19 Outubro 2023
Fundar bibliotecas é um pouco como construir celeiros públicos: acumular reservas contra o inverno do espírito que por muitos sinais vejo vindo.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 15-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Toda a minha biografia foi acompanhada pelos livros, desde criança quando admirava e ouvia minha mãe com um livro na mão. Aliás, um arco importante da minha vida passou-se entre as estantes, repletas de textos preciosos, de uma biblioteca histórica, como a Ambrosiana de Milão, e agora posso aceder à beleza suprema da Biblioteca do Vaticano. Nestes tempos “invernais” em nível espiritual torna-se espontâneo para mim repetir as palavras do Imperador Adriano criadas por Marguerite Yourcenar. Em anos em que o número de leitores parece afinar-se cada vez mais, sobretudo entre os jovens de olhos fixos apenas na tela de um computador ou de um celular, é necessário fazer ressoar o apelo para cuidar e aproveitar daqueles celeiros da alma.
Mas há mais. Segundo o historiador grego Hecateu de Abdera, no frontão da biblioteca do faraó Ramsés II estava gravada uma definição hieroglífica que ele traduziu da seguinte forma: Psychês iatréion, "clínica da alma". Claro, nem todos os livros curam, como avisava um leitor sábio, o filósofo inglês Francis Bacon: “Alguns livros são provados, outros devorados, pouquíssimos mastigados e digeridos”. No entanto, devemos lembrar que as bibliotecas são semelhantes a encruzilhadas onde se encontram passado e presente, realidade e sonhos, história e esperança, consenso, dissenso, mas sobretudo senso. Talvez tivesse razão um escritor de grande sucesso justamente com os seus romances populares, Stephen King, quando sugeria, talvez apressadamente: "Quando tudo mais falhar, saia e vá para a biblioteca”.
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"Quando tudo mais falhar, saia e vá para a biblioteca". Comentário de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU