Breves do Facebook

Foto: PxHere

04 Outubro 2021

Hernando José Figueroa

SPANISH-REVOLUTION

 

Toninho Ribeiro

 

 

José Luis Oreiro

O Banco Central do Brasil é o regulador do Sistema Financeiro Brasileiro. Se o presidente do BCB tem dinheiro fora do país para, legalmente, pagar menos imposto; isso é uma desmoralização da função reguladora do BCB. O Senado Federal, no uso de suas atribuições, deve imediatamente DEMITIR o presidente do Banco Central do Brasil.

 

 

Cesar Benjamin

O governo Bolsonaro quer aumentar o IOF neste ano para ampliar os beneficiados do Bolsa Família de 14 milhões para 17 milhões.

Quer sustentar esse aumento em 2022 deixando de pagar precatórios já concedidos pela Justiça.

A partir daí, o programa não tem mais nenhuma fonte de financiamento. Só restam as dívidas que serão adiadas.

A benesse tem a duração exata do calendário eleitoral.

É uma desfaçatez explícita.

 

 

Idelber Avelar

A bomba do dia foi esta: a offshore do Paulo Guedes nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal, foi revelada e esmiuçada.

"A proposta de reforma tributária apresentada pelo governo ao Congresso Nacional é um exemplo de conflito de interesses. Por sugestão da Receita Federal, o projeto original da reforma previa a taxação de ganhos de capital no exterior, incluindo investimentos em paraísos fiscais – situação que, sabe-se agora, atingia o ministro Guedes. A ideia, no entanto, acabou derrubada no Congresso por pressão de bancos e de empresas que investem em infraestrutura, com a anuência do Ministério da Economia. Outro item da reforma, negociado e aprovado pela equipe econômica, reduz drasticamente a taxação sobre a repatriação de recursos. Hoje, a taxa não é um consenso, e sempre rende discussões judiciais, mas varia de 15% a 27,5%, a depender do volume de recursos. Pela proposta do governo, a alíquota, se aprovada, cairá para 6%."

*******

A investigação dos Pandora Papers reúne mais de 600 profissionais em 117 países e territórios. Além do ICIJ, outros 150 veículos participam do trabalho. Integram o projeto no Brasil a revista Piauí, os sites Poder360 e Metrópoles e a Agência Pública.

PAULO GUEDES TEM OFFSHORE MILIONÁRIA EM PARAÍSO FISCAL

Documentos inéditos comprovam o investimento, mas o ministro não é um caso único no governo: o presidente do Banco Central fez o mesmo. Disponível aqui.

 

Carlos Silveira

Na FSP deste domingo. 3/4 de página para as manifestações fora bolsonaro sob o título "Protestos contra Bolsonaro têm nova ausência de Lula e adesões tímidas'.

Na página ao lado, 2/3 de página para Moro sob o título "Moro faz turnê e anima apoiadores".

A primeira pra baixo; a segunda pra cima. E vamos que vamos com a mídia empresarial com a via antiLula ora apelidada de 'terceira via', que, como já foi, é a via bolsonaro sem bolsonaro.

Ainda que a esquerda se esforce o programa 'ponte para o futuro' foi, é, e continuará sendo a via dessa turma.

Mas, honre-se, o Jornal Nacional fez uma ótima cobertura. Não explorou pequenos fatos desabonadores, estilo fsp e outros, e deu um tom positivo aos atos.

 

Idelber Avelar

Ficou bastante longo este texto. Fôlego aí.

Nos dias 19 e 21 de setembro, publiquei aqui posts que aludiam a duas das três mentiras essenciais que alimentam a campanha de Haddad à Presidência. Os catastróficos números da pesquisa Ibope de ontem me oferecem um bom mote para falar da terceira.

As duas primeiras falácias de que tratei eram 1) "Haddad é Lula", uma mentira claríssima, já que basta observar as coisas um pouco para saber que Haddad não é Lula, Haddad é Dilma. Lulistas vieram aqui tentar me corrigir, explicando que Haddad é diferente de Dilma -- desentendendo, portanto, o post, que não era sobre uma parecença semântica, mas sobre um paralelismo sintático. Ou seja, não importa que Haddad seja uma pessoa completamente diferente de Dilma. Ele está no mesmo lugar que ela e mantém com o cacique a mesma relação daquele que lhe deve tudo. Com Lula é que ele não tem nada a ver mesmo, a não ser a relação que o bonequeiro tem com a sua marionete.

A segunda falácia era a tão repetida cantilena de que não se pode falar de polarização provocada pelo petismo e pelo bolsonarismo porque apenas este último é extremista. Esse argumento, repetido ad nauseam nas redes e na imprensa, confunde polos com extremos (um polo não é necessariamente um extremo) e absolve o petismo da sua responsabilidade na produção dos monstros com os quais ele sempre preferiu disputar o segundo turno.

*******

Vamos à terceira falácia, que é aquela com a qual o petismo responde às críticas de sua tremenda irresponsabilidade ao longo desse processo eleitoral. A resposta normalmente vem assim: "vocês querem tirar o direito de o PT lançar um candidato? O que vocês queriam que o maior partido brasileiro em preferência eleitoral fizesse? Cruzasse os braços e não participasse da eleição? O PT tem o direito de lançar candidato!"

Esta última frase, obviamente, é um truísmo, ela não diz nada. Qualquer partido tem o direito de lançar candidato. E observadores, analistas, cidadãos têm o direito de apontar as motivações que movem a candidatura. No caso da candidatura Haddad, trata-se de um sórdido hegemonismo que não tem pudores de levar o Brasil para dançar à beira do abismo e possivelmente entregá-lo a um presidente fascista.

Vamos nos ater aos últimos dias. Só nos últimos três dias, o petismo e a candidatura Haddad:

a) reafirmaram, em pleno 2018, o apoio ao regime de Maduro, responsável por uma das piores crises humanitárias da história da América Latina e por incontáveis execuções e câmaras de tortura.

b) propuseram, através de seu candidato, uma Assembleia Constituinte, coisa de arrepiar qualquer pessoa com um mínimo de bom senso hoje no Brasil.

c) defenderam, através de um de seus chefes históricos, José Dirceu, a limitação das responsabilidades do STF e do MP.

d) falaram, através do mesmo chefe histórico, de "tomar o poder, o que é diferente de ganhar eleições".

e) omitiram de sua campanha, sistematicamente, quaisquer críticas ao candidato fascista, porque é com ele que querem disputar o segundo turno.

******

A estratégia é clara: fortalecer ao máximo o candidato fascista; impedir a consolidação de qualquer terceira alternativa; trabalhar incessantemente por uma polarização na qual eles possam aparecer como os salvadores da pátria ante o fascismo; assustar e bravatear para depois colher os frutos.

Ao mesmo tempo em que faz isso, o petismo continua se vitimizando e esperando que todos assumam as suas dores, enquanto eles não assumem as dores de ninguém. O tão elogiado gênio da política, Lula, nos entregou este quadro, em que a única esperança que nos resta para barrar o fascismo nas eleições é um político até decente, mas que não conseguiu se reeleger prefeito de sua cidade; não conseguiu sequer ir ao segundo turno; perdeu para nulos e brancos; perdeu em todas as urnas; e, francamente, parece saído de uma defesa de tese de sociologia da USP.

Tudo isso para que o petismo tente continuar como força hegemônica, sabendo muito bem que seu maior líder é odiado por 50% da população. Certas Pollyanas do petismo estão assustadas e duvidando do Ibope porque a rejeição de Haddad subiu 11 pontos. Queridos, há duas semanas ele subiu bem mais de 11 pontos quando muita gente descobriu que ele era o candidato de Lula. Agora, muitas outras gentes estão descobrindo também que ele é o candidato de Lula e a rejeição está disparando. Vocês esperavam o quê?

*****

Podem apostar que caso se consume a catástrofe que até recentemente era tão improvável, o lulismo e o petismo vão culpar os isentões, a Marina, os tucanos, o Ciro, o golpe, a mídia e as pesquisas do Pablo Ortellado. Só não vão se lembrar de que a possibilidade de que suas ações estavam produzindo a catástrofe foi apontada muitas vezes, e para isso a única resposta que tinham era "nós temos o direito de lançar candidato".

 

Realidade Política, Filosofia Política & Realpolitik - o Brasil no dia a dia

Via Cesar Benjamin

A DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL

Circula a informação de que no governo Lula a indústria brasileira representava 30% do PIB e hoje está em 11%. Não é verdade. O processo de desindustrialização vem desde a década de 1990 e se acelerou durante os governos do PT.

Em 2015, durante o governo Dilma Rousseff, publiquei “Desindustrialização: pode o Brasil sobreviver sem um expressivo setor industrial?”. Logo no início, escrevi: “Em 1986 a indústria representava 36% do nosso PIB. Hoje representa 14%, percentual semelhante ao da primeira metade da década de 1940.”

Para os economistas liberais, a desindustrialização é indiferente, pois o importante é que o país produza de acordo com os “sinais de mercado”. Ou seja, tanto faz produzir bananas ou aviões.

É um erro crasso. O texto que está no link aí embaixo explica os motivos. É um capítulo do meu livro "Ensaios brasileiros".

Abraços,

Cesar Benjamin

Desindustrialização Pode o Brasil sobreviver sem um expressivo setor industrial? Disponível aqui.

 

Cesar Benjamin

Estão circulando vídeos em que grupos com camisas vermelhas da CUT xingam e agridem Ciro Gomes na saída do ato na Avenida Paulista, inclusive lançando garrafas contra ele. Há versões de que o suspeitíssimo PCO estaria envolvido.

Não repliquei os vídeos porque isso pode ser coisa de provocadores infiltrados, e tal comportamento não pode ser generalizado para os simpatizantes do PT e da CUT. Depois, eu soube que Fernando Haddad condenou a agressão, exatamente o que se espera de alguém como ele. Isso me tranquilizou.

A coisa ficou mais séria quando vi o apoio aos agressores no portal Brasil247, notoriamente ligado ao PT, e no site dos autodenominados “jornalistas livres”, que não sei quem são. Neste último, Ciro foi tratado como “pederasta”.

Também vi bastante apoio em comentários de pessoas aos vídeos.

Pode ser um sinal do que está por vir.

Lula não esteve nas manifestações pelo impeachment. Nas vésperas, havia jantado com José Sarney, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Edison Lobão e outros heróis brasileiros. Sérgio Cabral não foi ao jantar porque estava preso em outro compromisso.

Essa combinação de fisiologismo por cima e banditismo por baixo é muito alarmante. O PT, a CUT e as demais instituições do campo lulista precisam reagir, se ainda tiverem forças para tal.

Não merecemos ter uma disputa entre dois fascismos em 2022.

 

José Luís Fevereiro

SOBRE O MILITANTE, O BURRO E O MOINHO

Nunca venci nem fui derrotado nas batalhas da política. O problema superado ontem é sucedido por outro problema hoje. As vezes é o mesmo problema ou da mesma natureza que retorna pela porta lateral.

Nós militantes somos que nem o burro que move a roda do moinho perseguindo uma cenoura pendurada numa haste metro e meio na sua frente. Ele nunca vai alcançar a cenoura mas nessa busca ele move o moinho.

Já venci e já perdi votações. Quando venci o debate sempre voltou. Quando perdi eu sempre retomei o debate buscando mudar a correlação de forças.

 

Valerio Arcary

Se a paciência é amarga, os seus resultados são doces. Sabedoria popular árabe

Confia, mas reserva-te.

Mais vale agradecer com a verdade, que ofender com a lisonja. Sabedoria popular portuguesa

Devemos conversar na militância sobre os excessos de confiança, por um lado, e desconfiança, por outro. No limite, suas formas extremas degeneram em adulação ou difamação. A luta política pode ser dura. Faz parte. Mas deve ser feita com paciência. Não vale tudo. Há limites que não podem ser transgredidos. Bajulação e calúnia não são aceitáveis. Métodos indignos devem ser proibidos.

Há pessoas com qualidades excepcionais que, pela coragem, inteligência e caráter merecem honesta admiração e elogio. Mas não há semideuses. Todos somos, de verdade, na boa, imperfeitos. Basta saber mais, ou ver mais de perto. A lisonja, mais conhecida como “passar o pano”, deve ser banida das fileiras da esquerda. Da mesma forma, as diferenças de opinião e disputa de posição que mantemos com as ideias de outros não justifica nunca o desrespeito ou desqualificação dos outros.

A ligeireza de acreditar fácil demais é uma forma de inocência. Trata-se de uma postura ingênua diante da avalanche de informação manipulada ou até de desinformação e fakenews. Mais grave quando, por fascínio, envolve a idealização de alguém. Até certo grau, não é uma limitação ou defeito grave. Ao contrário, estar aberto a confiar nos outros, até provas em contrário, é um traço benigno e simpático de personalidade.

Há até alguma elegância autêntica em uma atitude desarmada. Entusiasmos espontâneos são normais quando nos impressionamos com camaradas que fazem grandes feitos. Mas a luta política e social ficou tão, impiedosamente, cruel que o excesso de credulidade é perigoso. Facilita o deslumbramento, uma vulnerabilidade diante de manobras ardilosas dos inimigos de classe.

Não é possível um ativismo regular sem algum grau de paixão. Mas o compromisso com a luta dos explorados e oprimidos e a aposta socialista deve ser maior do que a lealdade pessoal às lideranças. Os “cultos às personalidades”, que atingiram formas grotescas em algumas experiências históricas, foram um traço de primitivismo político.

A desconfiança não é, tampouco, uma deformação de caráter. Uma atitude crítica sobre as informações disponíveis, ou sobre as pessoas é sinal de maturidade. Mas, em excesso, é uma postura de suspeita permanente e, no limite, paranoia. Uma mentalidade paranoica é vulnerável a teorias de conspiração e mania de perseguição. Uma militância consistente não é compatível nem com o “encantamento” deslumbrado nem com o “delírio” persecutório.

Cultivar reservas críticas é necessário, e até saudável. O desafio é preservar a mente aberta para o debate de ideias, e o senso de proporções. A “personalização” dos debates é quase inevitável, mas é bom lembrar sempre que as pessoas são maiores que as propostas das quais discordamos.

Debates de ideias são úteis, legítimos e produtivos, mesmo quando amargos, por três razões:

(a) porque as pessoas mudam de ideias, ainda que isso exija um tempo, às vezes, mais tempo do que seria razoável, mas mudam;

(b) porque a força dos argumentos deve ser muito mais importante do que o juízo que fazemos dos outros;

(c) porque a única forma de manter a confiança pessoal entre os camaradas é ser honesto sobre o que pensamos sobre as ideias em discussão.

Mentalidades paranoicas envenenam qualquer discussão porque se apoiam em premissas que foram “reveladas” a alguns, e mesmo não podendo ser provadas, podem ser “lógicas”. Uma hipótese conspiratória pode ter coerência interna e ser, completamente, falsa. Elas estimulam fantasias delirantes que semeiam a desconfiança de todos contra todos.

A força de uma “teoria de conspiração”, habilidosamente, formulada é que, sem qualquer esforço de comprovação ela pode ser convincente. Acusações sem provas são calúnias. Algumas campanhas de difamação ficaram registradas em pedra na história da esquerda, e não podem ser esquecidas. Lenin foi vítima de denúncias, a partir de março/abril de 1917 e, de forma ainda mais abjeta, depois das jornadas de julho, de ser um “agente alemão” infiltrado com a liberação da passagem do “trem blindado” em negociações “secretas” pelo Império do Kaiser. Leon Trotsky foi denunciado como espião nazifascista e os trotskistas como agentes do imperialismo, em acordos “secretos” durante décadas. É uma tristeza que estes métodos não tenham sido erradicados pela raiz como ervas daninhas.

A esquerda tem que aprender a se proteger de si mesma. Nenhuma corrente e nenhuma liderança é infalível, mas todos merecem ser respeitadas. Não praticamos adulação, nem toleramos difamação.

 

Cesar Benjamin

Ufa! Mandei para a diagramação “Quantum e cosmos: introdução à metacosmologia”, do físico e cosmólogo brasileiro Mário Novello.

É um livro perturbador. Questiona alguns pressupostos implícitos da ciência contemporânea, como, por exemplo, o de que as leis físicas observadas na Terra são válidas para todo o Universo, no espaço e no tempo.

Soluções das equações da Relatividade Geral apontam em sentido contrário, por causa dos efeitos de campos gravitacionais muito diferentes entre si.

Kurt Gödel, o maior lógico do século XX e melhor amigo de Einstein em Princeton, obteve uma solução que preserva a direção passado-presente-futuro em nível local, mas quebra essa sequência em nível global.

No Universo de Gödel, o tempo circular nos aproxima do passado quando avançamos para o futuro.

Novello defende que o modelo do Big Bang, amplamente aceito, já está ultrapassado. Vivemos em um Universo que se expande e se contrai ciclicamente, sem que se possa estabelecer um começo.

Faremos um esforço para publicar o livro a tempo da Feira da USP, junto com “Os poderes da filologia”, do alemão Hans Ulrich Gumbrecht.

A Contraponto é pequena, mas é meio metida a besta.

 

Giselle G. Silva

O #Desenvolvimento do Brasil só virá com uma mudança no modelo econômico e de governança.

O #PTNeoliberal não discute modelo econômico alternativo, e por isso se mantém aliado ao capital exploratório.

Nos mantém colônia americana.

#AgoraÉCiro#CiroPresidente2022

 

Gugu Mil Grau

Esse menino com lágrimas nos olhos tem apenas 14 anos e vende empanadas deliciosas por apenas 10$ em Santos!

Ontem presenciei uma das piores cenas que já vi na minha vida, daquelas que pensamos que só existem em filme! Esse menino estava vendendo na rua tolentinos em santos de madrugada, como ele e o irmão dele fazem quase todas as noites pra ajudar sua família, e um bando de meninos o humilharam, falaram que ele enchia mto o saco pois ele “aparecia todos os dias lá”, jogaram as empanadas dele no chão, xingaram a receita que era da vó dele, foi uma das piores cenas que já vi em toda minha vida!

Saímos andando pela tolentinos para ajudá-lo a vender o resto de empanadas que tinha, e conseguimos! Mas hoje já não sabemos que tipo de pessoa ele pode encontrar, e isso me corta o coração!

Então quem puder comprar pra ajudar, ou pelo menos divulgar, o irmão dele vende doces argentinos também deliciosos, vcs não vão se arrepender! Vou deixar o número do irmão dele aqui, pq ele não tem Whatss!!

O nome dele é Alexandro 13 98108-1229 e estão sempre pela tolentinos vendendo doces e empanadas!

O insta dele é: Lciancagliniullua

E do seu irmão: alexandrociancaglini

Via: Gabriela guidotti

 

Pascal Bresson

Cette photo a été effacée deux fois par F.B. d'un mur d'un copain.

Elle montre les valises de victimes des nazi soigneusement rangées dans un camps d'extermination en Pologne.

Voilà pourquoi, je me bats pour transmettre aux jeunes générations.

POUR NE JAMAIS OUBLIER.

Esta foto foi removida duas vezes pelo FB de uma parede de um namorado.

Ela mostra as malas de vítimas dos nazi cuidadosamente arrumadas em campos de extermínio na Polônia.

É por isso que eu luto para transmitir às gerações mais novas.

PARA NUNCA ESQUECER.

 

Cesar Kuzma

Em certa medida, Francisco já antecipa algumas destas questões, mas não todas. A estrutura ainda é pesada. Mas se abre um processo. Como eu já disse em publicações que fiz no próprio IHU e em periódicos de teologia, não vejo como se ter um voltar para trás depois de Francisco. É claro, é evidente, que as forças conservadoras existem, elas sempre existiram e vão medir o seu poder. No entanto, como crente, acredito que o Espírito é mais e que novos e proféticos passos ainda poderão ser dados. A Igreja em saída e o caminho sinodal abrem novas portas, apontam outros horizontes e exigem novas respostas.

E isso não é pelo papa ou não. A própria maneira de Francisco entender a si mesmo e o modo como ele segue na sua pastoral deram uma nova percepção do papado, alguém mais próximo e sensível às realidades, sendo um com o povo. O que era "infalível" não diminuiu por se mostrar "falível", ao contrário, traz ao ministério os traços humanos que unem o pastor ao espaço de seu rebanho, com sensibilidade e ternura. O texto da carta imaginária de B. Häring, aludindo a um futuro Papa João XXIV (que Francisco também aludiu em uma entrevista) insiste numa Igreja povo, que caminha com maturidade e autonomia, no serviço e não em estruturas de poder.

 

Christian Fischgold

Imperdível!

