03 Outubro 2023
A diminuição das presenças depois da Covid, a ausência dos jovens, a impaciência com os ritos “desinteressantes”. As dioceses italianas questionam-se sobre a sua participação em crise nas celebrações. Fala o Bispo Busca, presidente da Comissão CEI para a liturgia.
A reportagem é de Giacomo Gambassi, publicada por Avvenire, 30-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A campanário não chama mais como acontecia até alguns anos atrás. Em vez de um povo ao redor da Mesa eucarística, há um “rebanho disperso” que frequenta cada vez menos às missas nas paróquias italianas. E alguns falam de “igrejas vazias”. Síntese simplista, para falar a verdade, para explicar a queda na participação nas celebrações. Como mostrou recentemente o jornal on-line dehoniani Settimana News.it. Quem participa de um rito religioso pelo menos uma vez por semana é aproximadamente 19% da população. Um número que diminuiu um terço em dezoito anos. "É vidente a diminuição da prática da fé. Mas é preciso lembrar que a experiência eclesial não se esgota dentro dos limites do rito.
Como narra o Evangelho, Cristo passou fazendo o bem e curando todos que encontrava em contextos comuns da vida. Pois bem, a Igreja intercepta não apenas aqueles que se sentam nos bancos, mas todo o povo de Deus, que inclui também aqueles que se questionam sobre a verdade e o bem. Além disso, não devemos ignorar o fato de que existe uma busca generalizada de espiritualidade no país, da qual a Igreja é chamada a ser intérprete", explica o bispo de Mântua, Dom Gianmarco Busca, presidente da Comissão Episcopal da Conferência Episcopal Italiana – CEI para a Liturgia. E logo propõe uma pergunta: “Deveríamos perguntar-nos: quem se distanciou de quem? São as pessoas que se afastaram da Igreja ou de determinados ritos; ou é a Igreja que se afastou das pessoas perdendo em parte a sua capacidade de encontro em nome do Evangelho? Muitas vezes, de qualquer maneira, deparamo-nos com comunidades com laços frágeis, com pertencimentos fracos e por vezes até com um estilo de fraternidade de velocidade variável".
Questões que estão na agenda da conferência do Trivêneto que se realiza hoje em Verona, onde chegarão 750 representantes das quinze dioceses do Nordeste com seus pastores. É a fase final de um itinerário vindo de baixo que já no título fala da crise das liturgias: “Reencontrar força na Eucaristia". “Nos resumos diocesanos enviados a Roma para o Caminho Sinodal da Igreja italiana – afirma Busca – apareceu uma qualidade comemorativa um tanto decepcionante, um anonimato das liturgias que não pode ser negligenciado. Solicita-se maior atenção dos que presidem e das assembleias. Ou então superar uma gestão clerical dos ritos. Além disso, destaca-se uma lacuna entre liturgia e vida que chama a atenção especialmente na homilia: muitos expressaram sua impaciência diante de reflexões que não têm uma língua materna e não conseguem sintonizar-se no comprimento de onda espiritual que se irradia nas nossas cidades." Busca será um dos palestrantes do encontro de hoje junto com a Irmã Elena Massimi, religiosa das Filhas de Maria Auxiliadora, presidente da Associação dos Professores de Liturgia.
O ponto de partida é precisamente o afastamento da Missa. Um afastamento que a Covid, responsável pelo lockdown nacional em 2020, amplificou. “Com a pandemia – afirma o presidente da Comissão – a frequência aos ritos dominicais sofreu uma queda significativa. Tudo isso revelou incômodos que estavam latentes há tempo. Após a retomada das celebrações comunitárias, um segmento dos fiéis não voltou. A participação deles era meramente rotineira e pouco motivada? Ou há algo mais? Alguns disseram que a emergência sanitária foi uma oportunidade perdida porque não contribuiu para fazer compreender que o encontro com Deus não se dá apenas nos ritos mediados pelo sacerdote e com a comunidade, mas que existe também uma liturgia doméstica centrada na oração familiar. E existe um sacerdócio batismal que precisaria ser mais valorizado. Nós lotamos a web com pseudorrituais. E entre alguns passou a ideia de que a missa na TV não era apenas mais cômoda, mas equivalente. Isso alimentou o risco de uma espiritualidade do tipo 'faça você mesmo' que é semelhante a uma certa cultura contemporânea de molde individualista. Pelo contrário, a experiência cristã implica uma comunidade em carne e osso, que celebra o mistério através da corporeidade, que está no local, onde nos momentos comemorativos se acrescentam percursos de fraternidade e missão”.
