05 Março 2024
"Um mês atrás, houve uma reunião do 'C9' – Conselho dos nove cardeais, entre os quais o secretário de Estado, Pietro Parolin, além de outros oito, representantes dos vários continentes - que ajudam o pontífice a examinar os problemas mais complexos. Pois bem, naquele contexto antes sempre masculino, pela primeira vez estavam presentes três mulheres: duas freiras e - até! - uma bispa anglicana (a Igreja da Inglaterra, depois de um debate apaixonado, em 1992 aceitou a ordenação de mulheres ao pastorado e, em 2008, também ao episcopado)", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 04-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A iminente celebração do dia 8 de março, “Dia da Mulher”, traz de volta questões complexas sobre o papel do mundo feminino na Igreja que, recentemente repropostas pelo episcopado alemão (Dbk), chegarão ao Sínodo dos Bispos em outubro. O Papa continua a reiterar a necessidade de incluir mais mulheres também nas estruturas de tomada de decisão da Igreja católica.
Um mês atrás, houve uma reunião do “C9” – Conselho dos nove cardeais, entre os quais o secretário de Estado, Pietro Parolin, além de outros oito, representantes dos vários continentes - que ajudam o pontífice a examinar os problemas mais complexos.
Pois bem, naquele contexto antes sempre masculino, pela primeira vez estavam presentes três mulheres: duas freiras e - até! - uma bispa anglicana (a Igreja da Inglaterra, depois de um debate apaixonado, em 1992 aceitou a ordenação de mulheres ao pastorado e, em 2008, também ao episcopado).
Agora, depois da sua primeira sessão de 2023, na sua segunda sessão, no outono, o Sínodo dos bispos também terá de abordar o tema dos ministérios femininos.
A admissão de mulheres ao diaconato é pedida por muitos setores, e parece que até Francisco seja favorável a essa perspectiva; mas, do mundo teológico e dos grupos de base, estão crescendo rumores, masculinos e femininos, que preveem para as mulheres também a possibilidade do sacerdócio.
Hipótese que, ao escrever uma carta oficial à DBK em meados de fevereiro, Parolin excluiu firmemente, reiterando o “Não” que o Papa Wojtyla expressou a esse respeito em 1994. O cardeal também pediu à DBK que rejeitasse uma proposta que, no espírito do "Synodaler Weg" (o Caminho sinodal celebrado na Alemanha nos últimos anos) teria levado à criação de um “Comitê sinodal", um órgão composto por bispos, mas também por laicos, homens e mulheres, para guiar a Igreja alemã. Uma “estrutura não prevista pelo Código de Direito Canônico (CIC) de 1983, especificou Parolin.
Agora haverá discussões difíceis entre a Dbk e a Cúria Romana. Mas a probabilidade é alta de que se chegue apenas a um frágil armistício, para adiar o embate para o Sínodo. O CIC, no entanto, prevê uma “Igreja hierárquica”, não “sinodal”: portanto, se esse texto permanecer, há um gargalo insuperável.
Além disso, possui uma estrutura “masculina” na qual “a outra metade da Igreja” não encontra lugar adequado. Volta e meia a referência decisiva volta a ser Jesus: Ele, para a sua Igreja, previu “sacerdócio” (mediação sagrada), ou “ministérios” (serviços à comunidade)? Hoje a Igreja Romana não existiria sem os inúmeros “serviços” que a mulher oferece na catequese, nos hospitais e nas escolas. Contudo, não podem presidir à Eucaristia: por quê? Esse “não” tornou-se – biblicamente, historicamente, eclesialmente – insustentável, Sua Graça Jo Bailey Wells, a bispa anglicana convidada para o C9, deve ter explicado às suas eminências reverendíssimas. Em suma – fica subentendido – o “Não” de João Paulo II não pode basear-se nas Escrituras.
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