"O que Há em Ti" (2020), 16'54 Direção: Carlos Adriano

"Em 16 de março de 2020, em Brasília, um haitiano anônimo e desconhecido desafiou o chefe da nação: “Bolsonaro, acabou. Você não é presidente mais.” Este cinepoema contrapõe tal situação a duas operações militares da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), comandada pelo Brasil, em 6 de julho de 2005 e 22 de dezembro de 2006, em Cité Soleil (Porto Príncipe), e a referências à revolução Haitiana (1791-1804) e a obras culturais e artísticas sobre o Haiti."

Exibição gratuita de 1 a 7 de outubro:

 

André Vallias

 

Cesar Benjamin

Com a descoberta do comportamento escabroso da Prevent Sênior, voltou a ser debatido o tema de experiências médicas com seres humanos. Lembrei de um texto que escrevi sobre Louis Pasteur e ainda não publiquei. Será parte de meu livro em preparação, que tem como título provisório "Ciência e método". Num trecho dele, destaco dois experimentalistas franceses (Claude Bernard e Pasteur) e um alemão (Robert Koch) que foram fundamentais na criação da medicina moderna.

As partes mais interessantes sobre Pasteur tratam da descoberta dos isômeros ópticos e de sua participação no importante debate sobre geração espontânea de vida: ele atirou no que viu e acertou no que não viu.

O final do texto aborda o dilema ético que ele viveu quando desenvolveu a primeira vacina laboratorial contra uma doença humana, a hidrofobia.

Publico esta parte final aí embaixo. Para os padrões do facebook, é um textão.

* * *

"Cabe ressaltar, porém, a incrível intuição de Pasteur. Durante sua longa carreira, foi sempre certeiro, mesmo quando não tinha uma boa teoria como ponto de apoio. Isso fica claro no desenvolvimento das vacinas, realizado com êxito em uma época em que se desconhecia completamente o funcionamento do sistema imune. Adepto de uma teoria biológica da imunidade, apostou no uso de cepas microbianas atenuadas.

O sucesso que obteve contra importantes doenças que acometiam animais logo despertou esperanças no desenvolvimento de vacinas também para doenças humanas. Havia, porém, um obstáculo ético, que o próprio Pasteur indicou: “A experimentação, permitida em animais, é criminosa quando feita no homem.”

Mesmo assim, escolheu atacar a hidrofobia, doença misteriosa e aterradora, que ocupava um lugar especial na imaginação popular pelo terrível agonia que provocava, privando o doente da sanidade mental. Seu portador e transmissor habitual era o cão, o melhor amigo do homem, cujas mordidas atingiam principalmente crianças. Como o vírus desloca-se lentamente do local do ferimento até o sistema nervoso central, a incubação pode demorar até um ano, período em que não é possível fazer um diagnóstico seguro. Todos conviviam muito tempo com a angústia de não saber se as vítimas assintomáticas de animais raivosos desenvolveriam ou não a doença em algum momento futuro. Se isso acontecesse, a taxa de mortalidade era de 100%, com muito sofrimento do doente.

Pasteur começou suas pesquisas em dezembro de 1880 e aplicou a vacina pela primeira vez em julho de 1885. Até então, ele cultivara e atenuara os micróbios em meios estéreis artificiais, mas as dificuldades técnicas de lidar com o vírus da hidrofobia, difícil de isolar e manusear, levaram-no a conceber o tecido cerebral de organismos vivos – coelhos, cobaias, cães, porcos e macacos – como meios de cultura. Trabalhava de maneira completamente empírica, na base do ensaio e erro, injetando diferentes culturas e substâncias nos animais experimentais, observando e anotando o que acontecia. Conduziu assim milhares de experimentos de grande complexidade, envolvendo diferentes espécies. Ao perceber que passagens seriadas de um mesmo micróbio por determinados animais alteravam sua virulência, para mais ou para menos, desenvolveu, penosamente, uma técnica nova.

Durante muito tempo as experiências permaneceram incompreensíveis: passagens sucessivas do micróbio pela saliva de cobaias, por exemplo, tornavam-no menos virulento para os coelhos; passagens por coelhos tornavam-no inofensivo para os porcos. Em algum ponto de sua passagem seriada por macacos, o vírus perdia a virulência para os cães, protegendo-os, surpreendentemente, de cepas muito agressivas, até o ponto de produzir imunidade. Em outros casos, porém, o efeito era inverso: os organismos selecionados para atenuar o vírus aumentavam sua virulência. Essas passagens experimentais do vírus podiam envolver até cem animais, em sequência.

Em 1883, depois de três anos de experiências contínuas, Pasteur se fixou nos macacos como os mais capazes de atenuar o vírus. Estava moderadamente otimista: “Graças à incubação prolongada, poderemos tornar pacientes humanos resistentes antes que a doença se manifeste. [...] Mas é preciso colher provas de diferentes espécies animais, quase ad infinitum, antes que possamos nos atrever a experimentar no próprio homem.”

Em agosto de 1884, ao descrever sua teoria microbiana das doenças, escreveu: “A hidrofobia já não é um enigma insolúvel.” Desenvolveu, finalmente, um método bastante complexo, que envolvia o uso de tiras da medula espinhal de coelhos mortos por vírus previamente tratados, e com ele conseguiu imunizar cinquenta cães “de todas as idades e raças, sem uma única falha”.

Foi quando o menino Joseph Meister surgiu inesperadamente em seu laboratório, mordido no rosto e nas mãos por um animal comprovadamente hidrofóbico. Muito provavelmente, estava condenado a contrair a doença. “Com profunda ansiedade”, Pasteur tomou a difícil decisão de testar nele a possível vacina: treze injeções no abdome, em dez dias, usando extratos das medulas espinhais secas. A última injeção foi aplicada com o vírus mais virulento disponível, retirado de um coelho morto recentemente. Deu certo. Depois de um período em observação, Joseph foi considerado imunizado. Estava pronta a primeira vacina de uso humano produzida em laboratório.

No final da década de 1880, graças principalmente a Claude Bernard e a Louis Pasteur, a medicina começou a transitar da pura e simples experiência clínica para os experimentos laboratoriais. Não era mais uma arte, era ciência.

 

Antonio Riserio

DIVERSIDADE EM ALTA, DEMOCRACIA EM RISCO

Antonio Risério*

O cardápio contestador dos “sixties” foi variadíssimo. Era tanta coisa em jogo, que a única definição possível era falar da contracultura e do Maio de 1968 como espaços da manifestação do múltiplo e do diverso. E foi justamente por aí que veio a palavrinha mágica – diversidade –, emergindo “a posteriore” como denominador comum do repertório do final daquela década. Mas não mais como definição ou classificação ocasionais – e sim como ideologia.

Desenhou-se um novo campo magnético, com a “diversidade” no centro, articulando na esfera política, como disse Mathieu Bock-Côté, todo um leque de manifestações e reivindicações. Sob o conceito (e, depois, dogma) da “diversidade”, a multiplicidade ganhava uma suposta unidade. Aqui, a partir da década de 1980, já não se tratava mais de reconhecer a existência da diversidade no mundo, mas de defendê-la programaticamente, impondo-a ao conjunto da sociedade.

Esse eixo político esbarraria num inimigo comum – o “homem branco”, e numa inimiga comum, a “civilização ocidental”. Foi a incorporação do legado contracultural, que se expressara no slogan “Western Civilization Is Over”. A estratégia, desde então, é tirar proveito máximo do “masoquismo ocidental”, para lembrar a expressão cara a Pascal Bruckner, o autor de “La Tyrannie de la Pénitence. Essai sur le Masochisme Occidental”. Defende-se agora que a história do mundo ocidental não passa de um filme de terror. A história brasileira, inclusive. Quase tudo com base em leituras fraudulentas, dualismos primários e ignorância, muita ignorância. Mas, enfim, são militantes, lixando-se para a exatidão histórica, além de serem complacentes com ditaduras extraocidentais e intransigentes com as democracias que temos.

Os ataques ao Ocidente, lugar por excelência da culpa, caem sempre em solo propício. Nada mais ocidental do que criticar arrasadoramente o Ocidente. Nossos grandes pensadores sempre fizeram isso. Agora, é a vez dos identitários multiculturalistas, todos ocidentalíssimos, embora fingindo que não, falando de “outras epistemologias” e repetindo que o Ocidente – o que eles consideram “o Ocidente”, que é o mundo nórdico – mais não fez do que humilhar, escravizar, assassinar os outros povos, todos invariável e rigorosamente angelicais e oprimidos. A história do Brasil, para eles, se resume à chacina de índios, à opressão das mulheres e à tortura de negros, perpetradas por uma elite branca racista e patriarcal. Só. E agora as vítimas exigem sua indenização, compensação retrospectiva de vantagens perdidas.

É a partir daí que se projeta a sonhada transformação político-social da sociedade e do mundo. Para chegar lá, no entanto, teremos de passar por um intervalo autoritário, que se responsabilizará pela submissão compulsória de todos aos dogmas sagrados do multicultural-identitarismo. É a velha conversa da “ditadura do proletariado” em nova roupagem, ditadura diversitária, com apoio da universidade, da mídia e de boa parte do empresariado (veja-se “The Dictatorship of Woke Capital: How Political Correctness Captured Big Business”, de Stephen Soukup). E a ideologia diversitária se revela, de fato, adversária plena da democracia liberal. É a “diversidade” que deve reger o mundo. E o princípio de instauração de sua regência está na estatística. Sim: entra em cena uma outra concepção de representação ou representatividade social. Rigorosamente numérica.

A conversa pode então ser resumida nos seguintes termos: se os pretos representam x% da população brasileira, então eles têm de ser x% nas cátedras universitárias, no poder judiciário, na produção cinematográfica, na mídia, no Congresso Nacional e assim por diante. Um princípio que eventualmente pode vir a ser irônico, mas será sempre revelador. Irônico, como no caso recente do Chile, que programou eleições para uma Assembleia Constituinte que deveria ser rigorosamente paritária, em matéria de gênero. As mulheres queriam evitar que homens controlassem a feitura da nova carta constitucional do país. Acontece que os resultados das urnas surpreenderam: as mulheres foram mais votadas do que os homens. Logo, para obedecer ao princípio paritário previamente acordado, mulheres se viram obrigadas a abrir mão de seus mandatos em favor de homens menos votados.

A verdadeira soberania democrática teve de dar lugar a um democratismo estabelecido de antemão, com bases em “cotas”. A regra básica da democracia ocidental – uma cabeça, um voto – foi arquivada, substituída por um modelo extraído, em última análise, do repertório mussolinista. Modelo que neste momento, no sentido da construção de um Estado multicultural-identitário, traz também, ao lado da divisão sexual, o critério de raça-e-cultura, designando uma fatia de cadeiras da Constituinte chilena, acho que significando 18% do total do bolo, para os agora chamados “povos originários” (todos imigrantes, como bem sabem historiadores e antropólogos). Ou seja: temos a recusa da democracia liberal, com sua disposição representativa já secular, fundada no valor individual.

Não há como conciliar o sistema eleitoral de “uma cabeça, um voto” com um Congresso com áreas predeterminadas e com segmentos representacionais previamente loteados. Claro: se a ocupação do Congresso Nacional, de assembleias estaduais, etc., vai se pautar por um sistema de cotas, repartindo cadeiras em função de raça e sexo, o princípio democrático tradicional perde automaticamente a validade. Estamos nesse caminho no Brasil. O primeiro grande passo foi estabelecer o regime de cotas no âmbito inicial das candidaturas: cada partido é obrigado a apresentar x% de candidatas mulheres ou de candidatos pretos, por exemplo. O passo seguinte, logicamente, e agora no rastro da experiência chilena, será fixar números de cadeiras por raça, sexo e orientação sexual, tornando as casas legislativas receptáculos pré-compartimentados a serem preenchidos segundo a natureza e a extensão de seus cômodos.

Sim: o Congresso se transformará numa casa de cômodos – alguns raciais, outros sexuais. E penso que uma nova eleição de Lula irá desembocar nisso. Na promulgação de separatrizes congressionais, de acordo com a base estatística de cada grupo social. Para quem protelava a iniciativa de qualquer reforma política, o que se anuncia no horizonte é uma tempestade e tanto. E para azar da democracia. É o fantasma do Estado fascista retornando ao palco. O corporativismo fascista se desdobra no corporativismo identitário. Com isso, pode ocorrer o seguinte: uma sociedade votar em peso na social-democracia, mas, em consequência de um acordo censitário, ter de aceitar 50% de candidatos homens, que, em sua maioria, podem ser de centro-direita. Bem, isso não é democracia, é representacionismo estatístico – ditadura diversitária.

O corporativismo fascista foi um sistema de representação de classes e grupos de interesse, com o objetivo de transcender tanto o individualismo quanto a luta interclassista. A finalidade última, como se sabe, seria consolidar instituições permanentes que abrigassem representantes das diversas classes, no caminho da realização da harmonia social. O corporativismo diversitário é uma retomada do corporativismo fascista em novas bases, com os antigos agrupamentos profissionais do projeto de Mussolini substituídos por segmentos raciais e sexuais, superando o individualismo da democracia liberal pelo grupocentrismo identitário. Teríamos um redimensionamento das instituições a partir de partilhas censitárias. A estatística reinará acima de tudo, como o grande princípio organizador do sistema político.

Alarga-se assim, sempre mais, o arco de ameaças à democracia representativa. É claro que alguma discussão poderá ser até enriquecedora. De minha parte, não vejo como ameaça a discussão que teremos de encarar na encruzilhada entre a democracia liberal e o neomandarinato meritocrático chinês, por exemplo. A China coloca um tremendo problema em nosso caminho – e não devemos tentar contorná-lo. Em “When China Rules the World”, Martin Jacques sublinha que o Estado chinês mantém uma relação com a sociedade muito diferente da nossa. “Desfruta de muito maior autoridade natural, legitimidade e respeito, muito embora nem um só voto tenha sido dado ao governo”. A cultura política chinesa é de base milenar. Como diz Zhang Weiwei, em “The China Wave”, é inimaginável que a maioria dos chineses aceite um sistema democrático multipartidário, com troca de governo a cada quatro anos. “A democracia é um valor universal – o sistema democrático ocidental, não”, escreve Weiwei.

Roberto Mangabeira concordaria. Mas ninguém pode afirmar categoricamente que a democracia ocidental não é exportável, ou que seja impossível promover sua imposição em países extraocidentais. O Japão nega isso. É modelo muito bem sucedido de democracia imposta pelas armas, em seguida à Segunda Guerra Mundial. Com a retomada de Cabul pelo Talibã, o fato foi negritado por Giovanni Sartori, em artigo no “Corriere della Sera”: “...o caso do Japão demonstra mais e melhor que qualquer outro que a democracia não é necessariamente vinculada ao sistema de crenças e valores da civilização ocidental. Os japoneses continuam culturalmente japoneses, mas prezam, ao mesmo tempo, o método ocidental de governo”. Talvez mais significativo ainda seja o caso da Índia, país que, com toda a sua heterogeneidade cultural, assimilou e adaptou o constitucionalismo britânico.

No polo oposto ao do multicultural-identitarismo, o pensador indiano Amartya Sen vai bem além disso. Em “Identity and Violence”, critica a insistência em compartimentar os povos do mundo em “boxes of civilizations”. É a grande ilusão da singularidade, diz. Povos e culturas têm suas especificidades, claro, mas não irredutibilidades fechadas em configurações definitivas, uniformes e segregadas. A visão que pretende fixar separatrizes insuperáveis entre civilizações não só dá as costas à história e passa ao largo da diversidade interna de cada complexo civilizacional, como fecha os olhos às múltiplas interrelações existentes entre civilizações distintas entre si. Com essa obsessão multiculturalista por separar drasticamente as coisas, obscurecemos a história, falsificamos a realidade e cometemos erros primários.

Sen argumenta exatamente com relação à democracia, que muitos teimam em definir como “uma ideia quintessencialmente ocidental e estranha ao mundo extraocidental”. Parte-se aqui da falsa crença de que a tolerância e a liberdade são características próprias e intransferíveis do Ocidente. Em resposta, Sen observa que o pensamento de Platão e o de Tomás de Aquino não eram em nada menos autoritários do que o de Confúcio. E lembra que, na mesma época em que hereges eram atirados nas fogueiras da Inquisição, o imperador indiano Akbar, o Grande Mugal, pregava a tolerância religiosa, assentando que toda pessoa tinha o direito de seguir a religião que quisesse.

Nessa batida, Sen vai acabar falando de “raízes planetárias” da democracia. Muito antes de ter qualquer impacto entre antigos povos nórdicos, ou no que é hoje a Inglaterra, a França ou a Alemanha, a experiência democrática pioneira da Grécia repercutiu em cidades asiáticas suas contemporâneas. Mais: a tradição do governar através do diálogo e da discussão pública é coisa encontrável historicamente em diversas partes do mundo.

No caso do Japão, cita-se a regência do príncipe budista Shotoku, promulgando uma constituição no século VII, como primeiro passo num caminho gradual para a democracia. Sen se refere ainda à ampla tolerância vigente na Península Ibérica sob domínio muçulmano, de que foi exemplo maior o Califado de Córdoba sob Abd al-Rahman III. O mundo ocidental não detém o monopólio da ideia democrática, finaliza o pensador: ao passo que as modernas formas institucionais da democracia são relativamente recentes em todos os lugares, a história da democracia, sob a forma de participação e discussão públicas, encontra-se disseminada no mundo.

Mas retomemos o fio da meada, voltando à China. O identitarismo poderá se derreter diante do brilho planetário do sol amarelo dos chineses. Caminhamos para uma horizontalização da ordem mundial, com a China no mesmo nível do Ocidente, em matéria de poder e riqueza. O multicultural-identitarismo vai cair em si enquanto fantasia ideológica essencialmente ocidental. Vai-se ver sem o macho branco como bode expiatório do mundo. Terá à sua frente o macho amarelo, que não deve nada ao macho preto. E com uma história milenar de opressões, que o identitarismo não julga, desde que nasceu exclusivamente para alvejar o “mundo branco”.

Mas vamos finalizar. As ameaças mais reais e imediatas à nossa democracia não vêm da China. São as ameaças do populismo autoritário de direita (a que mais de perto e perigosamente nos tensiona agora, com o ex-capitão boçal reunindo milicos, milícias e evangélicos para o golpe que não se cansa de anunciar) e do populismo autoritário de esquerda, que traz agora como novidade o projeto igualmente autoritário de uma “democracia diversitária”. (No Brasil, aliás, são os próprios partidos políticos, na disputa pelo poder, que paralisam a democracia). E aqui teremos de nos dispor, inclusive, a uma conversa muito pouco usual, embora já frequente nas reflexões de alguns pensadores e analistas políticos.

Trata-se de elucidar o que talvez seja mesmo o perigo maior: a radicalização extremista da democracia pode levar à sua destruição. Tocqueville já pensava nisso. Temos de acender a luz sobre o potencial autodestrutivo da democracia (acho curioso que pessoas se espantem com isso: se falamos do potencial autodestrutivo da humanidade, de que as armas nucleares são os produtos mais evidentes, por que não falar de uma coisa bem menos grave, que é o potencial autodestrutivo da democracia?).

De uma parte, porque podemos tomar o rumo de uma fragilização inédita das instituições sociais, como já vemos nos casos do sistema educacional e da negação absolutamente prematura da nação. De outra, porque a obsessão estatística do multicultural-identitarismo não deixa de descender, perversamente, do sonho igualitarista da Revolução Francesa. Quer levar o ideal do século 18 à perfeição, mas por um caminho que julgo totalmente equivocado, que é o do representacionismo estatístico.

Seja como for, o dado real, na conjuntura que estamos atravessando, é que o Estado identitário começa a se desenhar, diante de nossos olhos, como uma subvariante ou variante nova da organização estatal corporativa herdada do fascismo italiano. Bem vistas as coisas, depois da maré do “politicamente correto”, o representacionismo diversitário quer implantar, no campo da política, como disse, uma espécie de representacionismo estatístico. Uma ditadura censitária. Ou a ditadura do demograficamente correto. Tudo na base da cota. Na verdade, só não se fala de cota a propósito da seleção brasileira de futebol. Porque, nesse caso, o objetivo é ganhar o jogo. Não há lugar para comemorações negativas, nem para institucionalizações da compaixão.

*Antonio Risério é poeta e antropólogo, autor de, entre outros, “A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros”, “Sobre o Relativismo Pós-Moderno e a Fantasia Fascista da Esquerda Identitária” e “Em Busca da Nação”.

 

Antonio Riserio

 

Antonio Riserio