10 Março 2023
O amor autêntico não é só sentimento e paixão. Também exige um componente de razão, de cotejo, de verificação.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 05-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Quando você entrega a si mesma ao amor por alguém, não pode deixar de se entregar também ao sofrimento. Não pode se doar ao amor por um soldado sem doar a si mesma também aos tormentos sofridos na guerra.”
Port William é uma cidadezinha imaginária no Kentucky, criada pelo escritor e poeta estadunidense Wendell Berry em seu romance “Hannah Coulter” (2004). E é precisamente à protagonista dessa obra que se dirige o conselho que citamos e que recorre ao realismo da vida.
Quando você se apaixona, deve acolher o outro não só em sua beleza e em suas virtudes e qualidades, mas também em seus limites, em suas misérias. Toda idealização e ilusão são arriscadas. O amor cego é uma metáfora que, no entanto, tem implicações muito amargas no fluxo da convivência.
O amor autêntico, por isso, não é só sentimento e paixão. Também exige um componente de razão, de cotejo, de verificação. É uma chama que deve aquecer a alma, mas não incinerá-la. Muitas vezes, é uma fulguração instantânea: “Ele me viu e me amou; eu o vi e o amei”, dizia um personagem do escritor francês Pierre du Ryer, do século XVII.
Mas, depois, os dias da semana passam, com as arestas das personalidades e os tropeços da cotidianidade. E, infelizmente, as tragédias dos feminicídios são o abismo em que pode desmoronar justamente aquele amor apenas instintivo e cego.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
#Amor cego. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU