05 Abril 2023
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 05-04-2023.
O documentário dura pouco mais de uma hora, e não é tempo desperdiçado. Principalmente para aqueles (o projeto é voltado para eles, não se engane) que estão distantes da Igreja, que a veem como uma entidade ultrapassada, uma instituição distante dos jovens e da realidade. Um senhor de 86 anos, pela mão de Jordi Évole, encontra-se nos arredores de Roma com rapazes e raparigas de todo o mundo. O resultado? 'Amém: Francisco responde', que estreia hoje no Disney+. Sim, a cadeia da Agenda 2030, Soros, os beijos homossexuais entre desenhos e todas aquelas mandangas. Não percam.
Não espere encontrar muita novidade no discurso de Francisco. Bergoglio não engana ninguém, e muitas das expressões recolhidas no documentário são bem conhecidas de nós que o acompanhamos diariamente. Mas não se trata de nós: a hora e dez minutos que dura este projeto não são destinados a cristãos convictos, nem mesmo bergoglistas de sangue puro, muito menos tradicionalistas ou sedevacantistas, que vão arrancar os cabelos só de ver o tipo dos personagens: uma vítima de abuso (imensa Juan Cuatrecasas Jr., em uma reunião que marcou um antes e um depois - mal apesar de quem não entende o que significa uma condenação por pedofilia e insiste em defender quem abusa de nossas crianças - no 'caso Gaztelueta'), uma jovem emigrante, ex-freira que perdeu a fé (e encontrou o amor em outra mulher), não binária, mãe solteira que vende conteúdo pseudopornográfico... Não vou continuar porque mais de uma terá sido duramente atingida.
Una charla que traspasa fronteras, edades, mentes y creencias.
— Disney+ España (@DisneyPlusES) March 15, 2023
No te pierdas el tráiler de #AménFranciscoResponde. Gran estreno el 5 de abril, solo en @DisneyPlusES pic.twitter.com/EPVwEAmij1
Porque Amém: Francisco responde é um documentário dirigido a quem nunca imaginaria que um pontífice se encontraria, num coworking na periferia de Roma (em uma empilhadeira, quase sem segurança ou protocolos), com jovens que, e ele reconhece, ele não entende. Uma experiência televisiva (e, se me apressarem, também pastoral, mesmo sem querer) que consegue aproximar duas gerações, apenas com o gesto do encontro. Um gesto que deve ser reconhecido por Francisco. Nenhum outro papa teria ousado este exercício de liberdade.
Porque a verdadeira revolução franciscana é esta: abrir a todos, falar a todos, ouvir a todos. Pare de considerar alguns tópicos proibidos, especialmente aquela obsessão doentia de muitos cristãos com tudo relacionado a sexo. Francisco o faz num programa que, como um bom exercício televisivo, é marcado por extremos: o aborto, a masturbação, o exemplo da única menina marcadamente católica (como todos entendem o catolicismo atual), uma realidade em negros e brancos. E um papa que escuta, que abraça, que se aproxima.
“Não tenho o direito de expulsar ninguém da Igreja”, diz Francisco a certa altura do documentário. Que ela tem palavras que poucos entenderiam sobre a situação da mulher na Igreja, que não entende bem muitas das realidades que vivem as protagonistas, e que se mostra como tal, com os empecilhos da idade, sem deixar vestígios daquela infalibilidade que até dez anos atrás era pouco menos que absoluta e que este papa ajudou a erradicar, dessacralizar, normalizar.
Porque o mais espetacular deste documentário é precisamente isso: ver um papa normal, um velho que partilha experiências com aqueles que poderiam ser os seus netos, muitas das histórias que não compreende... mas quer ouvir. Porque mais do que "Amém: Francisco responde", este programa deveria ter sido intitulado "Amém: o Papa escuta". O papa compartilha. O papa abraços. O papa questiona. O papa não expulsa ninguém da Igreja. Nestes dias, precisamente nestes dias, em que recordamos como os homens da lei, e da religião, tentaram expulsar da vida o próprio Filho de Deus, é mais necessário do que nunca contemplar esta proposta que, sem ser de a Igreja, é profundamente evangélica. Onde dois ou mais se reunirem em Seu nome, ali Ele estará. Seja em um templo, em uma procissão ou no Disney+, não percam.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Não tenho o direito de expulsar ninguém da Igreja”, afirma Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU