05 Julho 2021
Os protestantes às vezes mostram uma certa complacência. Quando se sentem mais à vontade, gostam de citar as mulheres como prova de sua suposta superioridade. "Vejam como as igrejas abrem para elas suas portas, seus púlpitos, seus microfones!" Mas é preciso ir e ver de perto ... Os importantes estudos do historiador Claude Langlois (EPHE) nos lembram que, no século XIX, as congregações femininas com superiora geral constituíam, entre os católicos, um formidável espaço de emancipação e autonomia para as mulheres, confinadas no resto da sociedade para papéis menores [1].
A reportagem é de Sébastien Fath, publicada por La Croix, 02-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os protestantes, por outro lado, recusaram às mulheres, salvo exceção (diaconisas), a opção das congregações femininas, espaços sociais nos quais, amplamente libertadas da tutela masculina, as herdeiras de Eva podiam libertar o empreendedorismo e a espiritualidade. Sob o jugo duplo de um cristianismo bastante patriarcal e do código civil, as mulheres protestantes não tinham tantas possibilidades dentro das igrejas. Até que lentamente se abriu a opção do pastorado feminino.
Quatro etapas marcam esta evolução, que hoje vive um crescimento irresistível. É a partir do protestantismo evangélico que se constata uma abertura. No século XVII, em nome da inspiração do Espírito Santo, a opção quaker oferecia às profetisas um espaço de expressão, diante públicos mistos. Pregadoras metodistas, nos séculos XVIII e XIX, seguem o mesmo caminho. Nos séculos XIX e XX, o liberalismo protestante abriu uma segunda porta. Contextualizar os escritos de Paulo, hostil à palavra de ensino das mulheres, oferecia às mulheres novas perspectivas. Os pentecostais e a renovação carismática (a partir dos anos 1960) marcam uma terceira etapa, que preparou o terreno para o que hoje poderíamos chamar de igrejas evangélicas "do tipo Joel 2,28". Com referência ao texto do profeta Joel, no Antigo Testamento: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão”. Versículo que também constitui o suporte de pregação do primeiro sermão proposto após o Pentecostes por um certo apóstolo Pedro (Atos 2,17).
Vivemos hoje a quarta etapa do crescimento do pastorado feminino, com um começo de normalização desta função dentro do protestantismo evangélico. Não podia ser dado como certo. Mesmo recentemente, muitas igrejas rejeitavam a ideia de que uma mulher pudesse ter autoridade pastoral. Ensinar, pregar? Até poderia ser aceito. Mas ter autoridade sobre os homens, heresia! Em 7 de maio de 2021, a megaigreja de Saddleback, Califórnia, então liderada por Rick Warren, cruzou o Rubicão, ordenando três mulheres pastoras. Até então, a poderosa Convenção Batista do Sul, à qual Saddleback pertence, o proibia. As consequências? Sem surpresa, as resistências se mobilizam.
Mas a tendência subjacente parece irresistível, mesmo na França. Diante da pergunta: “A Bíblia é sexista?”, a teóloga Valérie Duval-Poujol, inclusive vice-presidente da Federação Protestante da França, responde que não. E reivindica a escolha de virar as costas a uma “Igreja hemiplégica” e, finalmente, oferecer todo o seu espaço às mulheres, dentro do clero e do corpo docente [2].
[1] Claude Langlois. Le Catholicisme au féminin. Les Congrégations françaises à supérieure générale au XIXe siècle, Paris, Le Cerf, 1984.
[2] Valérie Duval-Poujol, La Bible est-elle sexiste?, Tharaux, Empreinte, 2021 Sébastien Fath é historiador e pesquisador no Centre national de la recherche scientifique, especialista no estudo do protestantismo evangélico.
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O irresistível avanço do pastorado feminino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU