09 Agosto 2023
“Que caminhos nos propomos trilhar junto aos povos das florestas e das águas em defesa de seus direitos e pela vida da Amazônia?”. A questão motivadora impulsionou lideranças religiosas e representantes de organizações de fé a promoverem um encontro inter-religioso no último domingo (06) durante os Diálogos Amazônicos. O evento que ocorreu em Belém (Pará, Brasil) entre os dias 04 e 06 de agosto antecede a Cúpula dos Presidentes da Amazônia, que inicia nesta terça-feira (08). A reunião objetivou revisar os caminhos percorridos pelas Igrejas nos temas socioambientais e propor um processo entre a Cúpula da Amazônia e a Conferência das Partes (COP) sobre Mudanças Climáticas que acontecerá em Belém, em 2025.
A reportagem é de Guilherme Cavali.
“Se torna urgente partilharmos reflexões sobre o papel das religiões no diálogo e convocação em um momento em que a governança mundial sobre o clima se encontra crítico”, pontuou Dário Bossi, membro da equipe de coordenação da rede Igrejas e Mineração. “É de suma importância criar processos e construir caminhos de unidade para que se chegue na COP30 em unidade e se consiga potencializar as vozes dos povos nesse espaço que por vezes é cooptado pelas empresas”. O missionário comboniano ressaltou a importância de uma conversação permanente entre as realidades das Igrejas nas regiões amazônicas com organizações que estão fora dela: “como um movimento pedagógico, de diálogo desde uma educação popular, precisamos estabelecer essa ponte entre as atividades que construímos e acompanhamos na região e aquelas que são pensadas em níveis globais. A Conferência das Partes (COP30) sobre Mudanças Climáticas de 2025 acontecerá na Amazônia, mas fala com o mundo. Como nos envolvemos?”, pontuou o religioso.
O diálogo coordenado pela Rede Igrejas e Mineração (RIM) reuniu representantes da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI-Brasil), Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito (FEED) e representantes da Igreja Anglicana. A articulação de entidades continuará a se encontrar em diálogos com organizações indígenas, afros e de comunidades tradicionais em construção de uma agenda em defesa da natureza e dos povos que a sustentam.
Missionários durante os Diálogos Amazônicos (Foto: Guilherme Cavali)
A secretária-geral do CONIC, pastora Romi Bencke, recordou a experiência profética do Tapiri, espaço Ecumênico e Inter-religioso que reuniu vozes de lideranças indígenas, quilombolas, e outras espiritualidades para debater perspectivas de proteção das florestas durante o Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), em 2022. “O que vivemos com o Tapiri nos trouxe a urgência de nos perguntarmos o que nós, como religiões cristãs, como preocupados com o mundo, precisamos aprender com as espiritualidades da floresta. As espiritualidades dos povos e o acompanhamento das Igrejas Cristãs são caminhos para garantir a existência da Amazônia”, pontuou a reverenda.
A reflexão da pastora foi seguida por Dimas Galvão, do setor de projetos e formação da CESE, que recordou as inquietações trazidas pelos povos indígenas no Tapiri. “Durante o FOSPA os povos provocaram as Igrejas: “é isso mesmo que vocês querem? O discurso está lindo, mas a prática tem que mudar. Há que ter um fazer mais coerente com o discurso que fazemos”, recordou Galvão. Como proposta, o grupo reunido reflete que novos “Tapiris” sejam promovidos em territórios da Pan-Amazônia e a dialogar sobre a presença no próximo FOSPA que será sediado na Bolívia. Tapiri é uma palavra indígena que significa “Palhoça onde se abrigam caminheiros/as”. No FOSPA de 2022 se optou pelo nome como símbolo de fortalecendo as lutas pela promoção e garantia dos direitos dos povos da Amazônia e o combate aos fundamentalismos religiosos e políticos.
Para o pastor Wilson, da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, sediar a COP30 em Belém, na Amazônia brasileira, significa um último chamado para a urgência de preservar a região. “O Brasil com a Amazônia é a última fronteira para a exploração capitalista. A COP30 na Amazônia representa essa última oportunidade de futuro. Ao mesmo tempo, a Amazônia é tudo o que o capitalismo precisa para continuar: água, minério, madeira e a busca através da religião de mercado”, ressaltou. “Por isso a COP30 chega na Amazônia e vê a região como uma última fronteira tanto para o capitalismo como para as alternativas ao mundo e as crises socioambientais”. O pastor e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) considera a oportunidade que trará a COP30 para Belém como decisória para barrar o avanço de um projeto exploratório que ameaça a vida no planeta.
O grupo reunido, em unidade, pontuou que as espiritualidades dos povos e o acompanhamento das Igrejas Cristãs são caminhos para garantir a vida da Amazônia. Ao mesmo tempo, pontuou que as religiões têm desempenhado historicamente um papel decisivo na colonização pela cruz que se juntou à espada e que hoje aparece com novas práticas de desrespeito às culturas e espiritualidades. Nesse sentido, se pontuou a urgência de “promover uma abertura e uma conversão às avessas por parte das Igrejas”, para que as religiões aprendam dos povos da floresta e possibilitem compreender o sagrado na água, o sagrado presente na natureza, como um caminho de promover ensinamentos presentes na Encíclica do papa Francisco Laudato Si', ou da “Confissão de Accra”, que pontuam temas sobre a urgência das questões climáticas e de justiça socioambiental.
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Organizações cristãs presentes nos Diálogos Amazônicos refletem caminhos para defesa da floresta e dos povos na região Pan-Amazônica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU