05 Junho 2024
Quem devia tratar de preservar a liberdade de imprensa em escala global – as autoridades políticas, o Estado – além de não fazê-lo ainda são as que a ameaçam. Esse, em resumo, a constatação do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2024, elaborado pela Repórteres Sem Fronteira (RSF).
A reportagem é de Edelberto Behs.
“Os Estados e as forças políticas, independentemente de suas tendências políticas, desempenham cada vez menos um papel na proteção da liberdade de imprensa”, fator que muitas vezes caminha de mãos dadas com o “questionamento do papel dos jornalistas, ou mesmo a instrumentalização dos meios de comunicação em campanhas de assédio ou desinformação”, expressa a RSF.
O estudo lembra que 2024 é o maior ano eleitoral da história no mundo, e períodos eleitorais, via-de-regra, são acompanhados de violência contra jornalistas.
As forças políticas, analisa Anne Bocandé, diretora editorial da RSF, “desempenham regularmente o papel de canais de disseminação, ou mesmo de instigadoras de campanhas de desinformação”. É o que se verificou em mais de três quartos (138) países avaliados pelo ranking. Em 31 países, campanhas de propaganda ou desinformação foi qualificado como “sistemático”.
Dinamarca, Suécia e Irlanda são os países que lideram o ranking no indicador político, os que mais respeitam a liberdade de imprensa. Na ponta de baixo, China, Vietnã e Coréia do Norte cederam suas posições para o Afeganistão, a Síria e a Eritréia. Jornalistas que se expressam nas redes sociais no Vietnã são quase que sistematicamente presos. A China detém o título de ter em prisão o maior número de jornalistas do mundo.
Num total de 180 países analisados, o Brasil está em 82º segundo lugar, subindo dez posições depois da queda nas eleições do governo Bolsonaro. “A retórica agressiva adotada durante quatro anos pelo governo Jair Bolsonaro para com os jornalistas e os meios de comunicação contribuiu para aumentar a hostilidade e a desconfiança na sociedade. O Brasil continua muito polarizado e os ataques contra a imprensa, que se tornaram comuns nas redes sociais, abriram caminho para práticas recorrentes de agressões físicas contra jornalistas, especialmente durante as eleições de 2022 e durante os motins de 8 de janeiro de 2023, em Brasília”, diz o relatório da RSF.
O governo Lula, destaca o relatório, “traz de volta uma normalização das relações entre as organizações estatais e a imprensa, após o mandato de Jair Bolsonaro marcado por uma hostilidade permanente ao jornalismo”. Contudo, aponta o relatório da RSF, “os desafios e obstáculos para garantir um ecossistema de informação livre, plural e confiável ainda são numerosos. O país carece de uma política robusta para proteger os jornalistas, uma prioridade quando se considera a história de violência contra a imprensa”.
Leia mais
- Liberdade de imprensa sofre ameaças em sete de cada dez países do mundo. Artigo de Edelberto Behs
- Jornalismo, cada vez mais necessário, mas em queda livre. Artigo de Edelberto Behs
- O risco de informar sobre a destruição do planeta: 20 jornalistas assassinados na última década
- Jornalismo é arma de combate à infodemia. Artigo de Ivânia Vieira
- Jornalismo, uma profissão a cada dia mais perigosa
- Jornalistas, falem sobre a crise climática
- América Latina registra o maior número de óbitos de jornalistas por covid-19
- Monsanto pagou ao Google para censurar resultados de pesquisa e desacreditar jornalistas
- México bate recorde de assassinatos a jornalistas
- Jornalismo não é crime, proclama Fenaj no Dia da Liberdade de Imprensa
- Assassinatos de jornalistas é alarmante, diz Unesco
- PL das Fake News: “regular as plataformas é uma tarefa da nossa geração”
- Papa Francisco aos jornalistas: “continuem a iluminar o flagelo dos abusos para erradicar este mal profundo”
- Estudo global mostra os impactos devastadores das fake news para as meninas
- Linchamento virtual de jornalistas na eleição alerta para risco à liberdade de imprensa
- Cultura da impunidade é a marca de crimes cometidos contra jornalistas
- México e Brasil, entre os países mais perigosos para jornalistas
- México. Três jornalistas assassinados em menos de um mês
- Espinosa é o 14º jornalista assassinado no estado mexicano de Veracruz desde 2010
- Paraguai: jornalistas assassinados
- O maior agressor à imprensa é o presidente da República, aponta relatório
- Ação pede segurança para o trabalho de jornalistas
- Aumentam ataques à imprensa no pós-eleição
- Jornalistas do Norte revelam riscos na cobertura de atos antidemocráticos
- Unesco e RSF cobram apuração de crime contra jornalistas
- Campanhas de desinformação atingem jornalistas
- Os desafios da democracia na era da desordem informacional. Entrevista especial com Taís Seibt
- Cultura de verificação é um caminho para enfrentar as fake news
- A desinformação se tornou a praga deste século
- As mídias digitais provocam também efeitos negativos
- Projeto de lei sobre fake news “coloca o checador numa berlinda”, diz Cristina Tardáguila
- A crise da democracia representativa contemporânea e os caminhos para a renovação: o olhar de Dominique Rousseau
- “A democracia e os direitos cívicos estão ameaçados pela desinformação.” Entrevista especial com Katya Vogt
- A crise da crise da verdade
- O jornalismo como um espaço de luta política