19 Setembro 2022
"O que me espanta é que a propor essa modalidade sejam as mesmas forças soberanistas e nacionalistas, patrióticas e asfixiantes que não conseguem ouvir o batimento cardíaco de meninas, meninos (e adultos) que atravessam o deserto, os campos de concentração líbios e o Mediterrâneo", escreve Tonio Dell'Olio, padre, jornalista e presidente da associação Pro Civitate Christiana, em artigo publicado por Mosaico di Pace, 16-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Precisamos refletir muito seriamente sobre aquela escolha, introduzida na Hungria e proposta na Itália, de fazer as mães ouvirem as batidas do coração dos fetos antes de prosseguir com a interrupção da gravidez. Para além das razões e intenções com que tal prática é introduzida, é sem dúvida de grande impacto.
Se para alguns é questionável e, no mínimo, de mau gosto, para outros é o ritmo (do coração) que reconduz à realidade ou que interroga emocionalmente as consciências. O que me espanta é que a propor essa modalidade sejam as mesmas forças soberanistas e nacionalistas, patrióticas e asfixiantes que não conseguem ouvir o batimento cardíaco de meninas, meninos (e adultos) que atravessam o deserto, os campos de concentração líbios e o Mediterrâneo movidos pelo desespero ou que percorrem a rota balcânica com o peso de sofrimentos atrozes, fugindo do batimento necrófilo dos canhões. Talvez para os batimentos daquelas crianças não exista uma ecografia da consciência para fazer a vida gritar e marcar ritmicamente sua sede de sobrevivência.
Vidas abortadas pela sede de ganho de quem vende armas, de quem busca poder, de quem persegue lucros cada vez maiores e não se importa com os batimentos do coração das vítimas.
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Os batimentos do coração das crianças. Artigo de Tonio Dell'Olio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU