18 Outubro 2022
"O sínodo em curso é o caminho certo para essa 'mudança' pedida pelo Papa Francisco, mas deve nos conduzir – sem pressa – a um novo Concílio: um Vaticano III, ou um concílio celebrado em Jerusalém ou em outro lugar", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 17-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Recorda-se nestes dias, sessenta anos depois, o início daquele grande evento (definido por João Paulo II como "a maior graça que o Senhor deu à igreja no século XX”) que foi o Concílio Vaticano II. O Papa Francisco não só o recordou na Basílica de São Pedro, mas novamente convidou a Igreja a viver do espírito do Concílio, "a rejeitar a tentação de fechar-se nos recintos das próprias convicções". A Igreja, de fato, conhece divisões e repúdios mútuos enquanto enfrenta conscientemente os desafios inéditos, que a colocam na incerteza e na confusão.
Um consenso geral ao Concílio Vaticano II pode ser atestado, mesmo que algumas franjas não lhe reconheçam a devida autoridade e ainda que algumas intuições conciliares não tenham sido realizadas. No entanto, as novas gerações não sabem nem o que é o Concílio ou o que o Concílio deixou de herança, que parece ser um evento do passado, enquanto a leitura do presente da história parece exigir muito mais.
Várias revoluções ocorreram entre os anos do Concílio e nosso tempo, e são muitas as problemáticas que despontam pela primeira vez em nossa história.
Assim, somos conscientes de que, mesmo nos referindo ao Vaticano II, devemos renovar a dinâmica conciliar vivida durante aqueles três anos de celebração. O sínodo em curso é o caminho certo para essa “mudança” pedida pelo Papa Francisco, mas deve nos conduzir – sem pressa – a um novo Concílio: um Vaticano III, ou um concílio celebrado em Jerusalém ou em outro lugar. Nos anos 1990, em que me encontrava assiduamente com o Cardeal Martini, ouvi essa hipótese várias vezes de seus lábios. No Sínodo dos Bispos de 1999, Martini a manifestou, chegando a explicitar algumas urgências: a falta de presbíteros e, portanto, de pastores para a Igreja, a lei do celibato ligado ao ministério, a posição da mulher na Igreja, uma revisão da ética sexual tradicional.
Sobre a conveniência de convocar um concílio naqueles tempos, não concordei com Martini. Mas vinte anos se passaram desde então e houve grandes mudanças na Igreja. Só um concílio ecumênico pode ter autoridade para discernir e acolher as mudanças exigidas pelo povo de Deus e ajudar toda a Igreja a crescer. O sínodo que está sendo vivido e que o Papa estendeu ontem, prevendo mais uma sessão em 2024, pode ser uma preparação.
Os problemas que chamamos de "inéditos" muitas vezes não são realmente novos, mas no passado não quisemos prestar-lhes atenção. Em 1929, em 7 de outubro, Pierre Teilhard de Chardin escrevia em uma carta:
"Parece-me que na igreja atual existem três obstáculos perigosos e tropeços: o primeiro é um governo que exclui toda forma de democracia, o segundo é um sacerdócio que exclui a mulher, o terceiro é uma revelação que exclui para o futuro uma profecia”. Teilhard, visionário e profeta, já há cem anos lia as urgências que hoje temos que enfrentar.