10 Abril 2023
Há muito pouca harmonia na Igreja com padres solteirões, queixosos, medíocres e fofoqueiros. O Papa Francisco traça minuciosamente o estado das coisas e os riscos eclesiais, chegando até a evocar rachaduras, corjas e intrigas de corte à sombra de São Pedro, na primeira das longas celebrações do período pascal, a Missa Crismal, que o pontífice preside em São Pedro diante de milhares de fiéis, bispos e cardeais.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 06-04-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A celebração foi confiada ao cardeal Angelo De Donatis, pois o papa não pode mais subir os sete degraus que levam ao altar debaixo do baldaquino da Basílica de São Pedro. No entanto, a homilia (longuíssima) foi lida por Francisco com voz firme e cheia, e muitas vezes alterna a leitura com lembranças pessoais e outras passagens de improviso para encorajar os párocos a não “seguirem em frente apáticos”.
Ele chega à basílica em cadeira de rodas, empurrado pelo mordomo que sempre o ajuda em Santa Marta. Durante a leitura, ele tosse algumas vezes, provando que a bronquite que o atingiu na semana passada (levando-o diretamente para o hospital, por uma fribrilação cardíaca) ainda não o deixou.
Francisco se lança contra a “fofoca” de corte, o carreirismo imperante, quem prefere um modo de agir cinzento e rotineiro frente a um espírito de comunhão e virtuoso. “Estou fazendo memória de alguns de vocês que estão em crise, desorientados e não sabem que caminho seguir, não sabem como retomar uma segunda opção. A vida dupla não vai ajudá-los.”
Em outra passagem, ele recorda que “peca-se contra o Espírito que é comunhão quando nos tornamos, mesmo que por leviandade, instrumentos de divisão; e fazemos o jogo do inimigo, que não sai ao descoberto e ama as boatarias e as insinuações, fomenta partidos e corjas, alimenta a nostalgia do passado, a desconfiança, o pessimismo, o medo. Fiquemos atentos, por favor, para não sujar a unção do Espírito e a veste da Mãe Igreja com a desunião, com as polarizações, com toda falta de caridade e de comunhão”.
Em outra passagem da homilia, ele se concentrou no estilo dos padres, identificando em sua acidez a causa do afastamento de muitas pessoas. “Penso também na bondade do sacerdote: se as pessoas encontram até mesmo em nós pessoas insatisfeitas e descontentes que criticam e apontam o dedo, onde verão a harmonia? Quantos não se aproximam ou se afastam porque não se sentem acolhidos e amados na Igreja, mas vistos com desconfiança e julgados! Em nome de Deus, acolhamos e perdoamos, sempre! E lembremos que ser impacientes e queixosos, além de não produzir nada de bom, corrompe o anúncio, porque contratestemunha Deus, que é comunhão e harmonia”.
A tradicional Missa Crismal evoca a Última Ceia e o sacramento do sacerdócio. Um caminho, explica Bergoglio, que muitas vezes pode ser interrompido por crises pessoais. “Todos, mais cedo ou mais tarde, experimentam desilusões, fadigas e fraquezas, com o ideal que parece se desgastar entre as exigências do real, enquanto um certo hábito assume o controle, e algumas provações, antes difíceis de imaginar, fazem com que a fidelidade pareça mais incômoda do que antigamente. Essa etapa representa um ponto decisivo para quem recebeu a unção. Podemos sair mal disso, deslizando para uma certa mediocridade, arrastando-nos cansados para uma ‘normalidade’ onde se insinuam três tentações perigosas: a do compromisso, pela qual nos contentamos com aquilo que pode ser feito; o dos substitutos, pela qual tentamos nos ‘recarregar’ com algo diferente da nossa unção; a do desânimo”.
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Papa Francisco deplora as intrigas e pede mais gentileza: há muitos padres “solteirões e ácidos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU