20 Março 2024
A reportagem é de Miguel Estupiñán, publicada por Religión Digital, 18-03-2024.
A Igreja colombiana se pronunciou sobre a investigação jornalística de Juan Pablo Barrientos e Miguel Ángel Estupiñán, cujas primeiras conclusões foram publicadas no livro El archivo secreto (Planeta, 2023).
A lista de 569 padres ligados ao catolicismo local, denunciados por abusos sexuais, provém de 13% das informações solicitadas a todas as dioceses e comunidades religiosas masculinas do país. Os restantes 87% da informação permanecem escondidos em arquivos secretos e poderão vir à luz se assim for determinado pelo Tribunal Constitucional, principal órgão judicial do país.
Esta entidade está a estudar 50 das 120 ações de proteção que jornalistas interpuseram no ano passado para aceder a dados de interesse público sobre o fenómeno do encobrimento eclesiástico. Esta semana, a juíza Cristina Pardo foi contestada por sua amizade com Ilva Myriam Hoyos, perita do Sínodo da Família.
O advogado católico é o conselheiro dos bispos na sua estratégia para evitar que o mundo conheça todas as informações solicitadas por Barrientos e Estupiñán, através dos direitos de petição.
A Real Academia Espanhola define a recusa como “o ato destinado a afastar um juiz, uma testemunha ou um perito de intervir num procedimento administrativo ou judicial, pela sua relação com os factos ou com as outras partes”.
A entrevista realizada pelo correspondente de Religión Digital aconteceu nas instalações do Instituto Fundação para a Construção da Paz (Ficonpaz), dirigido por Monsenhor Héctor Fabio Henao. E, além do entrevistado e do entrevistador, esteve presente o jornalista Carlos Sanabria, por trás das câmeras.
Henao, que, além de porta-voz da Conferência Episcopal da Colômbia, atua como representante da relação entre a Igreja e o Estado colombiano, negou ter abusado de um menor durante sua gestão como pároco da Arquidiocese de Medellín. Da mesma forma, disse não ter conhecimento de comentários sobre abusos cometidos pelo cardeal Pedro Rubiano, a quem, segundo ele, deve sua transferência para Bogotá. É impressionante que o entrevistado tenha caído na gargalhada durante sua resposta.
Na falta de provas, Juan Pablo Barrientos e Miguel Ángel Estupiñán evitaram incluir informações sobre Henao e Rubiano em seu livro. No entanto, o correspondente da Religión Digital consultou a opinião deste último sobre possíveis denúncias contra ele.
O porta-voz da CEC admitiu que a Igreja colombiana tem o número exato de sacerdotes que foram expulsos do clero, depois de ter sido comprovada eclesiasticamente a sua responsabilidade nos abusos sexuais contra menores.
Este número, detido pelo Cardeal Luis José Rueda, corresponde a um dos dados solicitados pelos autores do Arquivo Secreto, através de mais de 137 direitos de petição.
Embora Henao tenha prometido fornecer a informação ao correspondente da Religión Digital, no momento em que este artigo foi escrito, o número exato de padres condenados pela Igreja colombiana permanece no escuro.
Além da advogada Ilva Myriam Hoyos, perita do Sínodo da Família, há outros assessores da Igreja colombiana envolvidos no litígio iniciado nos processos de Barrientos e Estupiñán. Um deles foi denunciado por fraude processual, ao tentar evitar a condenação do bispo militar Víctor Manuel Ochoa. Este é o advogado Marcel Tangarife.
Embora um juiz da república tenha ordenado ao bispado militar que compensasse financeiramente dois irmãos abusados por um padre e pedisse perdão, Monsenhor Ochoa recusou este último, como revelou Juan Pablo Barrientos através de uma entrevista.
A Defesa das Vítimas já aconselha sobreviventes de abusos em outras partes do país. É possível que nos próximos meses sejam ouvidas novas exigências de reparação financeira contra outras dioceses e comunidades religiosas.
Henao admitiu que a Igreja colombiana está a realizar uma campanha para prevenir a violência sexual, com dinheiro dos bispos colombianos. Luis Manuel Alí, hoje secretário da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, geriu esta ajuda. O grave é que o assessor do Papa Francisco não está isento de acusações.
Em diálogo com o correspondente da Religión Digital, Alí reconheceu ter encoberto José de Jesús Amaya León, superior geral dos missionários eudistas, denunciado por abuso sexual de um menor no departamento colombiano do Norte de Santander.
Outro dos compromissos assumidos por Monsenhor Henao, ex-secretário-geral da Cáritas colombiana, foi alertar as agências de cooperação internacional sobre o alegado encobrimento de pedófilos por parte de alguns bispos que historicamente se beneficiaram de dinheiro vindo do exterior.
Além do cardeal Rueda e do seu assistente, Luis Manuel Alí, entre eles está Orlando Olave, bispo de Tumaco, recentemente visitado por funcionários da agência de cooperação alemã Misereor. Atualmente, este bispo permite que o padre Luis Alirio Carrillo exerça o sacerdócio na sua jurisdição, expulso dos missionários eudistas após uma denúncia por suposto abuso de menores.
Na semana passada, o correspondente da Religión Digital tomou conhecimento de informações contra um ex-tesoureiro da diocese, padre Néstor Salas. Olave negou ter recebido denúncias sobre esse padre, mas evitou esclarecer se havia ou não denúncias contra Salas perante a Procuradoria-Geral da República.
O autor desta nota solicitou uma entrevista com Stefan Tuschen, funcionário da Misereor na Colômbia, para alertá-lo sobre este e outros casos de supostos bispos de encobrimento que estariam se beneficiando de dinheiro vindo da Alemanha. Tuschen nunca respondeu.
Henao admitiu que o livro de Barrientos e Estupiñán foi um dos temas discutidos durante a mais recente assembleia de bispos colombianos. Além da presença de funcionários da Misereor, contou com a participação do núncio apostólico Paolo Rudelli.
Rudelli é responsável por alertar o Papa Francisco sobre as denúncias publicadas pelos autores do livro. Uma das conclusões mais importantes da investigação em curso é que, tal como os padres sinodais Rueda, Tobón e Gómez, a grande maioria dos bispos colombianos encobriu padres pedófilos durante anos.
Como uma mãe amorosa, a carta apostólica do Papa Francisco explica que qualquer bispo que oculta deve ser removido da sua posição eclesiástica. Isto é o que o Sumo Pontífice não fez em relação ao caso colombiano.
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A Igreja colombiana se manifesta sobre alegações de encobrimento de abuso sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU