02 Mai 2023
"O processo sinodal global é a melhor saída para a polarização? Isso ainda precisa ser visto. O próprio processo sinodal tornou-se outra coisa sobre a qual discutir. Serão necessários muitos outros encontros, em todos os níveis da Igreja, para que o processo comece a funcionar. E isso significará incluir pessoas de quem discordamos e que poderiam ter sérias dúvidas sobre o caminho estabelecido pelo Papa Francisco", escreve Maurice Timothy Reidy, em artigo publicado por America, 30-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Qual é a saída da polarização? Essa é a pergunta que o editor-chefe da revista America, Sam Sawyer, coloca na abertura de seu ensaio na edição de abril de 2023. Se vocês ainda não o leram, convido a ler, porque é uma pergunta que todos nós, como católicos, devemos enfrentar. Como nos lembrou o Papa Francisco na entrevista concedida à America em novembro passado, "a polarização não é católica".
Acontece que essa é também a pergunta que um grupo de teólogos, bispos e outros líderes da Igreja, se puseram num recente encontro no Boston College intitulado “Dante de nós: o Papa Francisco, o Vaticano II e a sinodalidade”. O encontro, promovido pelo Boisi Center for Religion and American Public Life, da Boston College; pelo Hank Center for the Catholic Intellectual Heritage, da Universidade Loyola, de Chicago; e pelo Center for Religion and Culture, da Universidade Fordham, foi o segundo encontro desse grupo, do qual fui convidado a participar como representante da America Media. Michael J. O'Loughlin, nosso correspondente nacional, participou do primeiro encontro em Chicago no ano passado.
O evento de Chicago suscitou algumas críticas na época. O fato de que a maioria dos representantes fosse vista como simpatizante do Papa Francisco e que operasse segundo a regra de Chatham House (que limita as notícias para favorecer uma discussão aberta) levou alguns a se perguntarem o que o grupo pretendia.
E confesso que me perguntei o que iria descobrir quando cheguei ao hotel onde nos hospedamos para o encontro. Quem estaria lá e sobre o que falariam?
Nos dois dias seguintes, ouvimos uma série de reflexões de Rafael Luciani, Robin Darling Young, Hosffman Ospino e de dom Daniel Flores, da Diocese de Brownsville (essas contribuições serão tornadas públicas). As outras conversas da conferência, de acordo com a Regra de Chatham House, podem ser relatadas, mas sem atribuição. As conferências certamente foram edificantes, mas talvez não tão gratificantes quanto as interações informais que aconteceram entre as reuniões e durante as refeições. Não há substituto para o encontro cara a cara.
Não será surpresa para vocês saber que a palavra sinodalidade foi mencionada muitas vezes e foi apresentada como uma forma talvez inovadora de combater a polarização que aflige a Igreja. Confesso que na minha chegada eu não estava tão entusiasmado com o processo sinodal como alguns dos outros participantes.
Não me interpretem mal: considero bom que a Igreja esteja pedindo para escutar mais os católicos sobre as questões que são importantes para eles. Mas o conceito de sinodalidade é um pouco confuso, mesmo para os católicos mais experientes, e o processo sinodal global me pareceu complicado e, em última análise, não tão representativo da opinião católica como às vezes se afirma. Um fato: apenas 1% dos católicos nos Estados Unidos participou do processo.
Mas eis que algumas observações e considerações igualmente importantes emergiram do nosso encontro. "Nossa comunhão não é segura de si". Devemos “recuperar o sentido daquilo que nos mantém unidos”. Temos que encontrar uma maneira de “caminhar e trabalhar juntos”. “Ao escutar, eu me torno responsável por comunidades reais”. Em suma, as apostas em jogo são muito altas para nossa Igreja, e a escuta recíproca é o primeiro passo de uma viagem muito mais longa.
A partir do momento em que comecei a ver o Sínodo não tanto como um evento pontual, mas como uma nova forma de ser Igreja, senti-me mais predisposto a ele. Percebi também que sou produto de uma Igreja que não deu muito valor à escuta e ao diálogo, por isso é um músculo que preciso exercitar.
Uma crítica dirigida aos católicos hoje é que eles não se veem como parte da Igreja que criticam. Mas, como observou um participante, é possível de fato criticá-los? Fizemos o árduo trabalho necessário para que todos se sintam corresponsáveis por esta Igreja que amamos?
A única maneira de ser uma Igreja que escuta é aprender fazendo – e fazendo de novo e de novo. Isso, argumentaram vários participantes, faz parte do "jogo longo" do Papa Francisco. Ele está tentando nos ensinar uma nova forma de nos relacionarmos uns com os outros, uma forma que é inerente a grande parte da América Latina, mas que é estranha à Igreja na maior parte do mundo.
O processo sinodal global é a melhor saída para a polarização? Isso ainda precisa ser visto. O próprio processo sinodal tornou-se outra coisa sobre a qual discutir. Serão necessários muitos outros encontros, em todos os níveis da Igreja, para que o processo comece a funcionar. E isso significará incluir pessoas de quem discordamos e que poderiam ter sérias dúvidas sobre o caminho estabelecido pelo Papa Francisco.
Mas numa época em que a polarização é profunda em todos os níveis da sociedade, a Igreja é um dos poucos lugares onde pessoas de todas as origens se reúnem sob o mesmo teto. Isso representa uma rica oportunidade. E, no final, nem todos temos que concordar uns com os outros. Como observou um orador, Jesus orou “para que todos sejam um”, não que sejam todos iguais.
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Polarização e sinodalidade. Artigo de Maurice Timothy Reidy - Instituto Humanitas Unisinos - IHU