29 Setembro 2022
"Ele [Bolsonaro] chegou a elogiar Hugo Chávez pelo jeito milicão de governar a Venezuela, disse que sonegava tudo o que podia, e criticou as privatizações promovidas pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem queria, inclusive, vê-lo morto. Hoje, manda seus desafetos para a Venezuela, precisa de impostos e privatiza o país", afirma Edelberto Behs, jornalista.
Vestir a camiseta canarinho da Seleção Brasileira no período da Copa do Mundo deste ano, mesmo passado o período eleitoral, será constrangedor para uma boa parcela da população brasileira. A camiseta, e o pior, a bandeira do Brasil, um símbolo nacional, foram apropriadas indevidamente por uma candidatura.
Para um candidato que não sustenta um pronunciamento por mais de cinco minutos por falta de cacife, ou que nunca teve uma bandeira autóctone a defender, só pode mesmo usurpar um símbolo nacional para se mostrar patriota. A trajetória histórica do candidato deixa isso claro.
O capitão, então não mais capitão, ingressou na vida política em 1989, depois de ter que sair do Exército pela porta dos fundos. Foi eleito vereador no Rio de Janeiro neste ano pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Dois anos depois, em 1991, concorreu a uma vaga para a Câmara Federal e foi eleito.
Em 1993, o PDC fundiu-se com o Partido Democrático Social (PDS), dando origem ao Partido Progressista Reformador (PPR). Dois anos depois, mais uma fusão: do PPR com o Partido Progressista, formando o Partido Progressista Brasileiro (PPB). O “capitão” cumpriu o seu segundo e terceiro mandatos como deputado federal sob essa sigla.
Mas em 2003, o “capitão” desembarcou do PPB para ingressar no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), nele permanecendo até 2005, quando embarcou no Partido da Frente Liberal, que depois virou DEM e agora, fusionado com o PSL, é o União Brasil.
A passagem do “capitão” pelo PTB foi meteórica. De 2005 a 2016 ele esteve filiado ao Partido Progressista (PP), onde permaneceu por 11 anos, o maior período numa mesma legenda. De 2016 a 2018, para o seu sétimo mandato como deputado, estava filiado ao Partido Social Liberal (PSL), pelo qual chegou ao Palácio do Planalto.
Um ano depois, desentendeu-se com o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, e anunciou o seu desligamento. Quis fundar um partido dele, o Aliança pelo Brasil. Tentativa frustrada, porque não conseguiu reunir o número de assinaturas necessárias para a criação de uma nova legenda.
Candidato à reeleição pelo Partido Libertador (PL), o camaleão passou por oito agremiações, o que dá uma amostra do quanto ele é coerente e tem uma linha política determinada. Nessa sua trajetória, ele chegou a elogiar Hugo Chávez pelo jeito milicão de governar a Venezuela, disse que sonegava tudo o que podia, e criticou as privatizações promovidas pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem queria, inclusive, vê-lo morto. Hoje, manda seus desafetos para a Venezuela, precisa de impostos e privatiza o país.
Então, eleitor/a de Bolsonaro na campanha de 2018 apertou o número 17 na cabina eletrônica. Agora, ele concorre pelo 22. Talvez esse seja o motivo para que ele tanto queira as urnas auditadas. Vá que algumas delas ainda guardem na memória o 17 na eleição deste ano!
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Bolsonaro, um camaleão político. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU