07 Fevereiro 2024
As maiores economias estão dando passos acelerados rumo às energias renováveis, impulsionadas pela questão ambiental, mas também por questões industriais, de domínio da tecnologia e de segurança no fornecimento de energia.
A reportagem é de Javier Lewkowicz, publicada por Página/12, 06-02-2024. A tradução é do Cepat.
Tanto pela sua responsabilidade histórica no acúmulo de gases de efeito estufa causadores do aquecimento global, como por serem hoje grandes poluidores, as potências econômicas carregam nas costas o destino do equilíbrio ecossistêmico do planeta. Ou seja, se não modificarem drasticamente a direção das suas emissões de carbono, dentro de algumas décadas a temperatura global ultrapassará o aumento de 1,5 grau centígrado em comparação com o período pré-industrial, com enormes consequências negativas, especialmente para os países mais pobres
Portanto, cabe perguntar quais ações estão sendo realizadas em termos de descarbonização pelos Estados Unidos e pela União Europeia, historicamente responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, juntamente com a China, país que é de longe o maior emissor de carbono.
De acordo com os últimos dados disponíveis, a China é responsável pela emissão de 30,9% dos gases de efeito estufa, seguida, de longe, pelos Estados Unidos (13,5%), Índia (7%), Rússia (4,6%), Japão (2,9%) e Alemanha (1,8%). Contudo, em termos per capita, os Estados Unidos duplicam as emissões da China.
Em virtude dos seus ambiciosos compromissos climáticos assumidos no cenário global, que contemplam a neutralidade carbônica até 2050, no caso dos Estados Unidos e da União Europeia, e em 2060, no caso da China, estas economias vêm acelerando ano após ano a adoção de medidas de mitigação, particularmente investimentos em energias renováveis. Mas, além disso, torna-se cada vez mais claro que não se trata apenas de uma corrida ambiental, mas também industrial, pelo domínio das novas tecnologias e também associada à segurança do abastecimento interno.
As energias renováveis são apenas um aspecto da transição energética, que é muito mais ampla e envolve questões como a conservação dos ecossistemas, a eficiência energética, a economia circular, mudanças nos modos de produção e consumo e a transformação de setores-chave como os transportes, a agricultura e a pecuária. Mesmo assim, há analistas que alertam que a velocidade de produção e consumo do capitalismo atual é incompatível com a capacidade de atingir as metas ambientais.
A matriz energética estadunidense depende 36% do petróleo e 33% do gás, seguidos pelas energias renováveis (13%), carvão (10%) e nuclear (8%). Assim, 80% da energia consumida pela potência do Norte provém de fontes fósseis, que têm impacto no aquecimento global.
No entanto, espera-se que nos próximos anos estes números mudem a uma velocidade muito maior do que tem acontecido até agora, com base numa série de políticas industriais muito fortes que os Estados Unidos implementando, onde se encontra a Lei de Redução da Inflação (IRA). A IRA fornece certificados de crédito fiscal para investimentos associados à transição energética, com um financiamento total de 369 bilhões de dólares.
A vedete dos investimentos é o setor de painéis fotovoltaicos, que poderá crescer até 75% nos próximos dois anos. As energias renováveis, juntamente com a energia hidrelétrica, poderão representar um quarto da energia total consumida pelo país, enquanto o carvão cairá, o que implicará uma queda na produção daquele mineral de 26%, o que terá um impacto nas regiões carboníferas estadunidenses.
Ao mesmo tempo, verifica-se uma notável expansão da capacidade de armazenamento das baterias, de forma a proporcionar estabilidade às energias renováveis. Espera-se que até 2026 a capacidade atinja 40 GW, enquanto em 2019 era de apenas 1 GW. Em suma, até 2030 os Estados Unidos pretendem reduzir as suas emissões entre 32% e 42% em relação a 2005, graças ao fato de as energias renováveis explicarem 80% da matriz elétrica (que é uma componente da matriz energética total).
O carvão representa 55% da matriz energética da China, que é o combustível mais poluente. Os próximos em importância são o petróleo (17%), o gás (8,5%) e a energia hidrelétrica (7,7%). A energia renovável representa 8% do mix total.
Ao todo, as fontes fósseis representam cerca de 81% da matriz energética total. Este número era de 92% em 2011. Tal redução, se tivermos em conta o forte crescimento da economia, e, portanto, do consumo de energia, nesse período, é muito importante.
Ao mesmo tempo, a energia proveniente de fontes com emissões de carbono baixas ou nulas é de 18,4%, quando em 2011 era de 7,8%. Olhando apenas para a matriz elétrica, um terço do consumo é suprido pelas energias renováveis, o que inclui, na classificação chinesa, as hidrelétricas.
O grau de progresso nas energias renováveis na China é extraordinário: em 2023, o gigante asiático colocou em funcionamento tanta energia solar fotovoltaica quanto o mundo inteiro em 2022, enquanto as suas centrais eólicas também cresceram 66% em termos anuais.
Para a China, a corrida tecnológica das energias renováveis também representa uma oportunidade fabulosa para reforçar o seu domínio, uma vez que a produção daquele país representa 80% do mercado global de painéis solares. Tem também implicações em termos de segurança energética, uma vez que a China é altamente dependente das importações de petróleo (as compras externas representam 85% do consumo interno), gás (40% do consumo interno) e carvão (7%).
Cerca de metade da energia que a União Europeia consome é importada e o restante é produzido internamente. No mix energético da região, os derivados do petróleo representam um terço da matriz, seguidos do gás (23%), das energias renováveis (17%) e da energia nuclear (13%). É claro que estas percentagens variam muito em toda a União Europeia. Por exemplo, enquanto Chipre e Malta utilizam 86% de petróleo em seu mix energético, a Suécia tem 48% de energias renováveis e a Dinamarca 41%.
Se olharmos apenas para a matriz elétrica, em 2022 40% da produção foi oriunda de fontes renováveis – e subirá para 61% em 2028 –, o que representa um grande avanço em relação à participação das renováveis em 2004, quando era de 16%.
O avanço das energias renováveis e o investimento destes países na melhoria da eficiência energética permitiram que as emissões de gases de efeito estufa em 2022 fossem 22% inferiores às de 2008 e 32% inferiores às de 1990.
Uma questão interessante é que o último avanço em painéis solares tem sido impulsionado pela energia distribuída, ou seja, instalações em residências e edifícios. A principal causa deste avanço é o aumento dos preços da eletricidade, o que torna atrativo o investimento em painéis solares, permitindo-lhes depois deixar de comprar da rede e, eventualmente, vender eletricidade. Os países que lideram esta questão são a Alemanha, a Itália, a Espanha, a Suécia, o Reino Unido, a França, os Países Baixos e a Bélgica.
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O que as potências estão fazendo para enfrentar a transição energética? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU