15 Agosto 2023
"Todos se lembram da derrota como um evento doloroso. Massimo Cacciari, numa inteligente entrevista publicada no Unità de 10 de agosto de 2023, confessa como para ele e para a sua geração (Giorgio Agamben, Roberto Esposito, Mario Tronti, etc.) artífice de um discurso político fortemente elaborado, após alguns resultados brilhantes e importantes, a derrota se manifestou", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 14-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na minha vida atual, ainda animada por muitos encontros, é bastante fácil ficar sabendo tudo sobre pessoas que, depois de já ter tido oportunidade de ouvi-las e lê-las, agora já em idade adiantada encontro e conheço pessoalmente no grande dom de poder colocar mão na mão e praticar um acolhimento intelectual recíproco. É uma experiência preciosa, talvez possível com todas as suas graças apenas na velhice, certamente um dom que, por um lado, proporciona uma alegria profunda, um prazer que é um prazer da vida e, por outro, abre a uma comunhão que não se conhecia nem se supunha antes. Talvez porque nesses encontros estão presentes muitas memórias de uma longa vida vivida em muitas situações que, comparadas e compartilhadas, propiciam profundidade de sabedoria.
Certamente para mim é um tema de reflexão a grande presença de derrotados na minha geração. Eu sei que "derrotado" é um atributo impronunciável, que não deve ser aplicado a uma pessoa, mas na verdade sempre constatamos a presença de derrotados e talvez, quando nos tornamos idosos, o seu número parece aumentar…
Todos se lembram da derrota como um evento doloroso. Massimo Cacciari, numa inteligente entrevista publicada no Unità de 10 de agosto de 2023, confessa como para ele e para a sua geração (Giorgio Agamben, Roberto Esposito, Mario Tronti, etc.) artífice de um discurso político fortemente elaborado, após alguns resultados brilhantes e importantes, a derrota se manifestou. Atenção, foi uma derrota, não uma rendição, e nem mesmo foi uma negação de si mesmos para passar para o lado do adversário.
Certamente aquela geração fracassou e o mesmo pode ser dito também de outras. E a derrota abala a segurança do projeto. Mas para ser derrota e não rendição incondicional deve ser elaborada, tornando mais agudo o pensamento e sendo mais resistentes à celebração do vencedor. A derrota deve fortalecer para poder preparar para um futuro embate com outras mentes, sem nunca ceder ao pensamento único que, ao contrário, sempre impede se ver derrotados. Porque numa rendição desse tipo, se perde o rigor e o sentido da justiça, e dia após dia se apaga o pensamento antigo, aquietam-se as perguntas daqueles que pediam: por quê?
E é significativo que também na Igreja seja abundante a presença de derrotados. Não se quer ver, não se quer dar-lhes voz e a afasia faz parte da patologia. No entanto, continua sendo verdade que muitos na Igreja já não têm mais esperança para o seu futuro, não acreditam mais no “sonho” (assim o chamam) de João XXIII expresso no Concílio. Mas quando desaparece a esperança, desaparece a fé e a caridade arrefece, o que resta da Igreja?
No entanto, ser derrotados não significa estar errados! Abba Pambo dizia a João que chorava por ter sido derrotado pelo diabo: "Se você foi derrotado, você teve uma vida cristã!". Que aos tantos que se acreditam derrotados nesta Itália de hoje, nunca se diga: "Vocês estão fora", e, sob as cinzas, as brasas voltarão a arder.