12 Outubro 2023
Em debate final antes do 1° turno na Argentina, candidato de ultradireita que lidera as pesquisas insiste em argumentação negacionista sobre a crise climática.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 10-10-2023.
Faltando poucos dias para o primeiro round das eleições presidenciais na Argentina, o candidato que lidera as pesquisas de intenção de votos “pisou fundo na jaca” do negacionismo climático. No último debate antes da votação, realizado neste domingo (8/20), o ultradireitista Javier Milei rejeitou a ciência ao negar a responsabilidade humana sobre a crise climática e disse que, se eleito, não pretende cumprir qualquer compromisso argentino sob o Acordo de Paris.
A argumentação do candidato chega a ser caricatural de tão ridícula, mesmo para os padrões patéticos da extrema-direita. Em uma frase que não deve ter custado muitas sinapses neurais, Milei acusou a ONU e as negociações internacionais sobre o clima de serem manifestações do “marxismo cultural” e disse que, se eleito, não aderiria à “decadência” por elas representadas.
Questionado sobre a existência da mudança climática e sobre declarações anteriores nas quais classificou o problema como “mentira do socialismo”, o candidato tergiversou, reconhecendo que a questão existe, mas que a humanidade não tem responsabilidade sobre sua ocorrência. Para ele, as discussões políticas internacionais sobre a crise climática só serviriam para “arrecadar fundos para financiar socialistas [bicho-papão preferido da extrema-direita] preguiçosos que escrevem documentos de quinta categoria”.
O negacionismo de Milei é filho bastardo daquele abraçado por outros líderes extremistas da direita, como os ex-presidentes Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil. Além da negação à ciência do clima, esse negacionismo rejeita a responsabilidade humana sobre o problema e acusa os organismos internacionais que lidam com essa agenda de promoverem interesses “marxistas”, “esquerdistas”, “globalistas”, entre outros chavões vazios.
O problema é que o clima não liga para “opiniões políticas” e segue inclemente em suas alterações decorrentes da concentração crescente de gases do efeito estufa na atmosfera. A própria Argentina tem vivido isso na pele nos últimos anos, com uma forte seca que atingiu em cheio o agronegócio, principal setor exportador do país. Com as safras prejudicadas, as exportações diminuíram, o que intensificou os problemas cambiais que a economia argentina enfrenta há décadas.
A ironia é que os problemas econômicos intensificados pela seca extrema estão impulsionando um candidato negacionista na disputa pela presidência argentina. Considerando que passamos por uma situação parecida aqui no Brasil nos últimos quatro anos, deixamos aqui nosso conselho aos hermanos: apostar na negação do problema como caminho para resolvê-lo é um tremendo tiro no pé.
Estadão e Folha repercutiram os disparates de Milei na Argentina.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Candidato negacionista rejeita compromissos do Acordo de Paris na Argentina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU