Cinco homens são resgatados de trabalho análogo à escravidão em Farroupilha

Trabalhadores foram contratados com falsas promessas em relação à remuneração, alimentação e moradia. (Foto: MPT - RS | Divulgação)

Mais Lidos

  • “A América Latina é a região que está promovendo a agenda de gênero da maneira mais sofisticada”. Entrevista com Bibiana Aído, diretora-geral da ONU Mulheres

    LER MAIS
  • A COP30 confirmou o que já sabíamos: só os pobres querem e podem salvar o planeta. Artigo de Jelson Oliveira

    LER MAIS
  • A formação seminarística forma bons padres? Artigo de Elcio A. Cordeiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

16 Fevereiro 2024

Trabalhadores levados para a colheita da maçã passaram duas semanas em alojamento precário com alimentação escassa.

A reportagem é publicada por Sul21, 14-02-2024. 

Cinco pessoas que trabalhavam em condições análogas à escravidão foram resgatadas em Farroupilha, na Serra Gaúcha, em uma ação fiscal realizada na manhã desta terça-feira (13) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com apoio da Polícia Federal (PF). Os trabalhadores são homens, incluindo dois adolescentes de 15 e 17 anos que estavam desacompanhados de seus representantes legais. Com exceção de um deles, de nacionalidade uruguaia e vindo de Rivera, todos eram provenientes de Santana do Livramento. Eles haviam sido contratados para trabalhar na colheita da maçã, em Linha Jansen, no interior de Farroupilha, e ficaram no local durante duas semanas.

Segundo a coordenadora da fiscalização para combate ao trabalho análogo ao escravo no RS do MTE, Lucilene Pacini, o próprio produtor rural cultivava, selecionava e vendia maçãs para estabelecimentos comerciais diversos. Não há uma empresa de grande porte ligada ao empregador.

Os trabalhadores foram contratados na cidade de origem com falsas promessas em relação à remuneração, alimentação e moradia. O empregador custeou as passagens e efetuou o transporte das pessoas que, ao chegarem na propriedade rural, foram alojadas em péssimas condições de saúde, segurança e higiene.

A remuneração que efetivamente seria paga aos trabalhadores não correspondia ao salário oferecido originalmente. O valor prometido por dia de trabalho somente se concretizaria caso as pessoas trabalhassem no mínimo 16 horas por dia, o que significaria – se tal horário fosse cumprido – extrapolação da jornada de trabalho legal em oito horas por dia. Não havia dia para descanso e os dias de chuva não eram remunerados.

Higiene precária e alimentação escassa

Para acesso ao alojamento, que ficava escondido nos fundos de uma câmara fria e que permanecia fechado por uma porta de metal justamente para não ser descoberto, os trabalhadores precisavam atravessar a sala de máquinas do sistema de refrigeração do estabelecimento. Eles eram orientados a fugir e se esconder se houvesse fiscalização na propriedade rural, ou a indicar outros locais como sendo seu alojamento.

"Máquinas ruidosas ficavam dentro do alojamento dos trabalhadores, entre a cozinha e o quarto. (Foto: MPT - RS | Divulgação)

Além de estar situado em local impróprio, ruidoso em função do funcionamento do maquinário, as condições de limpeza e sanitárias do alojamento eram precárias, com esgoto a céu aberto, e não eram fornecidos itens para limpeza e higiene, inclusive papel higiênico. Nas camas havia colchões velhos, desgastados ou somente espumas. O alojamento foi interditado pelos auditores-fiscais do Trabalho.

Segundo a Fiscalização do Trabalho, a comida fornecida era escassa e pouco variada, basicamente feijão, arroz e pedaços de frango, insuficiente na divisão entre todos os trabalhadores. Qualquer alimento a mais seria cobrado pelo empregador, assim como todos os utensílios necessários para alojamento ou trabalho.

Pós-resgate

O empregador foi conduzido à delegacia da PF de Caxias do Sul e preso em flagrante pelos crimes de redução à condição análoga à de escravo e de tráfico de pessoas.

O MTE está adotando os procedimentos de pós-resgate: a hospedagem dos empregados em outro local; o cálculo e a cobrança de verbas rescisórias e valores devidos; o encaminhamento do seguro-desemprego para os resgatados e custeio do retorno às cidades de origem. O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul está investigando o caso.

No início de fevereiro, 18 trabalhadores argentinos em situação análoga à escravidão foram resgatados em São Marcos, também na serra gaúcha. Para Luciene, a divulgação do último resgate “com certeza contribuiu para que esse caso [de Farroupilha] chegasse até as autoridades policiais”.

Leia mais