18 Dezembro 2023
Pesticidas são associados ao risco para câncer, diabetes, obesidade e até dano genético.
O release é da Alter Conteúdo, 15-12-2023.
Maior consumidor de agrotóxicos do mundo, o Brasil registra uma média de 15 pessoas intoxicadas por dia por estes produtos, sendo que esse número pode ser ainda maior, de acordo com estimativa do próprio Ministério da Saúde. Entre 2010 e 2019, 56.870 pessoas foram envenenadas por agrotóxicos no País, sendo 9.806 registros de crianças entre 0 e 14 anos, ocasionando em 91 mortes. Dados do recém-lançado “Atlas dos Agrotóxicos” revelam ainda que esses produtos são associados ao risco aumentado para câncer de fígado e de mama, diabetes tipo 2, asma, obesidade, risco de aborto, má formação fetal, entre outras doenças.
Com a recente aprovação pelo Senado do chamado Pacote do Veneno, a expectativa é de que o número de novos registros de agrotóxicos cresça ainda mais, uma vez que o Ministério da Agricultura passa a ser o único órgão registrante desses produtos, restando ao Ibama e à Anvisa um papel subordinado na avaliação ou homologação das avaliações. Outra alteração prevista pelo Projeto de Lei 1459/2022 é a criação do “risco aceitável” para substâncias que atualmente tem registro proibido por terem impactos relacionados ao desenvolvimento de câncer, alterações hormonais, problemas reprodutivos ou danos genéticos.
O impacto do atendimento para casos de intoxicação gera um custo de R$45 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Isso significa que cada US$1 gasto na compra de agrotóxico pode onerar o SUS em US$1,28. Pode-se gastar até R$ 150 por caso dessas intoxicações, o que pode ser estimado em um custo anual de R$ 45 milhões.
Os dados levantados pelo “Atlas dos Agrotóxicos” mostram ainda que há um recorte de gênero com relação à saúde, revelando um quadro grave de impacto sobre a saúde das mulheres e também à infância, já que a ameaça à vida das crianças começa antes mesmo que elas nasçam. Há registros de casos de abortos em função da exposição aos agrotóxicos, partos prematuros, bebês gerados com malformação fetal e/ou que apresentam puberdade precoce nos primeiros anos de vida.
Este impacto se dá, também, na saúde de crianças e adolescentes. Cerca de 15% de todas as vítimas de intoxicação por agrotóxicos no Brasil pertencem a esse grupo etário. Já entre os bebês, foram 542 intoxicados no período de 2010 a 2019. Além disso, as gestantes também sofreram com esse cenário, com 293 delas intoxicadas no mesmo período. Com efeitos que se estendem além do próprio corpo, a situação pode afetar a saúde de seus bebês por meio do leite materno e até mesmo antes do nascimento.
Muitas das pessoas afetadas por envenenamento pelos agrotóxicos sofrem de efeitos a longo prazo: há evidências sobre a relação entre exposição a agrotóxicos e taxa elevada de doenças crônicas, como Parkinson ou leucemia infantil. No curto prazo, a exposição aguda a esses insumos está ligada a uma série de sintomas debilitantes, como fadiga extrema, apatia, dores de cabeça intensas e dor nos membros. Em situações críticas, há o risco de falha de órgãos vitais, incluindo coração, pulmões e rins.
Esses e outros dados podem ser obtidos no “Atlas dos Agrotóxicos”, disponível pelo link
A exposição a esse risco não se restringe ao Brasil. Atualmente, estima-se que ocorram cerca de 385 milhões de casos de intoxicações agudas por agrotóxicos a cada ano em todo o mundo; em 1990, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número total de intoxicações era de 25 milhões. A escalada desses números ao longo dos anos pode ser atribuída ao uso intensificado de agrotóxicos em escala global. Hoje, 11 mil pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a envenenamentos não intencionais.
Desde 1990, a quantidade mundial de agrotóxicos utilizados aumentou em quase 62%, com crescimento expressivos em regiões específicas: 484% na América do Sul e 97% na Ásia. Essa aceleração no uso de agrotóxicos é particularmente preocupante em regiões do Sul Global, onde as regulamentações ambientais, de saúde e segurança são muitas vezes mais fracas.
A Fundação Heinrich Böll é uma organização política alemã, presente em mais de 35 países. Seus escritórios na América Latina têm um compromisso especial com as organizações da sociedade civil do campo crítico porque acreditam que essas são fundamentais para o fortalecimento democrático. Promover diálogos pela democracia e buscar a garantia dos direitos humanos; atuar em defesa da justiça socioambiental; defender os direitos das mulheres e se posicionar como antirracista são os valores que impulsionam as ideias e ações da Fundação. No Brasil, a organização apoia projetos de diversas organizações da sociedade civil, organiza debates e produz publicações gratuitas. No campo da justiça socioambiental, busca fortalecer o debate público que alie a defesa do meio ambiente com a garantia dos direitos dos povos do campo e da floresta.
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Levantamento revela que 15 pessoas são intoxicadas por agrotóxicos por dia no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU