12 Junho 2024
Francisco reitera mais uma vez a sua oposição à admissão de homossexuais no seminário e evoca o lobby gay. Diante do G7 na Puglia, ele condena o comércio de armas: “Pediram-me para falar sobre inteligência artificial, mas eu perguntaria aos políticos: onde está a sua inteligência natural?”
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Repubblica, 11-06-2024.
O Papa Francisco volta a falar sobre a “viadagem” (frociaggine) na Igreja. A ocasião é o encontro a portas fechadas que teve esta tarde com um grupo de padres da diocese de Roma, na Pontifícia Universidade Salesiana.
Jorge Mario Bergoglio, que usou este termo durante uma reunião a portas fechadas com a Conferência Episcopal Italiana, voltou ao tema da homossexualidade entre o clero durante as idas e vindas com os padres romanos. “Há um ar de frociaggine no Vaticano”, ele teria dito, conforme noticiado pela Ansa, citando fontes presentes na reunião. Depois que se soube que ele havia usado esse termo pela primeira vez, o Papa pediu desculpas.
Segundo Repubblica, o Pontífice argentino voltou a empregar o termo “frociaggine” na resposta à última pergunta que lhe foi feita, que na realidade dizia respeito a como encorajar novas vocações. Depois de dizer que é preciso rezar e ajudar o discernimento vocacional dos jovens, Francisco, segundo o que foi relatado pelos presentes, disse que é preciso impedir os candidatos com tendências homossexuais: embora também haja pessoas “muito boas” entre eles. Ele disse que devemos certamente acompanhar os gays que sentem a vocação sacerdotal, mas evitar acolhê-los no seminário.
Francisco destacou, a este respeito, que existem instruções do Vaticano, uma referência clara a uma conhecida instrução do Dicastério para o Clero de 2016. Neste ponto o Papa citou, em particular, o fato de existir “gays” no Vaticano, e aludiu à existência de um lobby homossexual citando o que lhe disse um monsenhor, segundo o qual “há um problema com os gays no Vaticano”.
Segundo escreve a Ansa, Bergoglio também nos pediu para estarmos atentos às “ideologias”, os tradicionalistas “não são bons”. Segundo os presentes, a nova declaração do Pontífice suscitou grande surpresa entre os mais de 150 sacerdotes presentes.
No resumo da assessoria de imprensa da Santa Sé, “ao concluir o Papa falou do perigo das ideologias na Igreja e voltou ao tema da admissão de pessoas com tendências homossexuais nos seminários, reiterando a necessidade de acolhê-las e acompanhá-las na Igreja e a indicação prudencial do Dicastério para o Clero quanto à sua entrada no seminário”.
Hoje foi o terceiro encontro nas últimas semanas com os párocos romanos: depois de ter conhecido os idosos e os jovens, hoje encontrou os sacerdotes de meia-idade, ou seja, aqueles que foram ordenados há 11 e 39 anos atrás. Durante o encontro que durou algumas horas, os sacerdotes fizeram doze perguntas ao Papa. Os temas abordados foram muito diversos, desde a pastoral dos jovens à identidade dos sacerdotes, das eleições europeias, ao sofrimento da guerra no Oriente Médio às situações de extrema pobreza encontradas em Roma.
Francisco, que irá ao G7 na Puglia na sexta-feira, disse que lhe pediram para falar sobre inteligência artificial, “mas eu perguntaria aos políticos: mas onde está a sua inteligência natural?”, disse o Papa, para depois destacar o problema do comércio de armas. Francisco também citou a necessidade da Igreja iluminar as consciências, evocando, sem expressar julgamento, uma “mudança à direita” que ocorreu nas recentes eleições europeias, particularmente na França com o sucesso de Marine Le Pen.
No relatório da Sala de Imprensa da Santa Sé, “o diálogo centrou-se na situação atual na Europa e no mundo e o Papa mencionou com dor as guerras em curso, na Terra Santa, na Ucrânia, mas também em Myanmar, no Congo, e enormes investimentos em armas, contraceptivos, despesas veterinárias e cirurgia estética. Neste sentido exortou-nos a trabalhar na doutrina social da Igreja, a um maior compromisso com o bem comum, com a paz e, em tempos de desengajamento e abstencionismo, na política, “a forma mais elevada de caridade”.
Aos que lhe perguntaram sobre o cardeal Angelo De Donatis, a quem o Papa recentemente destituiu repentinamente do cargo de vigário para a diocese de Roma, transferindo-o para a chefia da Penitenciaria Apostólica, Francisco, segundo o que a Repubblica apurou , disse que "D. Angelo é ótimo” e “se sairá muito bem” na sua nova função. A um padre que falou sobre a situação irregular em que se encontram muitos padrinhos e madrinhas, o Papa respondeu que a Igreja “está aberta a todos, todos, todos” e não pode ser uma “alfândega pastoral”.
Um padre sugeriu que ele abrisse uma porta sagrada, durante o Jubileu, numa unidade de saúde, e o Papa disse que iria pensar no assunto. O tema do Ano Santo voltou com outra resposta, quando um padre romano levantou a questão da emergência habitacional em Roma: o Papa primeiro disse que deveriam ser impostos limites ao custo do aluguel, e depois destacou que há casas religiosas completamente vazias ou, pior ainda, casas religiosas que são transformadas em rendimento e exploradas economicamente por ocasião do Jubileu: um hábito que, segundo Francisco, definitivamente não está certo.