04 Fevereiro 2024
No fim de fevereiro, o bispo Joseph Strickland será o orador principal em um grande jantar de gala para ativistas conservadores e autoridades republicanas, pouco mais de três meses depois que o Papa Francisco o removeu de sua liderança na Diocese de Tyler, Texas.
A reportagem é de Brian Fraga, publicada em National Catholic Reporter, 26-01-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Strickland, um clérigo cuja popularidade entre os católicos conservadores não diminuiu desde que o papa o demitiu em 11 de novembro, após uma investigação do Vaticano sobre seu estilo de gestão e liderança, deve falar no dia 23 de fevereiro no Jantar Anual Ronald Reagan, no Congresso da Ação Política Conservadora, em Washington.
“Estamos honrados por ter esse corajoso líder católico assumindo esse importante papel durante o @CPAC”, postou Matt Schlapp – presidente do CPAC e ex-copresidente do grupo de campanha Católicos por Trump em 2020 – no X, no dia 26 de janeiro.
Schlapp, que em janeiro de 2023 foi acusado de agredir sexualmente um assessor de campanha para a fracassada corrida ao Senado de Herschel Walker na Geórgia, disse ao canal de direita Newsmax que Strickland também celebrará uma missa para os participantes católicos presentes no congresso CPAC de 21 a 24 de fevereiro (Schlapp, por meio de seu advogado, negou as acusações do assessor).
Strickland não é o primeiro clérigo católico de direita a receber um espaço de destaque no CPAC depois de ter sido repreendido pelas autoridades eclesiásticas. Em 2021, o Pe. James Altman, um padre renegado que foi removido de sua paróquia em La Crosse, Wisconsin, por ser divisivo, deu uma bênção e sentou-se para uma entrevista durante um congresso CPAC em Dallas.
A notícia da participação de Strickland em um fórum com a participação de ativistas de extrema direita como Steve Bannon, Jack Posobiec, Sebastian Gorka e Kari Lake, entre outros, causou surpresa entre alguns dos críticos de Strickland em sua diocese natal.
“Ele está entrando na política agora ou concorrendo a um cargo público?”, perguntou Cindy Plummer, uma ex-funcionária diocesana que estava entre os vários funcionários diocesanos demitidos abruptamente por Strickland em 2018.
Amanda Martínez Beck, ex-editora-chefe da revista da Diocese de Tyler, disse ao NCR que a participação de Strickland no CPAC tem tudo a ver com o fato de “agradar uma base conservadora que quer ser reacionária contra o espectro da esquerda – na qual o Papa Francisco se situa, de acordo com aqueles que têm um lugar no CPAC”.
Beck disse que a retórica estridente e o partidarismo de Strickland, que ele amplificou nas redes sociais digitais, fizeram dela uma católica desiludida e frustrada. “A Igreja é uma entidade política: e como poderia não ser se a vida e a dignidade das pessoas estão em jogo? Mas não deveria ser partidária”, disse Beck.
Em junho de 2023, o Vaticano iniciou uma investigação formal, conhecida como visitação apostólica, sobre as Diocese de Tyler. Os entrevistados disseram ao NCR que os bispos que conduziram a visita lhes perguntaram sobre a maneira como Strickland lidava com questões financeiras e sobre seu estilo de gestão, incluindo seus efeitos sobre o estado de ânimo presbiteral.
Em 11 de novembro, o Vaticano anunciou que Strickland havia sido “dispensado” de seu cargo. O arcebispo de Galveston-Houston, cardeal Daniel DiNardo, disse em um comunicado que o papa removeu Strickland depois que este recusou pedidos de renúncia.
A remoção de Strickland do ministério episcopal seguiu-se a uma série de controvérsias nos últimos anos, nas quais ele recorreu às redes sociais digitais para atacar Francisco, acusando o papa de minar a fé católica e endossando um vídeo que descrevia o pontífice como um “palhaço diabolicamente desorientado”.
Desde 2020, o agora ex-bispo de Tyler também questionou a segurança das vacinas contra o coronavírus, endossou um vídeo que sugeria que os católicos não podiam votar em candidatos democratas e dirigiu-se a um comício político que procurava anular os resultados das eleições presidenciais de 2020.
A retórica estridente e as posições linha-dura de Strickland podem ter prejudicado sua carreira episcopal, mas também o tornaram querido aos católicos conservadores e de direita que têm gostado de sua abordagem franca e contundente às questões eclesiais e políticas.
Desde que foi demitido por Francisco, Strickland rezou com apoiadores em Baltimore, fora da assembleia plenária da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, e lançou um site pessoal reformulado em que ele posta cartas aos padres exortando-os a uma maior piedade.
Strickland foi homenageado com prêmios de grupos como o Priests for Life e continua falando abertamente sobre assuntos da Igreja. Mais recentemente, ele urgiu os bispos católicos a rejeitarem a decisão de Francisco, em dezembro, de permitir que os padres, em alguns casos, abençoem casais gays e outras pessoas que estejam em situações irregulares de vida pessoal.
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Dom Strickland, removido por Francisco, dará palestra em jantar do Partido Republicano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU