16 Agosto 2024
"Tanto entre os israelenses quanto entre os palestinos, há indivíduos, grupos e associações comprometidos com a criação de canais de diálogo com o 'inimigo'", escreve Paolo Naso, sociólogo italiano da Comissão de Estudos da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália e professor da Universidade de Roma “La Sapienza”, em artigo publicado por NeV, 04-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há alguma luz no túnel escuro da guerra no Oriente Médio? Os últimos acontecimentos no conflito entre israelenses e palestinos não oferecem nenhum elemento de esperança; pelo contrário, permitem previsões dramaticamente sombrias.
Grande parte dos reféns israelenses de 7 de outubro ainda está nas mãos do Hamas; a retaliação israelense produziu mais de 35.000 vítimas entre os palestinos; o míssil do Hezbollah contra a aldeia israelense nas Colinas de Golã reabriu outra frente de guerra, no norte; o atentado no Irã contra Ismail Haniyeh, o líder político do Hamas, o homem que estava negociando uma trégua, prevê a retaliação iraniana contra Israel.
Enquanto isso, grande parte da população israelense vive aterrorizada pelos mísseis e pelos atentados, todos os palestinos de Gaza são vítimas de manobras militares maciças que não poupam civis, hospitais, escolas, aquedutos. E tudo isso é conhecido, reconhecido, admitido e até mesmo reivindicado como um direito. De um lado e de outro chegam mensagens de ódio e ameaças de vingança, retaliação e mais violências.
É difícil pensar em um cenário mais sombrio e dramático.
Mas é possível que não haja ninguém que diga não a essa lógica? Na década de 1980 e no início dos anos 2000, na época das intifadas, tanto entre os israelenses quanto entre os palestinos haviam se mobilizado grupos de homens e mulheres que queriam a paz, e imediatamente.
Lembramos de grandes romancistas, como Amós Oz ou David Grossman; de movimentos como o Peace Now e, no campo palestino, da ação de Mubarak Awad - definido como o Ghandi palestino - mais tarde expulso e hoje morando nos EUA; ou dos grupos pacifistas que, em Beit Sahur, nos territórios ocupados, experimentaram uma longa luta não violenta, recusando-se a pagar impostos e boicotando os produtos israelenses. Experiências e testemunhos distantes no tempo que, no entanto, rompiam a compactação dos muros do ódio entre dois povos destinados a viver lado a lado.
E hoje? Pouco ou nada vaza das mídias, e a imagem que nos é dada é a de duas frentes compactas e unidas pelo ódio mútuo e pelo apelo à guerra.
Não é assim. Tanto entre os israelenses quanto entre os palestinos, há indivíduos, grupos e associações comprometidos com a criação de canais de diálogo com o “inimigo”. É claro que eles são vistos com a maior desconfiança, acusados de trair seu próprio povo e a causa de sua segurança e de seus direitos, mas estão determinados e confiantes de que estão trabalhando para o bem mútuo.
“A nossa lealdade é dupla”, explica um ativista pela paz, ”é compartilhar a dor e a esperança de um amigo que não tem notícias de seus parentes sequestrados e, um momento depois, falar ao telefone ou num chat com um amigo de Gaza, que te conta que cada noite é a mais assustadora de sua vida, que calcula as chances que suas filhas têm de sobreviver, de acordar ainda vivas na manhã seguinte. Dupla lealdade é sentir a dor de ambos”.
A lógica da guerra é oposta, não admite uma dupla lealdade, a si mesmo e às razões dos outros, mas impõe uma única verdade e o dever absoluto de aniquilar ou humilhar o inimigo para salvar a si mesmo.
Os Combatentes pela Paz são militares ou ex-militares israelenses e palestinos que, justamente por saberem o que é a guerra, hoje se mobilizam pela paz. O Parents Circle - Family Forum é uma associação que reúne parentes de vítimas, tanto israelenses quanto palestinos. A morte de um filho ou irmão não os petrificou no ódio e no desejo de vingança, mas, pelo contrário, os uniu em um compromisso comum com a paz.
Nevé Shalom - Wahat as Salaam é um vilarejo onde, há décadas, israelenses e palestinos vivem juntos, incluindo meninos e meninas que frequentam a mesma escola, com os mesmos currículos.
Esses são apenas alguns fragmentos de uma realidade viva que ilumina de esperança um túnel escuro. Vamos começar a conhecer e apoiar essa realidade. Diante daqueles que alistam novos recrutas para mais campanhas de ódio, esse é um gesto concreto de paz.
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Luzes na noite escura do Oriente Médio. Artigo de Paolo Naso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU