19 Junho 2023
Bilhete só de ida. Sem pressa, o Papa Francisco decidiu enviar de volta à Alemanha dom Georg Gänswein. Ele havia chegado a Roma em 1995, um ano depois de Joseph Ratzinger, na época prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, que o quis a seu lado. Quando em 2005 foi eleito Papa, Gänswein o seguiu. Simpatias tradicionalistas, belo porte físico, presença na aristocracia papal, ele era uma das figuras mais poderosas do Vaticano. Até a renúncia chocante do papa alemão – que o secretário tentou evitar – e a inesperada eleição de Bergoglio.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 16-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa argentino o manteve como prefeito da casa pontifícia, o homem que em teoria organiza a agenda do pontífice, esvaziando seu papel. Francisco esquivou-se do controle da Cúria que Ratzinger não conseguiu reformar. Ele revolucionou o protocolo. E governou uma coabitação inédita, e potencialmente explosiva, com um Papa emérito que vivia a poucas centenas de metros de distância. Propiciando uma virada, em termos de temas e estilo, mas ostentando continuidade e sintonia com o antecessor. Um exercício às vezes acrobático que Gänswein repetidamente ameaçou fazer malograr.
Discretamente, até 31 de dezembro do ano passado. E escancaradamente poucas horas depois da morte de Bento XVI. Quando com uma saraivada de declarações tomou de mira a paz institucional entre os dois papas. A comitiva de Francisco reagiu chocada à tentativa de contrapor os dois pontífices quando Bento não podia mais falar. Mas a confusão passou do ponto: os dignitários da Cúria wojtyliana, como vários ratzingerianos de peso, tomaram as distâncias. A morte de Bento XVI, por sua vez, frisou Bergoglio, foi "explorada" por "pessoas que não têm ética, gente de partido, não de Igreja”.
Desde então, Francisco recebeu Dom Georg várias vezes, mas postergou por muito tempo qualquer decisão sobre seu futuro. Isso fez com que as águas se acalmassem. O secretário do pontífice, além disso, historicamente foi uma figura quase invisível. Só a partir de João Paulo II o secretário, dom Stanislaw Dziwisz, tornou-se um personagem conhecido do grande público. Todos, de qualquer forma, deixaram Roma após o término do "seu" pontificado.
Nas últimas semanas, vários cargos possíveis foram explorados para Gänswein. O último, a ideia de nomeá-lo núncio em Lichtenstein, acabou não tendo sucesso. Praticamente nenhuma diocese alemã teria recebido de braços abertos um prelado tão conservador.
Com uma nota concisa, ontem, a Santa Sé informou que a partir de 28 de fevereiro passado ele não é mais prefeito da Casa Pontifícia. E “o Santo Padre determinou que a partir de 1º de julho, D. Gänswein voltasse, por enquanto, à sua diocese de origem”.
A incerteza reina entre os padres de Freiburg. Será uma diocese com dois arcebispos, e o ordinário, D. Stephan Burger, dificilmente poderá dar ordens ao seu colega. Exilado em sua pátria, longe da Roma que governou como senhor em outra época.
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Exílio do padre Georg: enviado de volta para a Alemanha, mas sem atribuição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU