13 Setembro 2023
"Não pode o povo de Deus celebrar a Palavra com dignidade litúrgica?", questiona Elsa Antoniazzi, irmã da congregação das freiras Marcelinas, filósofa pela Universidade Católica de Milão e é membro da Coordenação de Teólogos Italianos, em artigo publicado por Settimana News, 11-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
De memória, poderíamos dizer que há pelo menos 30 anos na Igreja italiana se discute sobre a redução do clero. E, ao mesmo tempo, foram postas em prática algumas iniciativas no sentido da unificação. Naquela época, porém, ainda havia padres na faixa dos 50 e 60 anos e, portanto, a questão era conseguir que alguém concordasse em não ser mais pároco, bem como convencer os seminaristas, que ainda existiam, a não pensar tornar-se imediatamente párocos.
Porém, tudo isso sem nenhuma ordem específica, por meio de experimentações e alquimias entre padres e, algumas vezes, religiosas. E sobretudo sem nunca olhar para trás: quem estava chegando?
Nesse contexto, a carta do bispo de Turim abre caminhos e oferece a oportunidade para algumas considerações de natureza diferente. No contexto da carta, parece clara a consciência de que as pequenas comunidades não estão abandonadas, estão ligadas entre si e é-lhes oferecido um centro eucarístico para uma celebração digna desse nome, mas também para um amplo exercício da caridade e da formação.
É absolutamente verdade que o carro é usado para tudo e para as nossas comunidades a distância do local da celebração não deveria ser um problema. Por outro lado, existe uma preguiça em relação ao local e ao horário da celebração insustentável e em nada justificada.
No entanto, muitas comunidades são idosas, especialmente aquelas de pequenos centros, por isso surge a questão de saber se o deslocamento para elas será eficaz. E, além disso, o Piemonte tem montanhas, e em geral a Itália com os seus Alpes, Pré-Alpes, Apeninos, é feita de muitas montanhas... e aqui entra em jogo a viabilidade concreta.
Neve e gelo, água? A instabilidade do clima nos sugere fenômenos muito mais fortes do que o normal, produzindo situações em que é desaconselhado um deslocamento. Nesse caso, o risco é voltar a assistir à missa pela TV, talvez com transmissão por streaming do centro eucarístico da região.
Mas todas essas dificuldades, técnicas e gradualmente enfrentáveis, tornam-se na realidade elementos significativos porque o pano de fundo em que se situa a estruturação da vida das comunidades é aquele de um esquema tradicional: o padre preside perante o povo de Deus.
Sim, existem ministros e haverá o trio de leigos responsáveis nos pequenos centros, mas a unicidade da presidência deve ser preservada. E, efetivamente, as funções do trio são reduzidas a pouco: manter a igreja aberta e genericamente possibilitar rezar. O aspecto convincente é que se trata de um trio e que o encargo tem uma duração específica.
O número ímpar serve para chegar à decisão. A ideia de um casal ser responsável pela comunidade foi sugerida como natural. A ideia, no entanto, tem realmente muitos elementos negativos: ressalta ainda mais como nas nossas comunidades cristãs aqueles que não são casados não são considerados figuras significativas. Tal hipótese demonstra, além disso, que não se conhece bem a dinâmica de uma família; o trabalho dos dois pais e o empenho pastoral de ambos como condicionam a vida de casal e a vida de família?
Mas a fraqueza das funções confiadas ao trio e a preocupação da presidência são bastante significativas.
O que aconteceu, por exemplo, com o antigo, mas sempre útil “cuidado das almas”, a visita aos enfermos e muito mais: ainda pensamos que tudo fica nas costas de um único presidente?
E depois, no famoso domingo em que pode ser impossível chegar à Missa, não poderá a comunidade viver a comunhão eclesial com uma liturgia da Palavra, confiando talvez ao catequista a tarefa de “presidir”?
Em muitas comunidades existe o hábito da oração com a distribuição da Eucaristia, que quando se torna prática é um horror litúrgico. E o Bispo Repole tinha razão em não evocar isso. Dito isso, porém, permanece a pergunta: não pode o povo de Deus celebrar a Palavra com dignidade litúrgica?
Existem várias soluções para enfrentar o declínio do número de padres. A diocese de Milão, por exemplo, criou o instrumento da “diaconia” para o cuidado das unidades pastorais. A presidência é sempre claramente exercida pelo pároco, mas a presença de encarregados pelos vários setores (ministros, religiosos, leigos), em diálogo com o conselho pastoral, e em obediência a ele, sugere - pelo menos no papel - uma prática de caminhar juntos que é interessante. Contudo, essa estrutura ainda requer uma presença significativa de povo e ministros.
A verdadeira objeção a diferentes propostas corre o risco de estar cada vez mais ligada ao papel e ao significado da presidência na comunidade... e isso porque, apesar de tudo, algum presidente ainda é ordenado todos os anos.
Efetivamente, esse é o lado que não muda e, pelo contrário, deveria mudar. Se o pastor deve conduzir e estar com as ovelhas, o caminho também tem a ver com tudo isso! Esquecendo a metáfora, o ministério do presbítero não deveria ser repensado?
As hesitações acima indicadas mostram como a falta cada vez mais evidente de ministros ainda não foi suficiente para incentivar a reflexão. No que diz respeito à participação do laicato, o Papa deu uma ajuda instituindo o ministério do catequista, uma presença muito importante em outros lugares do mundo. Mas a ministerialidade generalizada, o sacerdócio batismal, são talentos ainda pouco frequentados. E também o próximo Sínodo sobre a sinodalidade.
A impressão, porém, é que até que a situação das comunidades nos levar a reler o ministério, só podemos esperar na resistência psicofísica e espiritual dos pastores.
Um homem tão ocupado por mil incumbências, mesmo que apenas para coordenar, poderá ter tempo para refletir sozinho ou com outros sobre como estar no hoje e ter aquela delicadeza paciente para se aproximar das pessoas distantes que de alguma forma interpelam a vida eclesial?
Mas repensar a configuração do ministério não é tarefa de um único bispo nem mesmo de uma diocese.
No caminho sinodal italiano a questão foi colocada na agenda, esperamos avançar no sentido de uma capacidade para coletar os aspectos mais convincentes propostos até agora, que tragam em si as características locais, mas também aspectos eclesiológicos que dizem respeito a todas as Igrejas.
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A paróquia pode ser mudada, mas como? Artigo de Elsa Antoniazzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU