07 Novembro 2023
"É interessante observar como a popularidade do Papa supere as distinções e os muros da política".
O comentário é de Ilvo Diamanti, sociólogo, politólogo e ensaísta italiano, publicado por La Repubblica, 04-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa Francisco está sempre presente diante dos acontecimentos que atravessam e perturbam o cenário global. Principalmente nestes tempos. De guerra. Ou melhor, de guerras que se sucedem. E geram tragédias infinitas. Sem fim. Em todos os lugares. Hoje, em Israel. No Oriente Médio. Enquanto ainda está em curso a guerra na Ucrânia. Não muito longe das nossas fronteiras. Mas, hoje, menos evidente, porque em primeiro plano, nos nossos sentimentos e nos nossos olhos, narrado e reproduzido nas mídias, está o trágico conflito que envolveu Israel e o Oriente Médio. Depois do ataque do Hamas, o movimento de inspiração religiosa, que, de fato, controla a Faixa de Gaza há quase vinte anos. O Papa Francisco interveio várias vezes a esse respeito. Nos últimos dias, entrevistado pelo diretor do Tg1, Gian Marco Chiocci, afirmou, com evidente dor, que “não foi suficiente ver o holocausto e os 6 milhões de judeus mortos”. Porque, infelizmente, “o antissemitismo permanece escondido”. E, de guerra em guerra, “acostumamo-nos ao horror, às guerras." Mas nós, remarca o Papa Francisco: “Não devemos habituar-nos”. No entanto, é isso que acontece. E há “muitas guerras esquecidas. Porque não nos tocam."
Assim relança o projeto definido pelo acordo de Oslo: “dois povos, dois estados bem delimitados e Jerusalém com um status especial." Palavras que ressoam fortemente. E recordam como “este” Pontífice esteja sempre na linha de frente diante de cada acontecimento, seja trágico ou não.
Também por essa razão o Papa Francisco confirma um elevado nível de confiança entre os cidadãos. Muito superior, comparado à Igreja. Conforme mostra a recente pesquisa realizada pela Demos. É claro que diminuiu nos últimos anos. Mas continua elevado. Compartilhado por quase dois terços dos italianos. Para ser mais preciso: 64%. Um dado que confirma este Pontífice como a figura pública (e a autoridade) mais estimada e credenciada na Itália. Juntamente com o Presidente Sergio Mattarella, a quem dedicamos o Mapa publicado nos últimos dias. Não por acaso. Duas referências certas em tempos incertos. A confiança dos italianos na Igreja, porém, cai. Cai para 34%. O menor índice dos últimos 20 anos. Essa tendência reflete, em primeiro lugar, a evolução da prática religiosa na sociedade.
De fato, conforme revela uma pesquisa do Istat, atualmente 19% dos italianos frequentam locais de culto pelo menos uma vez por semana. 31% “nunca”. A presença nas missas e nos locais de culto é mais “frequente” entre os idosos. Mas “diminui cada vez mais” com a idade. Essa tendência caracteriza também o juízo em relação ao Papa, mas de uma forma muito diferente. Pois o Papa Francisco também é apreciado por aqueles que declaram uma prática “ocasional”. E, de forma significativa, entre os mais jovens. No entanto, o “crédito” para com ele atinge os níveis mais elevados entre os adultos e os mais idosos. Em proporção muito maior que a Igreja.
Talvez o aspecto mais interessante a esse respeito surja quando se consideram as orientações políticas. Em particular, as escolhas de voto. Por outro lado, votar, até a década de 1990, era uma verdadeira “fé”. Acentuada pela “fratura anticomunista”, reproduzida por Silvio Berlusconi, na “Segunda República”. Quando o ‘Cavaliere’ repropôs, na Itália, a linha de demarcação (anticomunista) do Muro de Berlim. Evocando o “muro de Arcore”. Além disso, os reflexos dessa “fratura” são evidentes na linguagem política e antipolítica. A “confiança”, que orienta os cidadãos em relação aos partidos e aos líderes, é uma variante menos exigente da “fé”. E o “crédito” para com os atores políticos e institucionais evoca o conceito de “crer”.
Contudo, é interessante observar como a popularidade do Papa supere as distinções e os muros da política. De fato, atinge o nível mais alto entre os eleitores do FI e do PD. Mas também aparece ampla entre aqueles que votam no M5S e nos FdI. Enquanto atinge o nível mais baixo, embora se confirme “maioritário”, entre os eleitores da Liga. Por razões compreensíveis, visto que o Papa Francisco prega o acolhimento dos migrantes e a abertura das fronteiras. Ou seja, uma mensagem oposta àquela da Liga, que fez do estrangeiro o “símbolo do outro”, diferente de nós, italianos. Útil para demarcar a identidade nacional. Ainda mais depois que a Liga ultrapassou as fronteiras do Norte. E deslocou os centros da desconfiança de Roma para o exterior. O Papa Francisco tornou-se, assim, um “ator” e um símbolo de acolhimento. De abertura ao mundo. Enquanto o mundo fica cada vez mais amedrontador.
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Os italianos têm confiança no Papa Francisco. “Baluarte contra as guerras” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU