Cristãos palestinos denunciam duplo padrão de análises ocidentais sobre a guerra

Foto: Eyad El Baba | UNICEF

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01 Novembro 2023

A Pastoral Popular Luterana (PPL) replicou o manifesto das igrejas cristãs da Palestina, “Um Chamado ao Arrependimento” dirigido aos teólogos e líderes da Igreja ocidental, que denuncia um “duplo padrão colonial”, que “humaniza os judeus israelenses enquanto insiste em desumanizar os palestinos e encobrir seus sofrimentos”.

A reportagem é de Edelberto Behs.

Trata-se, aponta o manifesto, de uma limpeza étnica contínua da Palestina. A ocupação militar “opressiva e racista” constitui um “crime de apartheid”. O bloqueio de Israel a Gaza nos últimos 17 anos transformou a Faixa de 365 quilômetros quadrados “em uma prisão a céu aberto para mais de dois milhões de palestinos – 70% dos quais pertencem a famílias deslocadas durante a Nabka – aos quais são negados seus direitos humanos fundamentais”.

Nabka, uma palavra árabe que significa “catástrofe” ou “desastre”, reporta o êxodo palestino de 1948, quando cerca de 711 mil árabes palestinos, segundo a ONU, fugiram ou foram expulsos de suas casas e terras, em decorrência da guerra civil de 1947-48 travada no Oriente Médio.

“Parece-nos que esse duplo padrão reflete um discurso colonial arraigado e que usou a Bíblia como arma para justificar a limpeza étnica”. As teologias coloniais, diz a carta dos cristãos palestinos, “não estão ultrapassadas; elas continuam em amplas teologias e interpretações sionistas que legitimam a limpeza étnica da Palestina e a difamação e desumanização dos palestinos – inclusive os cristãos – que vivem sob o apartheid colonial sistêmico dos colonos israelenses”.

O manifesto dos cristãos palestinos denuncia o uso de táticas que militares israelenses usam contra civis, como a aplicação de fósforo branco, o corte de água, de combustível e de eletricidade, e o bombardeio de escolas, hospitais e locais de culto – incluindo o massacre no Hospital Anglicano-Batista de Ali-Ahli e o bombardeio da Igreja Ortodoxa Grega de São Porfírio, que dizimou famílias cristãs palestinas inteiras.

“Embora muitos cristãos no Ocidente não tenham problemas com a legitimação teológica da guerra, a grande maioria dos cristãos palestinos não tolera a violência – nem mesmo por parte dos impotentes e ocupados”, frisa o manifesto. Ele lembra que “Deus é o Deus das pessoas oprimidas e que Jesus repreendeu os poderosos e ergueu os marginalizados. Isso está no centro da concepção de justiça de Deus”.

A PPL endossa o manifesto dos cristãos palestinos. Rejeita e denuncia “todas as teologias e interpretações que legitimam o armamento, a violência de grupos terroristas, as guerras dos países imperialistas”. Ela condena tanto o recurso à violência, mesmo em causas justas, sobretudo contra pessoas inocentes, “quando a lei do ‘olho por olho, dente por dente’ justifica a vingança e a legitimidade da violência contra outros seres humanos, mesmo que igualmente inocentes.

“Condenamos quando o nome do Deus vivo, que libertou o povo escravo do Egito e hoje liberta todas as pessoas oprimidas e vulneráveis, é invocado para promover a violência da guerra e ideologias religiosas nacionalistas”, enfatiza a PPL.

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