Faltam principalmente os jovens à chamada: os praticantes assíduos entre os adolescentes (14-17 anos) passaram de 37% em 2001 para 12% em 2022 e aqueles entre 18 e 19 anos caíram de 23% em 2001 para 8% em 2022. “O afastamento dos jovens da liturgia é o espelho de uma Igreja a duas velocidades: aquela dos idosos que vão à missa e a das novas gerações que se recompactam em grandes eventos como a JMJ ou que têm formas de agregação distintas daquela litúrgica – observa o bispo de Mântua. Não é verdade que os jovens sejam culpados de juvenilismo. As críticas a ritos enfadonhos e indecifráveis, especialmente pouco animados e envolventes, devem ser levadas em consideração. Deve-se avaliar que em Lisboa os jovens participaram com entusiasmo todos os dias da Eucaristia ou que nos acampamentos de verão as celebrações são acolhidas positivamente. Além disso são os próprios jovens que privilegiam contextos comunitários, como são aqueles litúrgicos”. Então por onde recomeçar? Em primeiro lugar, a partir dos itinerários de aproximação à Eucaristia. Com a formação para a liturgia.
“Precisamos de propostas para reaprender a linguagem da alma”, incentiva Busca. “Todo ritual, como o esportivo ou musical, tem uma linguagem iniciática: há palavras, gestos, ações que são entendidos por quem acompanha um esporte ou a música porque alguém o introduziu. A linguagem litúrgica também precisa ser aprendida. E se aprende participando. Ao celebrar, por exemplo, se entende o valor do silêncio, somos tocados pela proximidade dos outros, somos capturados pela mensagem de uma oração, somos ajudados pela explicação da Palavra. Mas há também uma capacidade de adaptação que a liturgia sempre teve. É um corpo vivo, não um fóssil e pode recorrer a novas palavras ou a abordagens que captem as sensibilidades de hoje. Mas cuidado para não cair em formas de tipo televisivo ou excentricidades”.
Além disso, existe a qualidade dos ritos que pode ser resumida no lema Mais missa, menos missas.
“Acontece de celebrar uma Eucaristia dominical para oito pessoas e na hora seguinte para mais quinze. Multiplicar as missas e desmembrar a assembleia é contrário à natureza da Eucaristia que implica o 'convergir num só'. E a quantidade corre o risco de prejudicar a dignidade litúrgica”. Arte e canto podem ajudar. "Não são elementos acessórios, mas parte da própria liturgia", alerta o presidente da Comissão Episcopal. "Eles indicam como o louvor a Deus também se valha de formas culturais diversificadas. Porque culto e cultura andam lado a lado". E o altar é fonte de caridade. Conclui Busca: "na Eucaristia Cristo se faz presente para nos dar o dom da sua Páscoa. Um dom recebido que se torna um dom retribuído no serviço e no abraço. Ter estado à mesa do Senhor abre uma prática de hospitalidade fraterna que é chamada a tornar-se anúncio do Ressuscitado. Caso contrário, tudo se reduz ao assistencialismo ou à filantropia".
“A vida eclesial não gira apenas em torno do altar. As homilias devem unir a Eucaristia e a vida. São necessárias propostas de formação e linguagens mais adequadas aos dias de hoje”.
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Cada vez menos fiéis à Missa “É hora de um novo impulso” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU