19 Junho 2024
Os deslocados passaram de 362.551 no início de março para 578.074 atualmente, em um país com 10 milhões de habitantes.
A reportagem é publicada por Página|12, 19-06-2024.
A quantidade de deslocados internos no Haiti aumentou 60% nos últimos três meses devido ao incremento da violência das gangues, em meio a uma grave crise política, social e humanitária, informou as Nações Unidas.
Os deslocados internos passaram de 362.551 pessoas no início de março para 578.074 atualmente, em uma população de 10 milhões de habitantes, indicou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) em um informe publicado nesta terça-feira.
"Esses números são consequência direta da espiral de violência que alcançou um novo marco em fevereiro", disse Philippe Branchat, diretor da OIM. Em menos da metade do ano, o número é quase o mesmo de todo o ano de 2023, apontou o organismo.
"A interminável crise do Haiti está forçando mais pessoas a fugirem de suas casas e deixarem tudo para trás. Isso não é algo que façam de ânimo leve. Além disso, para muitos deles, não é a primeira vez", acrescentou Branchat.
No Haiti, mergulhado no caos há décadas, um governo recém-formado tenta restabelecer a ordem após uma prolongada crise desencadeada pela violência das gangues, especialmente na capital, Porto Príncipe.
O Haiti tem sido abalado por esse tipo de distúrbios há muito tempo, mas no fim de fevereiro, grupos armados lançaram ataques coordenados na capital, argumentando que queriam derrubar o então primeiro-ministro Ariel Henry.
Henry anunciou no início de março que renunciaria e entregaria o poder executivo a um Conselho de Transição que supostamente deve conduzir o país à realização de eleições. No Haiti, não há eleições desde 2016. Já foi nomeado um novo primeiro-ministro - Garry Conille - e um novo gabinete.
O aumento no número de haitianos deslocados se deve em grande parte a pessoas que fogem de Porto Príncipe para outras províncias, que carecem de recursos para atendê-los, segundo o relatório.
Na região sul do país, já debilitada pelo terremoto de 2021, o número de deslocados internos mais que dobrou, passando de 116.000 pessoas para 270.000 nos últimos três meses.
Desde o fim de fevereiro, a circulação de materiais como medicamentos e combustível entre a capital e as províncias tem sido seriamente limitada, o que agrava ainda mais a crise humanitária, aponta o relatório.
Na região metropolitana de Porto Príncipe, dois terços dos deslocados vivem em acampamentos improvisados com acesso muito limitado aos serviços básicos. Atualmente, 39 dos 96 assentamentos ativos abrigam 61.000 pessoas, o que dificulta seriamente a assistência escolar.
Segundo a OIM, desde o fim de fevereiro, foram fornecidos quase cinco milhões de litros de água potável para cerca de 25.000 pessoas e mais de 37.000 pessoas receberam suprimentos de emergência, incluindo cobertores, lâmpadas solares e utensílios de cozinha.
A organização também tem implantado clínicas móveis para prestar atendimento médico a 18.000 pessoas e disponibilizou apoio psicológico, incluindo uma linha telefônica gratuita.
O inspetor-geral do Serviço Nacional de Polícia (NPS) do Quênia, Japhet Koome, reuniu-se nesta terça-feira com uma delegação da Polícia do Haiti para analisar o envio da missão multinacional aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU à nação caribenha, que será liderada pelo país africano.
"O NPS continua comprometido a colaborar na missão, pelo bem do povo do Haiti, especialmente das mulheres e crianças", afirmou Koome após a reunião em Nairobi, em um breve comunicado publicado pelo corpo policial em sua conta na rede social X.
"Contamos com seu apoio", destacou, por sua vez, o oficial de polícia haitiano Joachim Prohete em nome da delegação do país caribenho.
A reunião ocorre semanas após uma equipe de reconhecimento do Quênia, enviada ao Haiti, retornar e informar o presidente do Quênia, William Ruto, sobre sua avaliação antes do envio de mil agentes da nação africana.
Em 25 de maio passado, em uma entrevista à rede britânica BBC, Ruto previu que a força policial de seu país, que deve liderar o combate contra a insegurança cidadã no Haiti, chegaria a esse território em cerca de três semanas, embora esse envio ainda não tenha se concretizado.
A mobilização dos agentes tem sido dificultada por obstáculos legais no Quênia. O Tribunal Superior de Nairobi marcou para o próximo dia 7 de outubro uma audiência sobre um novo recurso de um partido opositor do Quênia contra o envio dos primeiros policiais do contingente queniano ao Haiti.
O envio também ocorreria após a constituição, em abril passado, do Conselho Presidencial de Transição (CPT) no Haiti, encarregado de governar a nação caribenha até a realização de eleições.
O estabelecimento desse órgão colegiado era uma condição necessária para o Quênia, cujo Ministério das Relações Exteriores anunciou em meados de março o adiamento do envio policial após a renúncia de Henry como primeiro-ministro.
O Conselho de Segurança da ONU autorizou em outubro de 2023 o envio de uma missão de apoio à Polícia Nacional do Haiti, em resposta ao pedido feito um ano antes pelas autoridades haitianas para erradicar a violência das gangues armadas.
O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, pediu nesta terça-feira que a Missão Multinacional de Apoio à Segurança no Haiti intervenha de forma "urgente" para enfrentar a crise de insegurança que o país vive.
A violência das gangues causou 8.000 mortes no Haiti no ano passado, e essas organizações criminosas chegaram a controlar 80% de Porto Príncipe, assim como outras áreas do país.
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Haiti: o número de deslocados internos aumentou 60% em três meses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU