"A discriminação racial é um problema persistente e complexo que envolve o tratamento desigual de indivíduos com base na cor da pele ou na origem étnica. Este fenômeno pode ocorrer em várias esferas da vida, incluindo emprego, educação, habitação, saúde e no sistema de justiça criminal. A discriminação racial pode ser explícita, como insultos raciais ou violência, ou implícita, manifestando-se em preconceitos inconscientes e práticas institucionais", escreve Francisco José Carneiro de Freitas, servidor público federal há 39 anos lotado na Universidade Federal do Ceará (UFC) e licenciado em Ciências da Religião.
Eis o artigo.
O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial é comemorado todo o dia 3 de julho, data em que foi aprovada Lei Afonso Arinos, no ano de 1951 do século passado. A legislação tornou a discriminação racial uma contravenção penal. Contudo, a discriminação racial é um problema global que persiste até hoje, manifestando-se de diversas maneiras, desde atitudes sutis até formas explícitas de violência e exclusão.
No Brasil, apesar dos avanços legais e sociais, ainda enfrentamos desigualdades profundas que afetam especialmente a população negra e outras minorias étnicas.
A discriminação racial é um problema persistente e complexo que envolve o tratamento desigual de indivíduos com base na cor da pele ou na origem étnica. Este fenômeno pode ocorrer em várias esferas da vida, incluindo emprego, educação, habitação, saúde e no sistema de justiça criminal. A discriminação racial pode ser explícita, como insultos raciais ou violência, ou implícita, manifestando-se em preconceitos inconscientes e práticas institucionais.
Acesso à educação
- Taxa de escolarização: A taxa de escolarização de crianças e adolescentes negros é inferior à dos brancos em várias faixas etárias. Em 2020, a taxa de escolarização de jovens de 15 a 17 anos era de 85,2% para brancos, enquanto para negros era de 75,2% (IBGE).
- Ensino superior: Embora o número de estudantes negros no ensino superior tenha aumentado, graças a políticas de ação afirmativa como as cotas raciais, a presença de estudantes negros nas universidades ainda é desproporcionalmente baixa. Em 2021, apenas 18,3% dos jovens negros de 18 a 24 anos estavam matriculados no ensino superior, comparado a 36,1% dos jovens brancos (IBGE).
Qualidade da educação
- Desempenho escolar: Estudantes negros frequentemente têm desempenho escolar inferior em comparação com estudantes brancos. Segundo dados da Prova Brasil de 2019, alunos negros têm, em média, notas mais baixas em português e matemática do que alunos brancos.
- Infraestrutura escolar: Escolas em áreas predominantemente negras ou em comunidades de baixa renda frequentemente têm infraestrutura inferior, menos recursos pedagógicos e menos acesso a atividades extracurriculares de qualidade.
Discriminação e preconceito
- Ambiente escolar: Estudantes negros são mais propensos a enfrentar discriminação e preconceito no ambiente escolar. Isso pode incluir desde comentários racistas por colegas e professores até expectativas mais baixas em relação ao seu desempenho acadêmico.
- Currículo e representatividade: O currículo escolar muitas vezes carece de representatividade e inclusão de conteúdos que valorizem a história e cultura afro-brasileira. A ausência de figuras históricas e culturais negras nos materiais didáticos pode contribuir para a perpetuação de estereótipos e a invisibilização da contribuição afro-brasileira.
Políticas de ação afirmativa
- Cotas raciais: A implementação de cotas raciais em universidades públicas e em alguns concursos públicos tem sido uma importante política de ação afirmativa. Essas cotas reservam um percentual de vagas para estudantes negros, pardos e indígenas, ajudando a corrigir as disparidades de acesso ao ensino superior.
- Lei 10.639/2003: A Lei 10.639/03 tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo escolar. Embora esta lei represente um avanço significativo, sua implementação ainda enfrenta desafios, como a formação de professores e a disponibilidade de materiais didáticos adequados.
Desafios e caminhos para o futuro
- Formação de professores: É crucial investir na formação de professores para que eles possam abordar questões de raça e discriminação de maneira sensível e informada, além de promover a diversidade e a inclusão em sala de aula.
- Combate ao racismo institucional: As escolas devem adotar políticas claras para combater o racismo institucional e criar ambientes escolares inclusivos e acolhedores para todos os alunos.
- Incentivo à permanência escolar: Programas de apoio e incentivo à permanência escolar, como bolsas de estudo, tutorias e apoio psicológico, são essenciais para garantir que estudantes negros tenham as mesmas oportunidades de sucesso acadêmico que seus colegas brancos.
Conclusão: A discriminação racial na educação é um reflexo das desigualdades históricas e estruturais da sociedade brasileira. Combater essa discriminação requer um compromisso contínuo com políticas de ação afirmativa, a promoção de um currículo inclusivo e a criação de ambientes escolares que valorizem e respeitem a diversidade racial. Só assim será possível construir uma educação mais equitativa e justa para todos os brasileiros.
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Racismo não é opinião. É crime! Artigo de Francisco José Carneiro de Freitas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU