07 Julho 2021
A Conferência Episcopal da Colômbia (CEC) tem nova direção, por conta de sua mais recente assembleia plenária. Respectivamente, os cargos de presidente, vice-presidente e secretário-geral da instituição ficaram nas mãos do arcebispo de Bogotá, dom Luis José Rueda Aparicio, do arcebispo de Popayan, dom Omar Sánchez, e o bispo-auxiliar de Bogotá, dom Luis Manuel Alí.
A eleição destes prelados pode ser interpretada como uma redefinição das prioridades do episcopado colombiano não somente frente à situação do país, mas também diante da crise de credibilidade que a Igreja Católica atravessa em razão dos abusos sexuais perpetrados por membros do clero.
A reportagem é de Miguel Estupiñán, publicada por Religión Digital, 07-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Por um lado, o perfil pastoral tanto de Rueda, assim como de Sánchez, está marcado por seu trabalho em zonas de conflito armado. Ambos arcebispos fazem parte de um setor do episcopado colombiano posto decididamente a serviço da busca da paz, com uma clara consciência das causas estruturais da injustiça social, no segundo país mais desigual da América Latina.
Rueda e Sánchez, ademais, conheceram muito de perto os efeitos do negócio internacional da cocaína em regiões convertidas em enclaves por parte das máfias e de outros grupos armados; particularmente as manifestações de violência associadas a tais negócios. Por isso entendem que deter o derramamento de sangue necessita medidas em várias frentes, começando pelo social, e não ações que historicamente demonstram seu fracasso.
O arcebispo de Bogotá (novo presidente da CEC), inclusive, tornou pública sua oposição ao interesse do governo de Iván Duque de restabelecer as aspersões de glifosato sobre os campos de coca. Uma prática que, segundo foi documentado por organizações sociais, como DeJusticia, não é nada eficaz para combater o problema. Pelo contrário, é nociva para a saúde das pessoas e da terra.
Por outro lado, Alí é membro da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores. Recentemente, como diretor do Escritório para os Bons Cuidados da Arquidiocese de Bogotá publicou um documento com diretrizes para a prevenção da violência sexual contra crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis, em ambientes eclesiais. A ação se soma a muitas outras que há anos o prelado desenvolve para promover que as medidas impulsionadas pelo Papa Francisco em matéria de proteção sejam incorporadas dentro da Igreja colombiana.
A eleição da nova direção da Conferência Episcopal chega em um momento de urgência. Em 28 de abril, o país presenciou o início de uma onda de protestos contra o governo. A repressão operada por parte da força pública e o recrudescimento de outras formas de violência, como a presença de civis custodiados por policiais disparando contra os manifestantes, submergiu o país em uma grave crise humanitária que mereceu uma visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Logo de início, o episcopado ofereceu seus bons ofícios para facilitar o diálogo. Tal tarefa foi delegada a dom Héctor Fabio Henao, diretor do Secretariado Nacional de Pastoral Social. Porém, não deixou de chamar a atenção em setores do catolicismo a falta de liderança da antiga direção da CEC, em mãos, então, dos arcebispos de Villavicencio e de Medellín, assim como do bispo de Santa Rosa de Osos. Os dois primeiros, Urbina e Tobón (antigos presidentes e vice-presidentes da instituição), foram denunciados pelo jornalista Juan Pablo Barrientos, como responsáveis de ações de encobrimento de casos de abusos sexuais perpetrados por padres de suas jurisdições. Envoltos em escândalos, preferiu conservar um baixo perfil.
Por isso, a chegada de Luis Manuel Alí à direção da CEC, como novo secretário-geral, pode significar uma virada na maneira de responder colegialmente ao problema, com o fim de corrigir o rumo e fazer com que o episcopado colombiano ganhe em credibilidade, também nessa área.
A maioria da população na Colômbia define-se como católica. A Conferência Episcopal é uma instituição religiosa, cuja ação é permanentemente resenhada pela imprensa. O fato de que sua nova direção apareça aos olhos da opinião pública mais próxima dos problemas cotidianos dos colombianos, e consciente da necessidade de fazer dos cenários eclesiais lares verdadeiramente seguros, representa uma boa notícia sobre o serviço que com instância eclesiástica pode chegar a desempenhar. Ao menos o trio gera muitas expectativas em um país que, segundo disse recentemente o núncio Luis Mariano Montemayor, é objeto de preocupação do Papa.
Rueda, Sánchez e Alí tem o desafio de articular a agenda do episcopado colombiano com a de Francisco, dando os passos que forem necessários para que a CEC esteja à altura de um momento histórico que reivindica reformas e empatia com as vítimas (não só do conflito armado e da repressão, mas também da Igreja). Bispos ordenados nos tempos de João Paulo II e de Bento XVI são cada vez menos. Os três que a partir de agora devem abraçar a sinodalidade para coordenar as ações em comum dos bispos colombianos fazem pensar em novos tempos. Em novos rumos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O novo rumo da Conferência Episcopal da Colômbia: Dom Rueda, presidente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU