Poluição atmosférica em Manaus. Artigo de Sandoval Alves Rocha

Vista da zona centro sul de Manaus, com forte fumaça proveniente de queimadas, em 2018 (Foto: Alberto César Araújo | Amazônia Real)

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03 Outubro 2023

"É notável a falta de sensibilidade ecológica ou educação ambiental, não somente por parte da população manauense, mas, principalmente, por parte dos poderes públicos e a concessionária que são diretamente responsáveis pela administração da cidade e pela promoção da qualidade de vida da população", escreve Sandoval Alves Rocha, em artigo enviado diretamente ao Instituto Humanitas Unisinos  IHU.

Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE, MG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.

Eis o artigo.

No mês de agosto usamos esse espaço para alertar sobre a poluição que afeta a Amazônia. Em artigo intitulado “Poluição hídrica na Amazônia” (18/08/2023), relatamos os diferentes tipos de poluição provados pela ação criminosa do homem, destacando a falta de cuidado sobre as águas. A totalidade dos igarapés, assim como os rios que banham a cidade são agredidos cotidianamente de diversas formas pela falta de esgotamento sanitário, pelo lançamento de poluentes nos cursos d’água provenientes das indústrias, do comércio e das residências.

Com ironia, a própria concessionária de água e esgoto tem contribuído para esta situação. O Ministério Público chegou a pedir a condenação da empresa por poluição de igarapés (ATUAL, 30/08/2021). Ultimamente, a responsabilidade da concessionária sobre a poluição das águas tem sido exposta nas discussões sobre a gestão da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu (ATUAL, 25/09/2023). Ignorando a falta de esgotamento sanitário no bairro Redenção, na zona centro-oeste de Manaus, a concessionária promove a poluição do igarapé do Gigante, prejudicando o Lago do Tarumã.

É notável a falta de sensibilidade ecológica ou educação ambiental, não somente por parte da população manauense, mas, principalmente, por parte dos poderes públicos e a concessionária que são diretamente responsáveis pela administração da cidade e pela promoção da qualidade de vida da população. Nesse mês nos deparamos com outra modalidade de poluição, a poluição atmosférica. Em setembro, várias vezes a fumaça dominou a cidade, provocando incômodos e agravando doenças respiratórias.

Órgãos de monitoramento como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus (Semmas) confirmam a gravidade da situação, indicando os lugares afetados pelos incêndios criminosos, dentre eles destacando-se a cidade de Manaus, mas também Autazes, Novo Airão e Iranduba. Segundo o Inpe, somente em setembro as ocorrências já ultrapassam 6.500 casos no Estado do Amazonas.

As reações da população variam entre preocupação e indignação, uma vez que esse problema não é novidade nessa época do ano. Conscientes das ocorrências, os órgãos públicos deveriam se antecipar às ações criminosas, combatendo os causadores desses delitos. Durante os episódios, a visibilidade é comprometida em vários pontos da cidade, prejudicando não somente o turismo e o comércio, mas também a qualidade de vida das populações.

Esses acontecimentos nos fazem refletir sobre os problemas socioambientais agravados nos últimos anos pela ação irresponsável do homem. Perdidos no meio da fumaça e sufocados pela poluição atmosférica, percebemos a indiferença dos nossos gestores públicos e representantes políticos em assuntos de tão elevada importância. Irresponsáveis no combate à pandemia, não esperávamos comportamentos diferentes neste contexto.

Evitamos enxergar os sinais transmitidos pela natureza! Não tiramos nenhuma lição da última crise sanitária que vivemos. Preferimos pensar que a Pandemia foi um ponto fora da curva ou um acidente da natureza. Evitamos perceber que todas essas crises são resultados do nosso estilo de vida pouco sintonizado com os dinamismos ecossistêmicos e muito interessado em acumular riquezas às custas da devastação do planeta. SOS Amazônia! SOS Planeta Terra!

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