07 Outubro 2018
Sentado em uma cadeira situada no corredor do Salão Paulo VI do Vaticano, na primeira fila entre os jovens e os padres sinodais, o Papa Francisco ficou durante uma hora apreciando as músicas, danças, testemunhos, vídeos e “sketches” que foram apresentados no encontro “Nós para. Únicos, solidários e criativos”. É o evento promovido pela Secretaria Geral do Sínodo e pela Congregação para a Educação Católica. É uma verdadeira festa através da qual os rapazes e as moças de toda a Itália, da Europa e de algumas partes do mundo querem agradecer ao Papa por ter dedicado o grande encontro dos bispos a todos eles.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 06-10-2018. A tradução é de André Langer.
Entre os vídeos e notas ao piano de Giovanni Caccamo, a voz do ator romano Giovanni Scifoni e a breve exibição de um sacerdote dançarino equatoriano, Bergoglio ouviu fragmentos de vida de algumas jovens de entre 20 e 30 anos: histórias principalmente de sofrimento e renascimento graças à fé, de quem era escravo das drogas ou do sexo (buscado em chats ou na pornografia), de quem era vítima de bullying ou de um câncer, de quem teve uma infância difícil, de quem celebra seu aniversário de 18 anos na prisão ou que vive em um campo de refugiados da Síria, como refugiado ou voluntário.
Os mesmos jovens (um com um braço engessado, sobre o qual o Papa deixou sua assinatura) lhe entregaram simbolicamente um envelope branco com perguntas sobre como enfrentar os desafios da sociedade, da política e da Igreja. Francisco, que tomou a palavra no final do “festival”, responde de maneira improvisada e abandonando o discurso preparado por escrito. Começou imediatamente com uma brincadeira: “Aqui estão as perguntas escritas. A resposta será dada pelos padres sinodais, porque, se eu desse aqui as respostas, anularia o Sínodo! A resposta deve vir de todos: da nossa discussão. Acima de tudo, devem ser respostas dadas sem medo”.
Então o Papa pediu aos jovens coragem, coerência e concretude. Mas antes chamou a atenção para os perigos do populismo que fazem ver no outro, no estrangeiro, o mal, um inimigo que deve ser afastado: “Atualmente, os populismos estão na moda. Mas eles não têm nada a ver com o popular”. O popular é a cultura do povo, que se expressa na arte, nas ciências e na festa: cada povo faz festa à sua maneira. Mas o populismo é o contrário: é o fechamento em um modelo. ‘Estamos fechados, somos apenas nós’. E quando se está fechado, não se vai avante”.
Como derrotar esta mentalidade de fechamento, esta mentalidade que leva a “escravizar os mais fracos”, que leva a “fechar não apenas as portas, mas também as mãos”? “Derrota-se com o abraço, com a acolhida, com o diálogo, com o amor que é a palavra que abre todas as portas”, disse Bergoglio.
Com o mesmo vigor, chama a atenção para os perigos da internet: “É verdade – afirma –, a interconexão com o digital é segura, rápida, mas se você se acostumar com isso, acabará como essas famílias na mesa, no almoço ou na janta, cada um com o telefone na mão, conversando com os outros com o telefone, sem uma relação concreta e real”. Isso não é bom, repetiu Francisco. “Qualquer caminho que tomarem, para ser seguro, deve ser concreto”, porque a concretude “faz avançar”. Portanto, “se os meios de comunicação, o uso da rede, o levarem para fora, a torná-lo ‘líquido’, corta-o”.
Em relação à concretude, o Pontífice convida, como sempre nos encontros com os jovens, a recuperar e reforçar as próprias raízes através do diálogo com os idosos. Quase comovido pela fotografia de um rapaz com seu avô, mostrada durante o próprio testemunho (“É a mensagem mais bela da tarde”, disse), Francisco faz uma exortação: “Falem com os avós, falem com os idosos, isso vai fazê-los felizes. Eles são as raízes da sua concretude, do seu crescer, florescer e dar frutos. E tudo o que a árvore tem de florescido vem do que está enterrado. Essas não são palavras minhas; são de um poeta”.
O Pontífice também falou sobre a “coerência de vida”, dizendo-se entristecido porque os jovens se escandalizam justamente por “verem uma Igreja incoerente, que lhes lê as Bem-aventuranças e depois cai no clericalismo mais principesco e escandaloso”. “Se você é cristão, tome as Bem-aventuranças e coloque-as em prática. E se você é um homem ou uma mulher que deu a vida, que a consagrou, mesmo se seja um sacerdote (ou um sacerdote que dança) e quer viver como cristão, segue o caminho das Bem-aventuranças, não o caminho do mundanismo, do clericalismo, que é uma das piores perversões da Igreja”.
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O Papa aos jovens: “Não ao populismo; atualmente, está na moda, mas induz a fechar as portas e as mãos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU