29 Novembro 2023
A ONU presta um reconhecimento mundial às contribuições espirituais, culturais e educacionais feitas pela santa do fim do século XIX, conhecida como a “Pequena Flor”.
A reportagem é de Christel Juquois, publicada por La Croix International, 28-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Teresa de Lisieux, a freira carmelita francesa que viveu de 1873 a 1897 e é carinhosamente conhecida como a “Pequena Flor”, era “uma revolucionária” que possuía uma “extraordinária força de espírito e de vontade”.
Essa é a avaliação de Nicole Ameline, a política francesa de 71 anos e defensora dos direitos das mulheres que está por trás da decisão da Unesco de assinalar o 150º aniversário do nascimento da santa na Normandia com um ciclo de dois anos de eventos e celebrações.
O biênio 2022-2023, que terminou nessa segunda-feira, 27, foi uma forma de a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhecer a contribuição espiritual, cultural e educacional que Thérèse Martin (seu nome de batismo) deu à humanidade. Teresa morreu aos 24 anos de idade no convento de clausura de Lisieux, deixando um diário espiritual que se tornou um clássico cristão.
Ameline, ex-parlamentar, ministra de governo e representante da França no Comitê das Nações Unidas sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (Cedaw) desde 2008, explica ao La Croix por que ela pressionou a Unesco a homenagear a “Pequena Flor”.
A cada dois anos, a Unesco homenageia alguém que promoveu valores universais como a educação, a cultura, a ciência, a paz, o status da mulher e assim por diante. Por que você apresentou a candidatura de Teresa de Lisieux?
Teresa foi uma mulher da cultura, da educação e da paz. Seu trabalho ressoa com a Declaração dos Direitos Humanos, cujo 75º aniversário também celebramos este ano. Os 193 Estados-membro das Nações Unidas votaram unanimemente em seu favor. Eles se acostumaram a celebrar mulheres que, por meio de suas vidas, podem nos ajudar a encontrar respostas às perguntas de hoje.
Teresa tem uma capacidade real de aproximar as pessoas, de uni-las, é uma figura feminina forte... É por isso que seu reconhecimento pela Unesco é tão importante para mim.
Você foi ministra da Igualdade de Gênero da França entre 2002 e 2005. Que tipo de mulher essa jovem freira do século XIX representa para você?
Ela é uma revolucionária. Ela tinha uma extraordinária força de espírito e de vontade. Ainda muito jovem, lutou para entrar no convento carmelita e soube impor suas escolhas a quem a rodeava e suas ideias ao mundo – ao mundo religioso, é claro, abrindo um novo caminho espiritual e teológico que teve um impacto poderoso no cristianismo.
Mas, além disso, ela era uma mulher da paz que também falava aos não crentes. Ela via o mundo com um senso exemplar de alteridade e de respeito pelos outros. Ela é um símbolo de abertura e de diálogo.
Sem ser feminista, Teresa está em sintonia com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, que atualmente trabalham na articulação do direito e da religião. Não vemos os dois como opostos, mas sim como uma forma de consolidar o diálogo inter-religioso, assim como a reflexão sobre o lugar e o papel das mulheres nas sociedades e religiões contemporâneas.
Nesse aspecto, Teresa é um exemplo norteador. O Papa João Paulo II chamou-a de “testemunha do futuro”. Ela é uma referência de que precisamos, não uma prisioneira de seu século. Ela nos dá uma lição de confiança e de paz. Ela é humanista, e seu pensamento vai além da fé.
Por que você acha que ela é tão amada e reverenciada em todo o mundo?
Acho que é pela forma como ela se reconciliou com suas próprias fraquezas, ao mesmo tempo em que as superou. Em suas obras, ela responde a muitas das perguntas que podemos nos fazer em nível pessoal, porque ela passou por muita coisa.
Ela também reflete sobre sua época, que, assim como a nossa, foi muito turbulenta. Por meio de sua visão do mundo, ela cultivou uma capacidade de confiança que falta hoje. Ela transmite uma mensagem universal e atemporal de abertura.
Você tem uma ligação pessoal com Teresa de Lisieux?
Eu nasci no Pays d’Auge, onde ela é particularmente venerada. Muitas famílias na Normandia dedicaram seus filhos pequenos a Teresa, ou seja, colocaram-nos sob sua proteção. Para as pessoas dessa região, ela é como um membro da família – uma irmã, uma guia, uma amiga – mesmo que tenham um imenso respeito por ela.
Pessoalmente, tive uma aventura maravilhosa com ela, que foi bastante inesperada, quando trabalhei em sua apresentação à Unesco. Estou muito confortável com essa personalidade ousada e humanista. E estou muito feliz que a Unesco tenha destacado essa mulher que ajudou a mudar o mundo com sua lição de amor e de confiança.
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Unesco encerra dois anos de homenagem a Santa Teresa de Lisieux - Instituto Humanitas Unisinos - IHU