mais”, assinalava em Assis, no dia 11 de agosto, em resposta às perguntas dos jornalistas, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.

O cardeal demonstrava esse pessimismo algumas semanas após voltar de uma missão de grande importância na Ucrânia, a princípio com uma motivação religiosa, para encerrar uma peregrinação ao Santuário Mariano de Berdychiv, a oeste de Kiev, onde teve a oportunidade de visitar Odessa, Lviv e a capital, onde se encontrou com o próprio Zelensky, a quem expressou a solidariedade de Francisco com a Ucrânia e o compromisso do Vaticano com “uma paz justa e duradoura”.

Ao regressar, Parolin, em entrevista ao jornal Avvenire, reivindicou que “a atenção da comunidade internacional deve se manter alta sobre esta guerra na Europa. Não podemos permitir que se torne mais um conflito esquecido. Portanto, temos que continuar apoiando a Ucrânia do ponto de vista humanitário. E depois temos que ser criativos para encontrar fórmulas que favoreçam o início de caminhos de paz”.

A diplomacia em segundo plano

Nessa mesma entrevista, o secretário lamentava que “a diplomacia passou para um segundo plano. Foi incapaz de oferecer soluções. E, de fato, infelizmente, depois de mais de dois anos, a guerra continua”, embora tenha defendido o papel da diplomacia vaticana: “Não temos mais armas”, sustentou.

Agora, essas afirmações são confirmadas, dois anos e meio após a invasão russa à Ucrânia, pelo golpe de mão das tropas comandadas por Zelensky, o que espalha o pessimismo no chefe da diplomacia vaticana.

E lhe dá razão ao afirmar que a diplomacia, neste momento, foi relegada e que todos os tímidos avanços registrados em todos esses meses - incluindo a plataforma pela paz impulsionada por Zelensky, da qual a Rússia não faz parte, algo que o próprio Parolin também lamentou - parecem condenados ao fracasso.

O que é realmente novo é que a preocupação de Parolin com a incursão ucraniana na Rússia e seus efeitos sobre o processo de paz ainda não foi respondida por Kiev. O que, no fundo, continua deixando aberta a possibilidade de que a diplomacia vaticana - também de mãos dadas com o cardeal Matteo Zuppi - possa continuar tecendo o que outros desmancham, e é um sinal de que Zelensky também não descarta que essa opção possa ser necessária.

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