Amem seus inimigos!

Abraço | Foto: unsplash

Mais Lidos

  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS
  • Diaconato feminino: uma questão de gênero? Artigo de Giuseppe Lorizio

    LER MAIS
  • Venezuela: Trump desferiu mais um xeque, mas não haverá xeque-mate. Artigo de Victor Alvarez

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Setembro 2022

 

"A única maneira de amar os inimigos - opressores do povo - é ser contra o seu projeto de vida", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.

 

Eis o artigo. 

 

Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame seu próximo e odeie seu inimigo’. Eu, porém, lhes digo: Amem seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês sejam filhos/as de seu Pai que está no céu. Porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos” (Mt 5,43-45).

 

O amor que Jesus de Nazaré nos pede é um amor sem limites, é um amor que não exclui ninguém, é um amor radical.

 

Ora, se Jesus nos pede para amar os nossos inimigos, quer dizer que existem inimigos e que nós temos inimigos. Enquanto seguidores e seguidoras de Jesus, perguntemo-nos: quais são os nossos inimigos? A resposta é clara: são todos aqueles/as que com sua maneira de agir e pensar sustentam e reproduzem um projeto de sociedade e de mundo (a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum) estruturalmente iníquo, perverso, injusto, desumano, antiético e anticristão: o Anti-Reino de Deus.

 

No meio político - sobretudo político-partidário - costuma-se dizer: “os políticos que pensam diferentemente de nós devem ser tratados como adversários e não como inimigos”. Não é bem assim! Essa afirmação precisa ser esclarecida. Vejamos!

 

Como seres humanos temos fundamentalmente dois projetos de vida para nós mesmos e para o mundo: um projeto humano natural (e natural humano) que humaniza naturalizando (e naturaliza humanizando), e um projeto desumano antinatural (e antinatural desumano) que desumaniza desnaturalizando (e desnaturaliza desumanizando). É o projeto ético e o projeto antiético, que - à luz da fé - é também projeto cristão ou projeto anticristão: o Reino de Deus ou o Anti-Reino de Deus.

 

Os/as que nos comprometemos com o primeiro projeto somos objetivamente inimigos/as dos/as que se comprometem com o segundo projeto. Entre nós podemos ter diferenças e divergências quanto aos passos a serem dados e aos meios a serem utilizados para fazer acontecer o projeto na história do ser humano e do mundo. Porém, por termos o mesmo projeto, somos adversários e não inimigos.

 

Concretamente, os/as que nos comprometemos com o Projeto Social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religioso) Popular (projeto fraterno, comunitário e socialista) somos objetivamente inimigos/as dos/as que se comprometem com o Projeto Capitalista Neoliberal. Não há possibilidade de aliança (que é comunhão de projetos), mas somente de acordos pontuais em casos muito especiais e, às vezes, por motivos opostos.

 

Exemplificando, entre os/as que estão comprometidos/as com Projeto Capitalista Neoliberal e que, portanto, são nossos inimigos e inimigas - temos:

 

· Os que se apresentam como pessoas de bem e - com a maior frieza e indiferença - defendem e apoiam o trabalho escravo doméstico, rural e empresarial. · Os que - adoradores do deus dinheiro (o deus capital) - de maneira cruel e perversa, exploram os trabalhadores/as com salários miseráveis. No mundo - conforme foi amplamente divulgado - temos atualmente 828 milhões de pessoas passando fome; destas, mais de 33 milhões somente no Brasil. As 8 pessoas mais ricas do mundo possuem tantos bens quanto a metade da população mais pobre (3,6 bilhões de pessoas). As 5 pessoas mais ricas do Brasil têm um patrimônio igual à renda da metade da população mais pobre. Na grande Goiânia, o número de pessoas em situação de pobreza extrema é atualmente de mais de 500 mil pessoas. Quanta desigualdade, injustiça, fome, miséria, falta de moradia, de trabalho e de condições de vida digna para a maioria do povo! É o pecado social ou estrutural institucionalizado e legalizado!

 

· Os magistrados - juízes e desembargadores - que, com a maior insensibilidade e o maior descaramento, aumentam seus próprios salários, recebendo - muitos deles - mais de R$ 100.000 por mês. Como podemos confiar na justiça desses magistrados?

 

Todas essas pessoas e outras não são somente nossos adversários, mas nossos inimigos. Apesar disso, como seres humanos e, sobretudo, como cristãos e cristãs (radicalmente seres humanos) devemos amá-las, orar a Deus por elas e pedir por sua conversão (como aconteceu com Zaqueu no encontro com Jesus). Lembremos: a única maneira de amar os inimigos - opressores do povo - é ser contra o seu projeto de vida.

 

Por fim, nas próximas eleições, antes de votar perguntemo-nos: dentro daquilo que “as condições objetivas nos permitem hoje”, quais são os partidos e os candidatos/as realmente comprometidos/as com o Projeto Popular? Votemos nesses partidos e nesses candidatos/as!

 

Leia mais