11 Novembro 2023
"Por que os jovens continuam querendo sair de seu continente, quando a África precisa absolutamente de seus jovens para construir um futuro?".
O comentário é de Maryse Quashie, professora de Ciências da Educação na Universidade de Lomé, na capital do Togo. O artigo foi publicado em La Croix International, 08-11-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pouco mais de um bilhão de habitantes do nosso planeta têm entre 15 e 24 anos. O Papa Francisco acredita que esse grupo de jovens é suficientemente importante a ponto de virar tema de uma assembleia sinodal, que ocorreu em 2018 e foi seguida de uma exortação apostólica.
Os africanos representam 20% das pessoas que se encontram nessa faixa etária e provavelmente representarão mais de um terço até 2050, quando se prevê que haverá mais de 800 milhões de jovens na África.
O Papa Francisco sentiu que tinha de convocar a assembleia sinodal de 2018 não apenas sobre os jovens, mas também com eles. Então, esses dados demográficos não são por si sós suficientes hoje para que as lideranças da Igreja na África pensem em um encontro com seus jovens?
Mas que tipo de vida esses jovens levam nos países africanos?
“A juventude não é algo que se possa analisar de forma abstrata”, lembra-nos o papa na exortação apostólica Christus vivit. “Na realidade, ‘a juventude’ não existe; o que há são jovens com as suas vidas concretas. No mundo atual, cheio de progresso, muitas destas vidas estão sujeitas ao sofrimento e à manipulação” (CV 71).
Quase 60% dos jovens africanos estão desempregados ou trabalham em empregos que não correspondem às suas qualificações. Isso os deixa com uma vida precária de desempregado ou trabalhador informal.
Esse sofrimento cotidiano, essa vida sem perspectivas, não é suficiente para que as lideranças da Igreja na África pensem em um encontro com seus jovens?
A questão é ainda mais pertinente, levando-se em conta que o Secam (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar) é observador da União Africana desde 2015. A União Africana lançou um projeto em 2012 para uma zona continental de livre comércio, que deverá ser implementada em 2021. Segundo o Banco Mundial, ela tem potencial para “tirar 30 milhões de pessoas da pobreza extrema e aumentar os rendimentos de outros 68 milhões que vivem com menos de 5,50 dólares por dia”. Se o Secam reunisse os jovens e levasse suas queixas à União Africana, isso não faria as coisas avançarem?
A questão é urgente. Por isso, não se trata de se envolver em uma defesa que é sempre lenta a produzir resultados.
“Não podemos limitar-nos a dizer que os jovens são o futuro do mundo: são o presente, estão a enriquecê-lo com a sua contribuição”, diz o papa na Christus vivit. “Um jovem já não é uma criança, encontra-se num momento da vida em que começa a assumir várias responsabilidades, participando com os adultos no desenvolvimento da família, da sociedade, da Igreja” (CV 64).
Agora, ouvimos falar sobretudo dos nossos jovens que atravessam o deserto, tornando-se objeto de atrocidades na Líbia ou na Tunísia, morrendo no Mediterrâneo, deixando a costa do Senegal aos milhares em barcos que naufragam no Atlântico, chegando ao Ocidente apenas para se tornarem migrantes sem documentos, precários ou prostitutas.
Então, essas centenas de milhares de vítimas da migração não valem o esforço das lideranças eclesiais da África, do Secam e da Recowa (Conferência Episcopal Regional da África Ocidental) para pensarem em um encontro com seus jovens?
Isso lhes permitiria compreender por que esses jovens continuam querendo sair de seu continente, custe o que custar. No entanto, a África precisa absolutamente que seus jovens construam um futuro para si próprios, mas também como os santos de hoje.
“Através da santidade dos jovens, a Igreja pode renovar o seu ardor espiritual e o seu vigor apostólico”, afirma o papa. “O bálsamo da santidade gerada pela vida boa de muitos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo, levando-nos àquela plenitude do amor para a qual, desde sempre, estamos chamados” (CV 50).
Isso não encorajaria as lideranças da Igreja na África a convidarem os jovens a se reunirem e a expressarem suas preocupações e seus sonhos? Isso não os inspiraria a devolver a esperança a esses jovens?
Isto é o que o Papa Francisco tem a dizer:
“O amor de Deus e a nossa relação com Cristo vivo não nos impedem de sonhar, não nos pedem para restringir os nossos horizontes. Pelo contrário, esse amor instiga-nos, estimula-nos, lança-nos para uma vida melhor e mais bela. A palavra ‘inquietude’ resume muitas das aspirações do coração dos jovens. [...] Esta sã inquietude, que surge especialmente na juventude, continua a ser a caraterística de qualquer coração que permanece jovem, disponível, aberto” (CV 138).
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“Lideranças da Igreja na África precisam ir ao encontro dos jovens” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU