15 Dezembro 2023
"Se nos estados produtores chovem agrotóxicos, nos estados consumidores os químicos chegam de outra forma: servidos à mesa".
O comentário é de Matheus Zanon, coordenador de contas do Alter Conteúdo, em artigo publicado na newsletter da Alter Comunicação, 15-12-2023.
O "presente" de Natal chegou mais cedo este ano. Embrulhado com pompa pela Frente Parlamentar da Agropecuária e por diversos setores do agronegócio, ganhamos o Pacote do Veneno, como popularmente vem sendo chamado o projeto de lei 1.459/2022, aprovado em novembro pelo Senado nacional e que está a uma canetada do presidente Lula de virar lei.
Algumas mudanças são simbólicas, como a troca do termo “agrotóxico” para “pesticidas” ou “produtos de controle ambiental”. Outras são mais efetivas, como a centralização do registro de agrotóxicos no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Enquanto a sociedade civil se articula pedindo que o presidente vete a nova lei, especialistas endossam os riscos e os impactos dos agrotóxicos no meio ambiente e na saúde humana. Para auxiliar no entendimento do problema, a Fundação Heinrich Böll no Brasil publicou neste mês o “Atlas dos Agrotóxicos”, um compilado de informações sobre o tema no mundo, com um olhar especial sobre o Brasil.
Os dados assustam e encontram comprovação nas matérias que, enfrentando o lobby do agro que alimenta veículos que não falam contra os “defensivos agrícolas” por “questões editoriais”, ainda chegam aos jornais. É o caso do uso de agrotóxicos como arma química para expulsar pequenos produtores de suas terras, como escrito pela pesquisadora Larissa Bombardi no livro “Agrotóxicos e colonialismo químico”.
De acordo com a autora, são vários “casos de populações camponesas e indígenas – propositalmente ou não – atingidas por pulverização aérea de agrotóxicos, com um total de 223 casos entre 2010 e 2019. (...) A aspersão de agrotóxicos, como já dissemos, é apenas a mais nova modalidade da histórica violência contra as populações indígenas e camponesas do país”.
O tema da pulverização aérea foi foco de uma reportagem publicada no #Colabora, que conta a história de crianças vítimas de exposição aos agrotóxicos em um caso emblemático ocorrido em Goiás.
E se nos estados produtores chovem agrotóxicos, nos estados consumidores os químicos chegam de outra forma: servidos à mesa.
É o que constata os dados recentes divulgados pela Anvisa, que revela que um em cada quatro alimentos de origem vegetal no país contém resíduos de agrotóxicos, proibidos ou em níveis superiores ao permitido por lei. O levantamento faz parte de um estudo do Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos (PARA), vinculado à Anvisa, com 1.772 amostras de 13 alimentos diferentes, coletados em 79 municípios brasileiros em 2022. O levantamento também mostra que 0,17% das amostras apresentou risco agudo à saúde em caso de ingestão em pouco tempo – como numa refeição.
A presença de agrotóxicos nos alimentos é mais uma faceta da contaminação. Além da comida, água e solos também registram contaminação por agrotóxicos. E os casos de intoxicação humana alarmam. Entre 2010 e 2019, 56.870 pessoas foram intoxicadas com agrotóxicos no país, uma média de 15 pessoas por dia. Mas esse número pode ser ainda maior, de acordo com estimativa do próprio Ministério da Saúde, já que, segundo estimativas, para cada caso notificado, 50 não são.
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Sobre a cabeça aviões, e sobre a mesa veneno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU