29 Mai 2024
Para isentar combustíveis fósseis, Magda Chambriard compara enchentes no RS a inundação em garagem de seu prédio em um dos endereços mais caros do RJ.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 29-05-2024.
Que a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, é uma das integrantes da ala governamental que defende explorar combustíveis fósseis no Brasil “até a última gota” não é novidade. Que para ela a altíssima sensibilidade ambiental da foz do Amazonas não será empecilho para tentar pressionar o IBAMA por uma licença para perfurar um poço de petróleo no bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá, também não. Mas um traço até então desconhecido da executiva veio à tona durante sua primeira entrevista coletiva no cargo, na 2ª feira (27/5): uma dose de negacionismo climático.
Magda questionou as relações entre a tragédia climática no Rio Grande do Sul e a produção de combustíveis fósseis no mundo. Ela defendeu que catástrofes como a que aflige os gaúchos refletem diversas causas e que é injusto responsabilizar a produção de petróleo no pré-sal brasileiro, detalha Nicola Pamplona na Folha.
Como você responde a presidente da @petrobras que comparou RS com uma inundação na garagem do prédio dela na Lagoa, um dos endereços mais caros do Rio? pic.twitter.com/9XZNVJnowP
— ClimaInfo (@ClimaInfoNews) May 28, 2024
Não satisfeita em negar o que a ciência já mostra [e comprova] há cerca de 50 anos, a nova presidente da Petrobras citou um caso pessoal, em que a garagem do prédio onde mora no Rio de Janeiro foi inundada por fortes chuvas. E disse que o edifício foi construído sobre um aterro onde antes era a lagoa Rodrigo de Freitas – endereço nobre da zona Sul carioca e um dos mais caros da cidade –, o que explicaria a inundação.
“Com petróleo ou sem petróleo, uma hora iríamos gastar dinheiro para lidar com isso, porque se agrediu o meio ambiente”, argumentou, citando ainda que a grande cheia anterior que atingiu o Rio Grande do Sul ocorreu em 1941. “A gente nem tinha petróleo no Brasil nessa época.” Já pode dar o braço ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que há algumas semanas fez comparação igual com a enchente gaúcha dos anos 1940 para negar a crise climática.
De resto, Magda repetiu o mantra pró-energia suja que já se sabia que ela defenderia. Disse que é “essencial continuar explorando” combustíveis fósseis, usando a mesma falácia de que o Brasil se tornará importador de petróleo se não o fizer. Defendeu a exploração na foz do Amazonas dizendo que o Ministério do Meio Ambiente deveria ser “mais esclarecido sobre a necessidade” de perfurar poços, informa o Poder 360. E ainda disse que “o Ministério de Minas e Energia está louco para perfurar” poços no litoral do Amapá, relata O Globo.
Talvez numa tentativa de não parecer tão desconectada da realidade, Magda afirmou refutar a tese de que negócios de energia renovável são deficitários, segundo o UOL e o Investing.com. O que já está mais do que provado, basta ver o crescimento exponencial das renováveis em todo o mundo, e não por filantropia, mas por lucro. E acrescentou que está mantido o interesse da Petrobras em fazer investimentos na área, conforme previsto no Plano de Negócios 2024-2028.
Mas, claro, investir em renováveis depende… da exploração de mais petróleo e gás fóssil, reforçou a nova presidente da Petrobras. O clima que espere.
Os planos de Magda Chambriard no comando da Petrobras também foram repercutidos por Jovem Pan, epbr, Agência Brasil e O Globo.
Em tempo
A Associação dos Servidores Federais do IBAMA do Rio de Janeiro (ASIBAMA-RJ) criticou publicamente a postura da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que defende a exploração de petróleo na foz do Amazonas, conta Bela Megale n’O Globo. Em um artigo assinado por sua diretoria, a associação cita a reportagem do jornal publicada na semana passada com posicionamentos já explicitados por Magda sobre a área ambiental e de licenciamento.
A ASIBAMA-RJ diz que a executiva defende uma espécie de “tapetão” para reverter a negativa do órgão ambiental sobre a exploração da foz. E afirma que a escolha de Magda para o posto “é especialmente desconcertante” por vir no momento em que a “população gaúcha padece em dor, perda e horror causados pela maior tragédia climática de todos os tempos no Rio Grande do Sul”.
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Presidente da Petrobras diz que petróleo não deve ser culpado por tragédia climática no RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU