09 Janeiro 2024
"Deve-se então ter em mente que as questões relativas às relações entre os sexos não podem ser tratadas como simples regras de comportamento. O eros também exige as suas transgressões, assim como a dignidade da pessoa (além de sua sobrevivência) constitui uma obrigação para com todo ser vivo. São contradições que nos colocam diante de uma enorme tarefa. Onde o primeiro passo a realizar seria fazer respeitar as regras existentes", escreve Gabriella Caramore, autora e estudiosa (La parola di Dio [A palavra Deus], seu ensaio publicado pela Einaudi em 2019), em artigo publicado por Jesus, janeiro de 2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Endurecimento das penas? Uma hora de “educação afetiva” nas escolas? Associações de defesa dos direitos das mulheres na luta contra o sexismo e o machismo? Palavras de ordem como “não ao patriarcado”? Intensificação dos debates nas mídias?
Claro, cada gesto pode ter um peso a fim de rasgar o véu de silêncio sobre esses delitos infames. Mas a impressão é que esses gestos odiosos de vingança assassina e de desprezo pelo gênero feminino continuam a reproduzir-se numa continuidade terrificante. De pouco serve saber que essas práticas são até mais frequentes em culturas diferentes da nossa, e que se trata também de um fenômeno europeu, não apenas italiano. Evidentemente é algo enraizado nas profundezas da “natureza” humana, que tem a ver com a predominância do forte sobre o fraco, com o uso da violência para subjugar aquele que é considerado um "inimigo".
Mas, justamente, esse é o ponto. Devemos saber que vivemos em sociedades estratificadas, onde convivem expressões de civilização fundadas na mente e no coração, juntamente com outras guiadas por instintos irrefletidos.
Deve-se então ter em mente que as questões relativas às relações entre os sexos não podem ser tratadas como simples regras de comportamento. O eros também exige as suas transgressões, assim como a dignidade da pessoa (além de sua sobrevivência) constitui uma obrigação para com todo ser vivo. São contradições que nos colocam diante de uma enorme tarefa. Onde o primeiro passo a realizar seria fazer respeitar as regras existentes: obrigações de distanciamento, levar a sério as denúncias de mulheres ameaçadas, estar sempre em alerta quando um perigo se perfila no horizonte. Mas, olhando para um prazo mais longo, trabalhar para criar sensibilidades comuns, reunindo meninas, meninos, pais, professores, sabendo que pode haver bolsões de preguiça, ignorância e arrogância.
Ao desmantelar o vitimismo de quem vítima não é, construindo solidariedade em vez de antagonismo entre os gêneros, buscando nas palavras cotidianas e nas sabedorias antigas não preceitos a serem aplicados, mas a complexidade da vida a ser entendida, lascas de esperança a serem acesas.
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Mulheres, o longo caminho rumo à dignidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU