Claude Langlois, historiador da emancipação das mulheres católicas. Entrevista com Denis Pelletier

Foto: Canva Pro | Getty Images

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15 Agosto 2024

O historiador Denis Pelletier relembra a carreira de Claude Langlois, especialista em catolicismo dos séculos XIX e XX, que faleceu em maio, aos 86 anos.

A entrevista é de Philippe Clanché, publicada por Témoignage Chrétien, 25-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Claude Langlois deixou sua marca na história do catolicismo com seu trabalho sobre as mulheres na Igreja. Qual é a contribuição dele para o tema?

Langlois dedicou sua tese no exame de estado à explosão das congregações religiosas femininas no século XIX [1]. Ele foi o primeiro a ver nas fundadoras, e nas mulheres que se engajaram com elas, um desejo de emancipação e ocupação da cena pública, descrevendo-as como mulheres empreendedoras em uma sociedade burguesa. Mas ele não era ingênuo: tratava-se de religiosas que cuidavam, educavam e oravam, permanecendo bem dentro da visão católica tradicional de seu gênero. Seu livro impressionou várias gerações de pesquisadores e pesquisadoras.

Ele também trabalhou sobre duas figuras femininas do século XX, Thérèse de Lisieux e Madeleine Delbrêl.

Na École Pratique des Hautes Études (EPHE), pratica-se filologia, ou seja, o estudo de textos e da linguagem. Langlois se interessou por Thérèse de Lisieux como autora, considerando-a como uma jovem que queria produzir uma obra literária, mas com os vínculos de uma vida religiosa. Ele trabalhou com os manuscritos originais e seus estudos expuseram a santidade de Thérèse. Uma perspectiva que surpreendeu seus colegas historiadores. Langlois ressalta o desejo de sacerdócio da monja carmelita, convencido de que ela teria gostado de ser - e deveria ter sido - padre.

Em seguida, ele estudou a trajetória de outras mulheres que poderiam ter o mesmo sonho impossível. Ele apresenta um bom argumento para defender essa tese subversiva: a Eucaristia, como corpo do Cristo sofredor, só pode ser confiada a uma mulher e carregada por uma mulher.

Claude Langlois depois se dedicou a Madeleine Delbrêl, cuja produção literária é imensa. Ele tenta entender uma obra animada por um empenho social feminino, lamentando o fato de que só nos interessamos por ela como santa ou como assistente social. Ele afirma que, diante de uma obra dessa magnitude escrita por um homem, primeiro se enxergaria o escritor.

Com Le Crime d'Onan, Claude Langlois também abordou o tema da moral sexual.

Para mim, esse continua sendo seu melhor livro. Langlois mostra como, no século XIX, entre a França e Roma, quase nasceu uma doutrina católica de controle de natalidade. Naquela época, os confessores estavam atentos ao que as mulheres tinham a dizer. Na França, o historiador deu origem às primeiras reflexões sobre gênero no catolicismo, embora permanecesse cauteloso em relação à noção. Aqueles que mais tarde se dedicaram aos estudos de gênero o consideram um precursor. Recentemente, quando surgiu a crise da pedofilia na Igreja, ele escreveu o único livro que oferece uma profundidade histórica ao fenômeno [3], um livro escrito muito rapidamente, o que não era comum nele.

O que podemos aprender com esse homem e com sua carreira acadêmica?

Claude Langlois era um grande conhecedor da cultura, da literatura e da teologia católicas. Mas sua erudição nunca prevaleceu sobre seu desejo de construir uma explicação histórica. Ao longo de sua carreira, desempenhou atividades de pesquisas em muitos campos. Ele era um crente e podemos colocá-lo na família dos católicos de esquerda, daquela geração para a qual o Vaticano II significou muito. Ele tinha um olhar crítico sobre a evolução da Igreja e usava a história principalmente para defender a sua visão da emancipação das mulheres. Homem de instituições que buscava influenciar a política, ele ocupou cargos de responsabilidade no Ministério da Educação Superior durante o segundo mandato de Mitterrand e trabalhou ao lado de Régis Debray em sua missão de desenvolver o ensino do aspecto religioso nas escolas. Em 1993, inaugurou a primeira cadeira de História e Sociologia do Catolicismo Contemporâneo na EPHE e dirigiu a seção de Ciências Religiosas. Acadêmico engajado, laico e republicano, Claude Langlois será lembrado como um grande historiador contemporâneo, reconhecido além das fronteiras francesas.

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