16 Mai 2023
"[Jovens] mantenham esticado o fio das gerações, sem permitir cair em utopias vazias", conclama o papa Francisco no prefácio do livro de Giovanni Caccam, publicado por il Fatto Quotidiano, 12-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caros jovens, em nossos dias sentimos um grande medo da mudança porque não sabemos tolerar a incerteza e nos retraímos diante dos perigos, reais ou imaginários. Esse medo manifesta uma visão pessimista da liberdade humana e dos processos históricos, como se não houvesse mais nada a fazer para evitar a catástrofe. Não se consegue ver que por trás de toda crise também se esconde uma oportunidade. Por outro lado, porém, também é verdade que falamos com muita frequência e superficialmente sobre a necessidade de mudar: virou uma moda, à qual estamos nos acostumando. E se inventam slogans, símbolos, declarações. Se faz publicidade da mudança, que alimenta egoísmos e interesses específicos. O desafio está aberto então: sejam pessoas que mudam o jeito de mudar!
Há um poema popular argentino de que gosto muito, o Martin Fierro. Foi publicado muitos anos atrás, em 1872, e ainda permanece atual em muitos aspectos. Entre outras coisas, lê-se:
“Se cantarem, façam-no de forma
a cantar com sentimento.
Não usem o instrumento
só pelo gosto de falar
e procurem cantar
só o que vale a pena".
Esta é a mensagem que lhes quero deixar: num mundo onde a comunicação dá forma à nossa social e também nossas escolhas, vocês são chamados a descavar palavras dentro de suas experiências para expressar o desejo de um mundo novo. Evitem qualquer canto que seja “só pelo gosto de falar". Expressem palavras de mudança, mas de uma forma que não seja simples mudança de palavra. Empenhem-se a mudar a vida das pessoas ao seu redor e que precisam de vocês. Essa será a prova de que vocês estão falando sério.
"O amor deve ser colocado mais nos fatos do que nas palavras", escreveu Santo Inácio de Loyola. Ele estava certo. É preciso falar com toda a vida. Numa época em que a palavra perdeu peso e carece da "centelha" que a torna viva, a vida dirá se suas palavras são realmente autênticas: falem com toda a sua vida! Que as palavras que vocês compartilharão entre vocês criem laços, capazes de expressar suas ideias e os seus sentimentos, mas também para levar à ação, ao engajamento, à luta. Troquem as palavras entre vocês, mas também com pessoas mais velhas que vocês, especialmente com os idosos. Vocês serão capazes de imaginar um mundo novo se forem capazes de ouvir os sonhos de seus avós. Mantenham esticado o fio das gerações, sem permitir cair em utopias vazias. Dialoguem, mas saibam que se dialoga agindo em conjunto para o bem de todos, caso contrário é "academia". Do trabalho em conjunto nascerão o confronto, o debate e a sempre maior compreensão recíproca, a abertura às perspectivas dos outros. Onde há vida há mudanças, medos, buscas, incertezas, esperanças. Em frente, portanto, e com coragem.
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“Caros jovens, suas palavras podem mudar o mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU