19 Janeiro 2023
Estudiosos se reúnem no instituto teológico administrado pelos jesuítas em Paris, Centre Sèvres, para analisar a contribuição e o lugar da Igreja nos sistemas democráticos.
A reportagem é de Auriane Guérin, publicada por La Croix, 17-01-2023. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“A Revolução Francesa não poderia ter acontecido se o clero não tivesse se aliado ao Terceiro Estado.” Essa é a afirmação de Paul Valadier, professor aposentado do instituto teológico de sua ordem jesuíta em Paris, Centre Sèvres. O teólogo de 80 anos fez a observação durante uma conferência realizada em 13 de janeiro pelo instituto sobre o tema “Igreja Católica e democracia”, que deu as linhas gerais para uma ampla discussão sobre o lugar da Igreja nos sistemas democráticos.
Além de Valadier, a conferência reuniu Bernard Bourdin, professor do Institut Catholique de Paris e diretor do Centre d'Études du Saulchoir; Lucien Jaume, professor associado de Filosofia, doutor em Ciência Política e diretor de pesquisa do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS); e Jean-Luc Pouthier, jornalista e professor, ex-assessor cultural da Embaixada da França na Santa Sé.
Bourdin, que fala de um ponto de vista que pretende ser “magisterial”, disse que “a Igreja integrou o conceito democrático”. Ele justificou explicando que com o Concílio Vaticano II – que o Papa João XXIII abriu em outubro de 1962 e Paulo VI concluiu em dezembro de 1965 – estamos assistindo a um retorno à reflexão política “que vê o desvelar de uma concepção católica de democracia”. Bourdin argumentou que a Igreja passou por uma “evolução deslumbrante” desde o século XIX.
Jean-Luc Pouthier disse que é preciso estudar os vínculos entre a Igreja e a democracia para definir esta última. Ele definiu o conceito de “democracia moderna” como qualquer sistema político no qual o povo é soberano. É então “um governo do povo, pelo povo e para o povo”.
Como tal, de acordo com Valadier, “o catolicismo deu uma contribuição inegável para a democracia”. Ele defendeu esta ideia com a concepção universal da pessoa formando a unidade da raça humana levada pela Igreja Católica. “Esta afirmação dá frutos à democracia”, disse o jesuíta. “As democracias não nascem caindo do céu!”, ele acrescentou, arrancando risadas.
Sobre a questão da autoridade da Igreja na sociedade democrática, Lucien Jaume defendeu a ideia de que essa autoridade depende de sua legitimidade. “A Igreja é uma autoridade excepcional”, disse ele, na medida em que é uma instituição de muito longo prazo.
Entre os participantes da conferência estava Colette, de 81 anos, uma das ex-alunas de Valadier. “O assunto me chamou a atenção, é uma pergunta real que eu me faço”, confidenciou.
Após as várias apresentações, a discussão tornou-se mais explicativa do que contraditória. Surgiu a ideia de que a democracia, que postula a igualdade de todos os cidadãos, desconfia das hierarquias, sejam elas quais forem.
Embora a Igreja Católica seja uma sociedade hierárquica e possa não parecer muito compatível com as práticas democráticas, a realidade eclesial inclui mais elementos democráticos do que se poderia pensar. Além disso, segundo os quatro oradores, a democracia é um regime que, no entanto, necessita de uma relação com a transcendência para ter uma certa autoridade.
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Os complexos vínculos entre a Igreja Católica e a democracia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU